Autonomia, renda, protagonismo. Palavras que soam fortes, mas que ainda escapam da realidade de muitas mulheres que enfrentam, dia após dia, os desafios impostos pela vulnerabilidade social. Para elas, sonhar com uma carreira, com independência financeira ou mesmo com a simples chance de recomeçar parece, muitas vezes, um luxo distante – até que alguém estenda a mão. Até que políticas públicas bem desenhadas deixem de ser promessa e se tornem, de fato, caminho.

É exatamente isso que começa a acontecer, nesta semana, no Centro de Referência da Mulher (CRAM), em Araucária. O início do curso de Cuidadora de Idosos, fruto da parceria entre a Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) e o SENAC, vai muito além da qualificação profissional. É um gesto de transformação. Um olhar atento e sensível para mulheres que, por tanto tempo, foram invisibilizadas.

A proposta é oferecer formação gratuita a até 25 mulheres atendidas pela rede socioassistencial — todas com mais de 18 anos e, no mínimo, com o 6.º ano do ensino fundamental concluído. A formação conta com carga horária de 72 horas, dividida em 24 encontros presenciais. Durante o curso, elas aprenderão mais do que técnicas de cuidado: vão descobrir novas formas de enxergar a si mesmas, de acreditar em suas capacidades e de vislumbrar um futuro com mais possibilidades.

Ser cuidadora, nesse contexto, é também resgatar o valor do afeto, da escuta e do compromisso com o bem-estar do outro. Cada gesto de cuidado, cada conversa e cada rotina compartilhada carrega um valor humano profundo. E ao ensinar isso, o curso também devolve às participantes algo essencial: a certeza de que podem ser protagonistas de suas próprias histórias.

Num país que envelhece rapidamente e onde o cuidado se torna uma das áreas mais urgentes e promissoras, formar mulheres nessa profissão não é apenas responder a uma demanda de mercado – é investir na dignidade. É alinhar políticas públicas ao que realmente importa: vidas reais, trajetórias interrompidas que agora encontram novos caminhos.

Promover esse tipo de formação não é apenas uma estratégia profissionalizante. É, acima de tudo, um compromisso social. Um lembrete de que políticas públicas bem aplicadas têm o poder de romper ciclos de exclusão e abrir portas que antes pareciam trancadas.

E quando uma mulher tem a chance de aprender, de se fortalecer e de se reinventar, todo o seu entorno também muda. É nesse movimento silencioso, mas potente, que mora a verdadeira transformação social.

Edição n.º 1477.