A vinda de Jesus a esse mundo causou uma verdadeira transformação na humanidade. Sua pregação eloquente, cheia de amor, de ternura, atraía as pessoas, sobretudo, os mais pobres e sofredores, os quais se sentiam plenamente acolhidos. No entanto, isso na verdade preocupava o Mestre, que não queria ser confundido com um líder populista. Diante das multidões que o procuravam, ele faz a seguinte pergunta: quem dizem os homens que eu sou? E a resposta dos apóstolos identifica diversos modos de vê-lo: uns dizem que é João Batista; outros que é Elias ou algum profeta que ressuscitou. Claramente, o povo de modo geral está bastante confuso a seu respeito.

Depois de ter ouvido aquilo que as pessoas diziam sobre a sua pessoa, ele dirige a mesma pergunta para os seus apóstolos: e vocês, quem dizem que eu sou? E Pedro, levantando-se em nome dos demais, professou a sua fé em Jesus: Tu és o Messias, o Filho de Deus. Resposta exata, mas, certamente sem o seu devido entendimento. Jesus elogia a resposta de Pedro, mas, lhe afirma: o Filho do Homem vai ter que sofrer muito e ser morto, mas, depois ressuscitará. Com certeza, na cabeça de Pedro ainda pairava a imagem de um Messias poderosos, guerreiro, que iria fazer de Israel um povo acima dos outros povos. Essa resposta confundiu Pedro que, inclusive, censurou Jesus dizendo que isso jamais iria acontecer com ele. Ele não sabia o que estava dizendo, recebendo uma admoestação dura: retira-te de mim Satanás. A resposta de Pedro é humana e não movida por aquilo que é a vontade de Deus a respeito do seu Filho.

Em seguida, Jesus apresenta algumas condições para segui-lo: se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Uma proposta muito distante daquela almejada por Pedro, movida pela glória e pelo poder. Seguir Jesus significa ser capaz de renúncias pessoais e egoístas. Não quer dizer que uma pessoa deva humilhar-se, diminuir-se, colocar-se abaixo dos outros, mas, colocar a sua vida a serviço dos outros. Quantas pessoas fazem tudo pensando somente nas vantagens que terão diante de determinada ação. O seguimento a Jesus nos leva a um certo esquecimento de si mesmo, para colocar-se a serviço do próximo. O egoísta, o individualista, não compreendeu a mensagem do evangelho. Jesus pede para sair de si mesmo, do seu comodismo e de querer somente aquilo que lhe apraz. São as exigências do amor que não se fecha no seu próprio mundo, mas, se abre para ajudar os irmãos.

Renunciar a si mesmo, àquilo que favoreça somente a si mesmo, nos leva a carregar a cruz a cada dia de nossa vida. A cruz foi o gesto máximo de amor de Jesus pela humanidade. Todos nós temos as nossas cruzes, as nossas exigências, os nossos sofrimentos, mas, precisamos assumir tudo com coragem e determinação. Quem foge da cruz, ilude-se com um mundo fácil, pouco exigente que conduz para a perdição. A cruz faz parte da vida de cada um de nós e se quisermos afastá-la de nossa vida, sucumbiremos em coisas fáceis que nos levarão a um vazio existencial. Na luta diária, no amor gratuito aos irmãos, no serviço alegre, no enfrentamento das situações adversas, nas dores físicas e emocionais nós vamos carregando a nossa cruz diária. Não peçamos vida fácil, porque vida fácil não existe; peçamos, sim, forças para carregarmos com coragem as cruzes do nosso cotidiano.

Edição n.º 1470.