Araucária PR, , 23°C

Antes de apontarmos o pai da criança é importante entendermos quem é o possível órfão: Pessoas que passam pelo processo de alfabetização, que aprenderam a identificar os códigos da comunicação escrita, mas que, porém, não desenvolveram habilidades interpretativas, capacidade de síntese, de leitura crítica. Esse é o analfabeto funcional, uma espécie que tem se multiplicado em nosso país, onde muito se fala, mas pouco se faz para efetivar o controle e a erradicação desse problema.

Na verdade, o pai da criança existe, mas é daqueles que só aparece para tirar foto no dia da formatura e depois some, é daqueles mantenedores que quando muito, ficam à distância alimentando o filho com o básico, que paga somente o que o juiz determina e quando consegue, omite outras rendas só para não ter que aumentar o valor da pensão. Se o pai é fujão, as cobranças sobre a vida desse sujeito recairão sobre a mãe, que não foge à luta.

Há tempos o Estado tem agido feito pai negligente, abandonando professores e professoras, tal qual, mães solteiras que se sacrificam em prol dos pequenos. Não suficiente quando os resultados o denunciam ele pratica algo similar ao assedio parental, tenta desqualificar publicamente e imputar aos mestres o insucesso dos aprendizes.

Nossa sociedade tem o mal hábito de analisar as relações sociais de maneira fragmentada, há dificuldade em entender o mundo de forma sistêmica, avalia-se a escola e os resultados sem considerar o entorno social do aluno, sua estrutura familiar, econômica, emocional e cognitiva. Esses pormenores não são relevantes para os gestores, pois depõem contra, mas é justamente essa realidade que dita o ritmo dentro dos muros escolares. A máquina pública consegue manter-se insensível diante das misérias humanas, a máquina é fria, distante, o professor não! Não tem como dar continuidade a uma aula enquanto o aluno chora abalado com a crise em casa, enquanto o outro agride o colega, como mera reprodução da forma que ele mesmo é tratado, enquanto o outro é vítima de bullyng devido à falta de higiene pessoal, pois cortaram a água e a luz. A máquina não somatiza, ela calcula resultados e quando não são positivos ela forja, transformando o professor em cúmplice e logo em seguida em culpado. Há problemas sim, e como não haveria se a escola pública é uma ilha cercada de caos social?

Afirmar que o problema da Educação são os professores é desconhecer a realidade, é ignorar inclusive, que muitos deles são referências em escolas particulares. A Escola não suporta mais absorver as demandas negligenciadas fora dela, para cada pergunta sem resposta, há sempre alguém para afirmar: “Isso deveria estar no currículo escolar! ”. Há um bombardeio de transversalidade. Temos uma instituição confusa, ou melhor, confundida por gestores que revezam entre o desconhecimento e a má fé. Enquanto essa realidade não for assumida e modificada a escola continuará sendo uma ferramenta de exceção, pois a alfabetização plena depende principalmente de um aluno pleno em seus direitos, de outro modo, o Estado continuará gerando analfabetos funcionais e professores adoecidos.

Publicado na edição 1167 – 13/06/2019

Analfabeto funcional quem é o pai dessa criança?

Leia outras notícias