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A história do homem rico contada por Jesus demonstra um egoísmo enorme, uma volta exclusiva para si mesmo, indiferente à dor e ao sofrimento do próximo. O seu pecado não foi o roubo e nem a corrupção, mas o apego excessivo aos bens deste mundo e o fechamento total em si mesmo. Todas suas manifestações são em primeira pessoa: ‘que farei? Vou destruir os celeiros antigos e construirei novos. E direi a mim mesmo: repousa, descansa, bebe e desfruta uma boa vida’. Todas suas manifestações são voltadas para si mesmo, para o egoísmo, para desfrutar ao máximo, sem se importar com o outro, sobretudo, com aquele que sofre. O importante é que eu estou bem, e, o resto não me importa.

A atitude do rico é logo desmascarada por Deus, que o chamará naquela mesma noite, e o que valerão os celeiros cheios e toda a riqueza acumulada? O grande pecado dele foi pensar somente em si mesmo e querer gozar, aproveitar o máximo, ignorando totalmente a dor e o sofrimento dos mais pobres e sofredores da sua sociedade. Assim também, hoje, Jesus, com certeza, chama a atenção de tanta gente que só se preocupa com o seu bem estar. Vivemos num mundo tão marcado por pessoas incapazes de partilhar, de voltar-se para o outro e ser solidário. A riqueza, em si mesma, não é algo mau. O que é desprezível é o acúmulo, o egoísmo, o fechamento em si mesmo e nos seus prazeres unicamente pessoais.

Faz tempo que a sociedade moderna institucionalizou o consumo: quase tudo se orienta para desfrutar produtos, serviços e experiências sempre novas. O lema do bem-estar é claro: ‘desfruta uma boa vida’. O que se nos oferece através da publicidade é juventude, elegância, segurança, naturalidade, poder, bem estar, felicidade. Devemos alimentar a vida no consumo. E o que acontece? O ser humano se esvazia, e vive sempre insatisfeito, porque a essência da sua vida continua vazia. Ou seja, enquanto alimenta somente o corpo, satisfazendo seus desejos, a alma vai se atrofiando e o sentido da vida se esvaindo. As coisas elas podem dar um prazer momentâneo, mas não respondem às necessidades essenciais do ser humano: aquilo que alimenta a alma, o seu espírito e o profundo do seu ser.

Outro fator decisivo no curso da sociedade atual é a moda. Sempre houve, na história dos povos, correntes e gostos flutuantes. O aspecto novo é o ‘império da moda’, que se transformou no guia principal da sociedade moderna. Já não são as religiões nem as ideologias que orientam os comportamentos da maioria. A publicidade e a sedução da moda estão substituindo a Igreja, a família ou a escola. É a moda que nos ensina a viver e a satisfazer as ‘necessidades artificiais’ do momento. Ela também dá uma falsa sensação de liberdade, de poder e de prazer, mas, tudo momentâneo e esvaziado de um sentido mais profundo à sua própria existência.

Outro traço característico que marca o estilo moderno de vida é a sedução dos sentidos e o cuidado da aparência exterior. É precioso atender ao corpo, à linha, ao peso, à ginástica; é preciso aprender terapias e remédios novos. É preciso aprender a ‘sentir-se bem’ consigo mesmo e com os outros; é preciso saber mover-se de maneira competente no campo do sexo: conhecer as formas de possível desfrute, gozar e acumular experiências. Tudo isso pode trazer uma satisfação momentânea, vai gerando com o tempo um vazio muito grande no ser humano. O que realmente o realiza, na ótica do evangelho, é a sua capacidade de partilhar, de ser solidário e colocar a sua vida a serviço dos outros. Isto sim dá sentido à sua vida.

Publicado na edição 1174 – 01/08/2019

A insensatez do rico

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