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Jesus levou três discípulos até a montanha e ali, depois de intensa oração, se transfigurou diante deles. Apareceram Elias e Moisés que conversavam com o Mestre. Pedro, um dos discípulos presente, ficou fascinado com aquela imagem e pediu para que fizessem três tendas, uma para cada um. No meio dessa cena, surgiu uma voz no meio da montanha que dizia: ‘Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!’. E de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém, a não ser Jesus. Claramente, a partir daquele momento, Jesus é o centro, é a ele que se deve escutar, e não a Elias e Moisés. É preciso estar plenamente atento a tudo aquilo que sai da sua boca, seus gestos e ações, e procurar viver como ele viveu.

Escutar a Jesus significa entrar no mundo dele, e colocar-se plenamente aberto a todos os seus ensinamentos. Deixar de lado os gostos pessoais que talvez não correspondam ao evangelho e decidir-se por uma mudança de vida. Escutar é deixar Jesus falar ao seu coração, ser tocado por ele e agir de acordo com os valores pregados no evangelho. É muito fácil agir a partir de preceitos, de normas, de crenças, da tradição, sem se deixar envolver e guiar por Jesus. Será que o meu jeito de ser, de viver, de acolher as pessoas, de se dirigir ao outro, de escutar, reflete Jesus em minha vida? Tantas vezes falamos bonito, pregamos um amor maravilhoso, mas, na prática, vivemos bem o contrário daquilo que falamos. Devemos aprender com São Paulo: ‘Já não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim’.

Escutar a Jesus nos remete a outro grande compromisso em nossa vida: escutar o outro. Algo realmente muito difícil, exigente, e, que requer um exercício, uma aprendizagem. Por natureza, somos impulsionados a vivermos a partir das nossas próprias crenças, e, buscarmos impor aquilo que pensamos, aos outros. Como se aquilo que professamos, são crenças eternas. Temos sim, enormes dificuldades em escutar o outro e deixá-lo ser o que ele é, sem impormos medo, ameaças ou coisas parecidas. Escutar o outro é, por momentos, deixar de lado aquilo que pensamos, e deixar o outro expressar o seu mundo, sem julgar ou condenar. Mas simplesmente acolher. É o primeiro passo e determinante, para poder ajudar a quem precisa do nosso conforto e de nossa palavra.

O grande problema na arte de escutar é saber silenciar. Num mundo de tanta fala, parece que poucos são capazes de deixar o outro falar. Quando alguém quer expressar os seus sentimentos, logo o cortamos e já vamos dando nossos conselhos, nossas dicas, aquilo que nós achamos ser o melhor para ele. Mas falamos a partir da nossa experiência pessoal, que, na verdade, é diferente da experiência do outro. E esse é o primeiro grande problema na arte de escutar. É como se quiséssemos colocar os nossos óculos para o outro. Eles servem para mim, mas com certeza, não servirão para o outro. Cada um tem um jeito de ser, uma história, um passado, uma família, uma cultura, que são diferentes da minha. Entrar no mundo do outro e deixar expressar o que ele pensa e sente, sempre com muito respeito, é fundamental para ajuda-lo a viver e assumir a vida em suas próprias mãos.

Jesus nos pede para que o escutemos e nos deixemos guiar pelos seus ensinamentos. Ele também nos ensina a acolher o outro na sua fragilidade, sem julgamentos ou condenações, mas com muito amor, compaixão e misericórdia. Isso é essencial na arte de escutar, pois, o outro, mais do que conselhos, quer ser compreendido. Na escuta, a compreensão sem julgamento ou condenação, é fator determinante para ajudar o outro a ser melhor.

Publicado na edição 1250 – 25/02/2021

A arte de escutar
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