Araucária perdeu neste sábado, 2 de agosto, Aracy Tanaka, dona da banca de jornais e revistas mais antiga da cidade, que por mais de 40 anos se tornou um ponto de referência para quem costumava passar na Praça da Matriz. Aracy tinha 84 anos e estava internada já alguns dias. Há anos, ela estava com saúde frágil. Difícil encontrar algum araucariense que não a conhecia ou pelo menos nunca tinha ouvido falar da sua banca de revistas e jornais.

O movimento constante de clientes a transformou na comerciante mais referenciada do centro da cidade, ela conhecia quase todo mundo. Quantas histórias estavam escondidas naquela banquinha de jornal, não somente as contidas nos jornais e revistas que ela vendia, mas nas que foram criadas naquele ambiente, onde tanta gente entrava e saia diariamente.

Além dos grandes jornais de circulação nacional, o local também era frequentado por moradores que colecionavam álbuns de figurinhas, revistas, gibis e palavras cruzadas. Era na Banca da Aracy que o pessoal costumava se reunir para ler os jornais da capital, trocar figurinhas, bater papo, contar histórias. Lá rolava papo sobre política, futebol, economia do país, piadas e, principalmente fofocas. Inclusive, em uma entrevista que Aracy gravou com o Jornal O Popular em 2020, confessou que fofocas era o que o povo mais procurava nas publicações. Na ocasião, ela disse que não se envolvia muito nas conversas, gostava mesmo era de ficar no balcão, ouvindo e observando a reação das pessoas.

Certo dia perguntaram para a comerciante se a Banca da Aracy era uma espécie de ‘Boca Maldita’ de Araucária e, aos risos, ela admitiu que sim. Seu comércio ficava em um ponto estratégico do centro, perto do terminal de ônibus, dos bancos, das lojas, das lanchonetes e tantos outros locais que costumavam atrair muitas pessoas.

Aracy veio de Cornélio Procópio, na década de 80, logo após ter se divorciado, trazida pela irmã Rosa Tanaka Zelaga. Ela contou em entrevista ao Popular que no começo estranhou tudo, principalmente o clima, pois lá era mais quente, mas não demorou para se acostumar, se apaixonar pela cidade e logo se intitular uma ‘araucariense de coração’.

Logo que chegou na cidade, Aracy foi trabalhar com a irmã e o cunhado em uma pequena banca/papelaria, de portinha pra rua, localizada perto do terminal central, onde ficou por vários anos, até seu cunhado adquirir a banca no Centro, e ela assumir a responsabilidade. A irmã e o cunhado abriram uma papelaria maior, que logo expandiu e se transformou no que hoje é a Lulli.

De traços orientais e sorriso sempre no rosto, Aracy arregaçou as mangas para tocar a banca, sempre com a ajuda dos 4 filhos. Não era um trabalho fácil, pois ela mesma fazia questão de madrugar na distribuidora para buscar os impressos em Curitiba e voltar para Araucária abrir a banca às 7 horas, tudo para não perder nenhuma venda. Ela fazia o trajeto de ônibus.

Naquela época, também não existiam assinaturas de jornais, e a entrega era feita na casa de alguns clientes, principalmente a edição de domingo da Gazeta do Povo, que era bastante procurada. A banca também se tornou o principal ponto de vendas do Jornal O Popular, desde a fundação do periódico.

Corajosa e determinada, Aracy ‘batia cartão’ na banca todos os dias, até que a idade não lhe permitiu mais, e ela passou o comando para os filhos. Eles cuidam do comércio da mãe até hoje, no mesmo lugarzinho da Praça.

A morte de Aracy causou muita comoção entre familiares, amigos e todos aqueles que a conheciam. Ela será velada na sala Manacá da capela mortuária do Memorial Luto Curitiba, que fica na Avenida Presidente Keneddy, 1013 a partir das 13h deste domingo, 3 de agosto. Seu sepultamento acontece na segunda-feira (4), às 11h30, no Cemitério Jardim da Saudade II, em Pinhais.