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Quando nos referimos a Jesus, muitos projetam em suas mentes um Jesus milagreiro, mágico, que facilmente transformava as coisas. Como se bastasse um toque seu para que as coisas se transformassem. Nos livros apócrifos inclusive tem uma passagem que fala de Jesus Menino que fazia os pássaros de barro e com o seu sopro eles voavam. Claro que isso não é real. Essas são apenas algumas das tantas imaginações humanas, mostrando um Jesus todo poderoso, capaz e fora do normal.

O grande milagre que Jesus realiza foi o de tocar no coração das pessoas, para que elas abrissem os seus corações e fossem capazes de partilhar. Não era algo mágico, quase que automático, mas que exigia uma verdadeira conversão do ser humano. No milagre da multiplicação dos pães isso é bem evidente. Muitos imaginam um Jesus tocando naquele pão, fazendo com que ele aumentasse imediatamente e se transformasse de cinco em cem, duzentos ou quinhentos pães. O que acontecia nesse caso específico foi a partilha, onde cada um colocou em comum aquilo que tinha trazido, e todos comeram e ainda sobrou pão.

Quando as coisas são colocadas em comum, milagrosamente todos comem e ainda tem sobra. Esse é o grande milagre que deve acontecer em nossa sociedade, em nossa humanidade. A concentração de renda nas mãos de poucos empobrece a grande maioria da população. Os absurdos que ganham algumas pessoas faz com que falte pão para tanta gente. A indiferença, a ganância, a sede de ter mais e mais, causa a desigualdade social. Se houvesse uma justa distribuição da renda, todos teriam o suficiente para viver, e viver com dignidade. O grande desafio é a partilha, e este é o verdadeiro milagre.

Todos nós já fizemos a experiência da partilha que acontece nos encontros em comunidade. Cada um traz alguma coisa, todos comem e ainda sobra. Parece que vai faltar, mas existe uma verdadeira multiplicação dos pães. Se o mundo soubesse partilhar; se as pessoas não fossem tão gananciosas; se não existissem tantos escândalos, tantos casos de corrupção; se cada um pensasse no outro e não somente em si mesmo; se houvesse mais preocupação com os necessitados, o mundo, certamente, estaria muito melhor.

O evangelho de Jesus, quando bem entendido, nos convida para aprendermos a partilhar. A pregação encima da prosperidade, com certeza, não é evangélica. Jesus não tinha nem onde reclinar a sua cabeça. Toda a sua pregação consistia em dividir, partilhar, viver de modo livre e sem apegos aos bens materiais. É incrível como existem pessoas acumulando milhões, quando na verdade para viver bem se faz necessário somente o suficiente. O que está sobrando para você, está faltando para o seu irmão ao seu lado. O acúmulo é contra o plano de Deus e ao evangelho de Jesus Cristo.

Precisamos ter o suficiente para vivermos de modo digno. É normal que busquemos crescer na vida e termos um maior conforto. Isso faz parte da vida do ser humano, do seu crescimento e do seu desenvolvimento. Ter uma reserva para as situações inesperadas da vida, quando for possível, é bom e é normal. Mas o que não é evangélico é o egoísmo, a ganância, o acúmulo, a sede de ter e só ter, sem saber dividir e partilhar. É o exemplo do jovem rico que pensava somente no dinheiro e não foi capaz de colocar um pouco do muito que tinha a serviço dos mais necessitados. O grande milagre não é algo mágico, mas fruto da partilha.

Publicado na edição 1134 – 11/10/18

O milagre da partilha

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