Mês da pipoca, mês do Olubajé. Agosto chega, para alguns o mês mais longo do ano. Para quem caminha pela trilha da espiritualidade ancestral africana, agosto não é apenas um mês: é um portal de cura e conexão com o “Senhor da terra”. Um tempo de silêncio e força. Um mês espiritualmente denso, sim, mas profundamente poderoso para curas físicas, espirituais e emocionais.

Nas tradições dos povos de terreiro, especialmente no Candomblé das nações Ketu e Angola, o mês de agosto é dedicado às divindades africanas ligadas à saúde e à cura: Obaluaê, Omolu, Kavungo. No Batuque do Rio Grande do Sul, a representação dessa mesma energia sagrada se manifesta como Xapanã.

Essas divindades têm algo em comum: são representadas por uma figura masculina coberta por palhas da costa. A palha esconde, protege e revela. É símbolo do sagrado que não se mostra de qualquer forma, pois guarda os mistérios da doença e da cura, da vida e da morte.

Conta-se que Obaluaê, antes de se cobrir com palhas, era um jovem rejeitado por seu próprio povo por conta de suas feridas no corpo. Foi acolhido por Iemanjá e, com o tempo, suas chagas foram transformadas. A palha então passou a esconder as marcas da dor e, ao mesmo tempo, revelar sua realeza e poder espiritual.

Omolu é a forma mais velha e madura de Obaluaê na nação Ketu. Já Kavungo, nos cultos Bantu da Angola, é o Nkisi da cura e da medicina ancestral, com domínio sobre as energias da terra e da regeneração. Xapanã, no Batuque, também guarda esses atributos, sendo temido e reverenciado por lidar com doenças, pestes e também com as curas mais profundas.

O Olubajé é a grande celebração em honra a essas divindades. É a “festa do rei”, onde se oferece alimentos ritualísticos, sobretudo a pipoca — doburu — que simboliza a transformação do milho cru (duro e estéril) em alimento leve, puro e expandido. Ao estourar, a pipoca representa o renascimento, o poder de transmutar a dor em cura, festa da manutenção da saúde de toda a comunidade do terreiro.

Por isso, em muitos terreiros e tradições espirituais, um banho de pipoca é indicado para pessoas que precisam de limpeza energética profunda. O preparo é simples, mas sagrado: estoure pipocas sem sal e sem óleo, com areia, reze sobre elas, e com as mãos vá passando delicadamente no corpo, da cabeça aos pés, pedindo que toda dor, doença ou energia negativa sejam absorvidas. Depois, descarte as pipocas em um jardim, mato ou na natureza, agradecendo à força de Obaluaê.

Agosto é o mês do recolhimento interior. É quando os ventos sopram segredos antigos. Se você estiver atento, poderá ouvir o chamado da cura do dono da terra. Atotô Obaluaê! Que a força da palha sagrada te envolva, te cure e te transforme. Se gostou desse conteúdo, me acompanhe nas redes sociais: @tarodafortuna.

Edição n.º 1476.