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Padre André Marmilicz: Casa de todos

Foto: Divulgação

Um dos momentos mais incisivos na vida de Jesus, foi a expulsão dos vendilhões do Templo. Ele usa os chicotes, afasta os cambistas e derruba as mesas. Era exatamente no tempo da Páscoa, quando judeus de todas as partes de Israel costumavam se reunir. A população de Jerusalém mais que triplicava nesse período. Na torre estão os homens da lei que controlam tudo o que acontece ao redor. Com certeza, viram Jesus tomar essa atitude, de modo até ríspido e duro. Talvez foi esse o momento do estopim, que vai culminar logo em seguida na prisão e na morte do Mestre. Usando palavras do AT ele vai afirmar: ‘o zelo por minha casa me devora’. Fizeram da casa de oração uma casa de negócios, e que negócios!!! E o Templo não é lugar para isso, mas para se encontrar com Deus, para rezar, para louvar, pedir, interceder, enfim, o centro deveria ser a fé e não o comércio, o negócio, aproveitando da presença maciça de pessoas para aumentar os ganhos. E isso realmente estava totalmente contra os princípios de Jesus.

Talvez exatamente por isso, Jesus não costumava frequentar de modo assíduo o Templo, porque ali parece que ele não estava totalmente livre para rezar e entrar em contato com o Pai. No Templo, infelizmente, girava muito dinheiro, muito comércio, algo parecido com algumas igrejas atuais, que pregam prosperidade e esquecem de anunciar a Boa Nova do Evangelho. Jesus seguidamente se retirava para rezar, mas, longe do Templo, onde ele podia sentir a presença do Pai. Ele se retirava até o deserto, onde podia encontrar a Deus junto à natureza, no silêncio, longe de todas outras intenções que provinham do Templo. Rezava junto às margens da Galileia, e foi num desses momentos, longe do Templo, que ele ensinou os seus discípulos a rezar o Pai Nosso.

A casa de oração, para nós cristãos, é prioritariamente a Igreja. É ali que nos encontramos no domingo, junto com outros irmãos, para agradecer a semana que vivemos e pedir forças e luzes para a semana que se inicia. A Igreja é um lugar de oração, de encontro com Deus e com os irmãos. Infelizmente, muitos não tem essa clareza e vão para a igreja apenas como um preceito ou uma obrigação. Muitos frequentam o Templo por medo do inferno, ou, porque lhes foi imposto pelos pais ou pelos catequistas. Ou, pior ainda, existem aqueles que vão aí para ficar reparando a vida dos outros, sua roupa ou até para julgar ou condenar quem não se faz presente. Acabam ignorando ou deixando de lado aquilo que é a essência, ou seja, o encontro com Deus.

Quando alguém se ajoelha e com humildade coloca a sua vida diante de Deus, de mãos vazias, totalmente aberto à sua ação, geralmente acontece uma verdadeira transformação em sua vida. Uma oração, como a de Maria, pedindo que se faça sempre e em tudo a vontade de Deus. Por vezes não sabemos rezar, e, quase que obrigamos a Deus fazer a nossa vontade e não a sua. Ficam decepcionados quando pedimos e não recebemos aquilo que queremos. Pior ainda são aqueles que pedem dinheiro, em nome de Jesus, enganando as pessoas com promessas falsas. Como se Deus precisasse ser comprado, para realizar os seus desejos. Isso sim é um verdadeiro absurdo e um tremendo desvio daquilo que é o verdadeiro sentido da oração. Somos chamados a fazermos da casa de Deus um lugar de encontro, de abertura à graça de Deus, para que se realize sempre e unicamente em nossa vida, a sua vontade e não a nossa.

Edição n.º 1404

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