No último dia 4 de setembro, a Irmã Ludovina Bertuoli completou 100 anos de vida, dos quais 83 foram inteiramente dedicados à vida religiosa. Natural de uma família católica com 12 irmãos, ela trilhou desde cedo o caminho da fé e do serviço.

Nascida em 1925, Ludovina pediu aos 17 anos autorização aos pais para se tornar freira. O episódio, ela relembra com emoção, teve a intercessão de seu santo de devoção. “Eu pedi força a São José, e ele me ajudou a ter coragem para dizer à minha mãe: ‘eu quero ser irmã e não tenho medo’.”

O início de sua caminhada se deu em Cotegipe, no Rio Grande do Sul, mas foi em Curitiba que, aos 18 anos, vestiu o hábito pela primeira vez e passou a integrar a congregação das Filhas da Caridade, reconhecida pelo trabalho junto aos mais pobres. “A motivação sempre foi essa: servir aos pobres. Esse era o desejo”, conta.

VIDA ENTREGUE A DEUS E AO PRÓXIMO

A trajetória religiosa levou a Irmã Ludovina a diferentes missões. Trabalhou com crianças, com irmãs idosas, em hospitais e comunidades do interior do Paraná. Esteve em Laranjeiras do Sul, no Hospital do Trabalhador, ainda na época em que era sanatório de tuberculosos, no Hospital São Vicente em Araucária e também no Hospital de Ribeirão do Pinhal, onde permaneceu por 17 anos. “Eu não reclamava, nós seguíamos as ordens porque acreditávamos que esse era o nosso trabalho. Para onde mandassem a gente ia”, recorda.

De Ribeirão do Pinhal, guarda lembranças especiais. Com poucos funcionários e voltado aos mais pobres, o hospital cresceu também com sua dedicação. Apesar da vida intensa, a realidade fora da congregação era distante. “A gente só sabia das notícias do mundo por um radinho que ganhei de um senhor. Era assim que ouvimos falar de guerras e doenças. Mas, no hospital, o trabalho não parava.”

Irmã Ludovina Bertuoli celebra 100 anos de vida e 83 de missão religiosa
Foto: Maria Antônia. Comemoração do aniversário de 100 anos da Irmã Ludovina

Atualmente, a Irmã Ludovina vive na Casa Betânia, que fica no bairro São Miguel, em Araucária, destinada ao cuidado das irmãs idosas. É lá que, junto de sua irmã de 95 anos, também religiosa, celebrou seu centenário no dia 6 de setembro. Na casa, ela comanda a panificadora, de onde saem pães e bolachas que encantam a comunidade.

Entre as memórias, destaca a visita à Capela da Medalha Milagrosa, em Paris, local da aparição de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré. “A emoção foi grande, nunca imaginava conhecer o local onde Nossa Senhora apareceu e falou com Santa Catarina. Foi um momento único”, relembrou a irmã.

Ao completar 100 anos, a Irmã Ludovina resume sua vida com serenidade. “Sempre me senti satisfeita e realizada em tudo o que fiz na minha vida.” Sobre a longevidade, brinca: “O segredo é não morrer jovem.” E deixa também um conselho: “Você que é aposentado, não pare. Trabalhe a mente, procure coisas para se distrair. Uma mente ocupada deixa a gente mais forte.”

Fiel à sua vocação e amparada pela fé, a religiosa garante que faria tudo novamente. “Fui sempre guiada pelos superiores e pela palavra divina. São José sempre esteve comigo, e sigo sem medo”, finaliza.

Familiares visitaram a Casa Betânia para comemorar o centenário da irmã, que entregou sua vida toda a vocação religiosa.

Edição n.º 1482. Maria Antônia.