Em época de tempo frio, é muito comum que a imunidade esteja mais frágil e a respiração fique um pouco mais ofegante ou até mesmo que uma tosse apareça. Porém, essa situação pode ser mais séria do que parece, principalmente se o paciente tiver o costume de utilizar cigarro eletrônico. É o caso do ‘pulmão de pipoca’, doença pulmonar rara que acende alerta sobre o uso de vapes.

De acordo com a pneumologista e cirurgiã torácica Ana Paula da Silva de Amorim, da Clínica São Vicente, o termo ‘pulmão de pipoca’ se refere a bronquiolite obliterante, uma doença que provoca inflamação e obstrução dos bronquíolos, levando à fibrose e à dificuldade respiratória crônica. “O termo ‘pulmão de pipoca’ surgiu após casos registrados entre trabalhadores de fábricas de pipoca de micro-ondas, expostos ao diacetil, um aromatizante artificial de manteiga”, explica a médica.

‘Pulmão de pipoca’: Uma doença rara e grave ocasionada pelo uso de vapes
Foto: Divulgação. A doutora Ana Paula declara que os sintomas podem se assemelhar a outras doenças.

Segundo a doutora, essa condição é causada após a inalação de substâncias tóxicas que lesam os bronquíolos. A substância mais comum é o diacetil, que está presente em alguns líquidos aromatizados usados nos cigarros eletrônicos. “Embora seu uso tenha sido restrito em vários países, análises revelam que muitos líquidos de vape/cigarro eletrônico ainda contêm diacetil, muitas vezes sem indicação no rótulo”, descreve.

Os principais sintomas do ‘pulmão de pipoca’ são: tosse seca persistente; falta de ar aos esforços (dispneia progressiva); chiado no peito (sibilância); fadiga (cansaço); e sensação de aperto no peito (de origem não cardíaca). A doutora Ana Paula cita que esses sintomas se assemelham a condições como asma ou à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), mas que geralmente não respondem a broncodilatadores.

“Adolescentes e jovens adultos são os mais afetados atualmente, devido ao uso crescente de cigarros eletrônicos, especialmente os com sabores. Não há cura definitiva, mas é possível controlar os sintomas e retardar a progressão com a suspensão imediata da exposição, ao interromper o uso de vape; além do uso de corticoides e imunossupressores. Em casos graves, pode ser indicado até transplante pulmonar”, destaca.

A especialista informa que para obter o diagnóstico da bronquiolite obliterante, é preciso verificar a história clínica do paciente, para saber se há exposição e inalação de substâncias tóxicas. Além disso, é necessário realizar exames como uma tomografia de tórax de alta resolução, mostrando aprisionamento aéreo compatível; espirometria, com padrão obstrutivo grave; e em alguns casos, a biópsia pulmonar é necessária para confirmação histopatológica.

Além do ‘pulmão de pipoca’, o uso de cigarro eletrônico, ou ‘vape’, pode apresentar outros riscos à saúde como EVALI, lesão pulmonar associada ao vape; bronquite crônica e piora de asma; danos cardiovasculares; dependência de nicotina; e exposição a metais pesados, formaldeído e acroleína.

“O cigarro tradicional causa várias doenças pulmonares graves (DPOC, bronquite crônica, câncer), mas raramente está associado à bronquiolite obliterante. Isso porque não contém diacetil em altas concentrações, ao contrário de muitos líquidos de vape aromatizados”, finaliza a médica.

Serviço

A pneumologista e cirurgiã torácica Ana Paula da Silva de Amorim atua com o CRM 48956 e RQE 34576 na Clínica São Vicente, que está localizada na Rua São Vicente de Paulo, n.º 250, no Centro. O telefone para contato (físico e WhatsApp) é (41) 3552-4000.

Edição n.º 1472. Victória Malinowski.