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Máquina faz as vezes de um rim artificial e mantém muitos pacientes renais crônicos vivos, enquanto aguardam pelo transplante. Foto: divulgação
Araucarienses relatam o cotidiano de quem tem doença renal crônica
Máquina faz as vezes de um rim artificial e mantém muitos pacientes renais crônicos vivos, enquanto aguardam pelo transplante. Foto: divulgação

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), um em cada 10 brasileiros sofre com algum tipo de doença renal. O problema afeta principalmente pessoas com comorbidades, como pressão alta, diabetes e obesidade. Outro fator de risco apontado pela SBN é o envelhecimento: de acordo com a organização, estudos apontam que a partir dos 35 anos, o indivíduo passa a perder cerca de 1% da sua função renal. Em Araucária, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), em torno de 55 pacientes renais realizam hemodiálise na clínica de Campo Largo ou em outras clínicas em Curitiba, com a garantia de transporte fornecido pelo Município. Em breve, esses pacientes serão atendidos em Araucária, através da Clínica de Diálise, que será administrada pela Fundação Pró Renal. “A clínica nova, que vai atender quase 100% pelo SUS, já está pronta e equipada, depende somente de questões relacionadas à documentação para poder ser inaugurada”, explicou a SMSA.

Ainda de acordo com a secretaria, atualmente a unidade de saúde é a porta de entrada do usuário. O médico ou enfermeiro solicita exames e através destes, se avaliados com alteração, o paciente é encaminhado para atenção secundária, especialista, nefrologista, e se necessário, outros especialistas também irão avaliar o comprometimento renal através de exames mais específicos.

A rotina cansativa da hemodiálise

Os problemas renais afetam milhões de pessoas, e para ampliar a discussão sobre prevenção e tratamentos, anualmente comemora-se o Dia Mundial do Rim na segunda quinta-feira de março. Neste ano, o dia comemorativo é hoje, 11 de março. E para mostrar a triste rotina de tratamento enfrentada por um paciente renal, o Jornal Popular conversou com dois araucarienses que atualmente estão em tratamento pela rede municipal de saúde, e fazem sessões de hemodiálise em Campo Largo.

O aposentado Ubiraci Cordeiro da Roza, 41 anos, morador do bairro Boqueirão, conta que há 11 anos foi diagnosticado com Glomerulonefrite, uma inflamação do glomérulo, unidade funcional do rim formada por um emaranhado de capilares, onde ocorrem a filtragem do sangue e a formação da urina. Desde então, iniciou sessões de hemodiálise três vezes por semana. Ubiraci fica quatro horas preso a uma máquina, que filtra seu sangue e funciona como um rim artificial. Ele já está na fila do transplante, mas disse que foi vontade própria e não indicação médica.

“É uma rotina cansativa, que mudou minha vida completamente. O tratamento traz muitas consequências. Por ser portador de insuficiência renal crônica é tudo bem complexo. Minha alimentação tem que ser balanceada, tenho uma rotina de exames que são difíceis demais para descrever. Mas sou bem assistido pela Secretaria Municipal de Saúde, não posso reclamar. E agora teremos a clínica de diálise em Araucária, é um avanço em todos os sentidos. Só espero que a vigilância sanitária daqui seja mais eficiente que a de Campo Largo, que deixa muito a desejar”, disse Ubiraci.

Joelise Daiane Padilha Bastos, 34 anos, autônoma, vive uma situação semelhante a de Ubiraci. A moradora do bairro Capela Velha começou a apresentar os primeiros sintomas de uma insuficiência renal há 9 anos. Com apenas 25 anos, ela descobriu que seus rins não faziam a filtração correta. Fez vários tratamentos até que há cerca de dois anos e oito meses, foi encaminhada para hemodiálise. Hoje ela faz três sessões por semana, na cidade de Campo Largo. Fica presa a uma máquina por cerca de 4 horas e 30 minutos.

“Sou candidata a um transplante renal, já estou na fila há dois anos e cinco meses. Enquanto aguardo por um novo rim, enfrento uma rotina cansativa. Nos dias de sessão, saio de casa às 13h20 e retorno somente após às 19h. Tenho restrições na alimentação, tomo algumas vitaminas para repor o que é retirado pela máquina e preciso tomar muito cuidado com o braço da fístula, não posso exercer certas funções. O braço da fístula precisa estar sempre protegido, limpo e higienizado”, descreve. Joelise conta que a partir da chegada da pandemia, os cuidados que antes ela já tinha que seguir, ficaram ainda mais intensos. “Não posso, de jeito nenhum, ficar sem máscara, preciso higienizar sempre as mãos e não posso me aproximar muito das pessoas. No início senti as consequências psicológicas, porém hoje estou aceitando melhor. O tratamento renal dificultou certos trabalhos e atividades físicas, esteticamente a fístula é horrível, mas é o que me mantém viva. No mais, tento levar minha vida normalmente, porque na situação que vivemos hoje em dia, se pararmos, iremos afundar”, lamenta.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1252 – 11/03/2021

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