No dia 06 de janeiro de 1921, numa quinta-feira, o jornal Diário da Tarde publicou uma carta de uma moradora de Araucária. Era o início de um interessante debate. Com o título “A Desnacionalização de Araucária”, a moradora, não identificada pelo jornal, manifesta sua contrariedade com relação à criação das escolas particulares polacas, onde, sempre de acordo com a moradora, professores e professoras estariam priorizando a cultura estrangeira em detrimento da cultura nacional.
A resposta não demorou muito, na quinta-feira seguinte, dia 13, um outro autor, também não identificado pelo jornal, publicou um artigo com o título “As escolas polacas em Araucária”, onde replicou as críticas publicadas no mesmo jornal. Em resposta, “o autor defende a manutenção das escolas estrangeiras, bem como do ensino complementar da língua polonesa e diz que os professores estão habilitados para o exercício do magistério.”

A Desnacionalização
de Araucária.

“A população local vem dia a dia, assistindo mais a diffusão e intensificação dos costumes e idiomas polacos, que aqui se arraigam á proporção que cresce o numero de escolas particulares polacas creadas clandestinamente no municipio e refractarios ás disposições do novo Codigo de Ensino.

Fazendo concurrencia as Escolas publicas temos escolas polacas em Thomaz Coelho, Campestre, Campina, Costeira, por todos os recantos do municipio e até dentro da cidade, fazendo concurrencia ao ensino nacional porque os responssaveis de quasi toda a população escolar deste municipio são polacos, aqui domiciliados desde a grande data da nacionalização, e que por ignorancia inadmissivel ou por affrontosa pirataria, depois da victoria dos alliados não querem consentir que seus filhos, nettos, ou empregados frequentem as nossas escolas! buscando em grande romaria as escolas polacas.

Agora, a Sociedade Polaca, aqui, na séde determinou um concurso para professores de polaco, cujos exames presididos pelo respectivo consul, se estão realizando inteiramente isolados da assistencia ou conhecimentos das autoridades locaes.

Na povoação de Campinas, tivemos occasião já de ver, em um pic-nic, ali realizado, pelos chefes da antiga colonia , que todos e tudo se chavam (?) ataviados com signaes e bandeiras officiaes polonesas em profussão, se observando a ausencia plena de tudo que seja nacional, ostentando ainda, a entrada em arco o pavilhão polaco.

Os nossos professores publicos luctam neste municipio para conseguir causa (?) e frequencia para suas escolas, emquanto as escolas particulares estão prenhes de creanças dos dous sexos que alli treinam com acryssolado amor, os hymnos e canções polacos, afastados dos nossos sentimentos patrioticos, ignorando as leis e datas nacionais!

São essas escolas uma Polonia em miniatura onde a lingua nacional é inteiramente desconhecida, onde tudo, até os recibos das mensalidades pagas são timbrados com as armas da Polonia.

Levamos estes factos ao conhecimento do exmo. sr. dr. Presidente do Estado, por intermedio do Illustre inspector geral de Ensino, pedindo se mande pôr côbro a esse abuso em pleno meridiano, aqui perto do coração do Estado, apoiando o nobre gesto de s. exa. Para que a reforma do Ensino não trepide diante das arbitrariedades dessa gente que não pode encontrar a menor razão para assim proceder contra o ensino nacional infringindo a tolerancia e a Constituição de um paiz que lhes assegurou hospitalidade e a reforma do ensino para lograr a nossa aspiração.”

AUTORA DESCONHECIDA. A desnacionalização de Araucária. Curitiba: Jornal da Tarde, 06 de janeiro de 1921, Ano XXII, nº 6793.
As escolas polacas em Araucária
‘Recebemos o seguinte:

  • Esse conceituado jornal publicou, ha poucos dias uma carta procedente de Araucária, na qual é implorada a attenção do governo para as escolas polacas, considerando a missivista um perigo para a pátria a diffusão do ensino no Brasil por professores que não sejam brasileiros.
    Se a pessoa que enviou essa informação não tivesse interesse particular em tecer uma intriga em torno do assumpto para justificar talvez as faltas que premeditadamente está nos seus planos, não se insurgiria contra a organização das escolas polacas nos centros coloniais, tanto mais conhecendo o programma de ensino nellas adoptado.
  • Não é verdade que em Araucária tenha sido aberto um concurso para professores das escolas particulares. Ahi se estabeleceu um curso para o preparo de professores em que são ensinados os modernos methodos pedagogicos, hygiene, etc. para applicação nas escolas ruraes.
    Fundada a sociedade, que tem o titulo “Organização profissional dos professores particulares no Brasil”, a primeira medida que tomou foi a de ligar (?) os professores e conhecer da competencia de cada um, instruindo-os naquilo em que seus conhecimento fossem defficientes. Como ponto de orientação a sociedade tomou a seu cargo a aquisição de todos os recursos para a manutenção de escolas particulares, principalmente naqueles pontos colonisados onde não há escolas officiaes.
    As escolas são na verdade dirigidas por professores ou professoras polonezes, ou dessa origem, mas respeitam, obedecem e até ultrapassam as exigencias da lei do Estado do Paraná. O curso dessas escolas tem o ensino da lingua portugueza, geographia e historia do Brasil, arithemetica explicada em portuguez, canto do himno nacional brasileiro e de outros himnos patrioticos. A lingua polaca não pode ser excluida, porque essa é a que as crianças sabem visto que no lar do colono outra não é usada, e se da Polonia se ensina a sua historia e os seus hymnos é para que a patria martyrizada de origem e as cousas tradicionaes completem o ensino rudimentar e desperte no espirito da criança o interesse pelo que existe no mundo.
    Essa escolas não pregam religião, nem combatem a fé de ninguém, são laicas e só visam o ensino commum ás crianças. As autoridades paranaenses, reflectindo bem, somente podem se convencer de que essas escolas vem prestar grandes beneficios a esse poderoso Estado, porquanto o mal não está na lingua ou na origem individual, mas unicamente no analphabetismo.
    Agradeço muito captivo a publicação destas linhas.’
    AUTOR DESCONHECIDO. As escolas polacas em Araucária. Curitiba: Jornal da Tarde, 13 de janeiro de 1921, Ano XXII, nº 6799.

Edição n.º 1496.