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Padre André Marmilicz: Perdoar sempre

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Os ensinamentos de Jesus são realmente muito desafiadores. Tudo o que ele apresenta como caminho, verdade e vida, exige uma verdadeira mudança interior, um desejo sincero de ser diferente. São sempre apelos que tocam no fundo da alma e, que inquietam profundamente os interlocutores. Jesus conhece muito bem o ser humano e sabe que suas propostas são exigentes, mas, libertadoras. Nada daquilo que ele propõe é impossível de ser realizado, mas, requer de cada pessoa, um desejo sincero de transformação. Aparentemente suas palavras são duras, pesadas, a ponto de Pedro dizer: ‘desse jeito ninguém poderá se salvar’. Os seres humanos, de modo geral, encontram muitas dificuldades para aceitar mudanças, sobretudo, quando vivem como que anestesiados pela vida, confortados em seus egoísmos e naquilo que lhes dá uma aparente alegria, uma felicidade que não se sustenta.

Entre tantas coisas ensinadas por Jesus, durante seus três anos de anúncio do Reino de Deus, está o perdão. Os rabinos pregavam que poderia se perdoar no máximo até 4 vezes e, já era um exagero. Depois disso, a pessoa poderia usar meios violentos, a vingança, usar as próprias mãos para agredir aquele que o havia insultado. Pedro vai um pouco mais longe e arrisca perguntar para o Mestre se sete vezes seria o número máximo para perdoar quem o ofendeu. E Jesus então apresenta algo totalmente inesperado aos olhos de Pedro e dos demais apóstolos e, eu diria, de todo o povo daquele tempo: não sete vezes, mas, setenta vezes sete, ou seja, sempre. Uma verdadeira revolução essa afirmação de Jesus, como única condição para alguém viver plenamente a sua vida.

Olhando de modo psicológico essa questão, podemos entender que seja algo normal alguém se magoar, se ofender, se ressentir por uma palavra de desprezo ou uma ação de diminuição da sua integridade. No entanto, para uma cura interior, faz-se necessário perdoar, sem dar revide ou sem se vingar através de vias de fato. Perdoar não significa esquecer, até porque temos uma memória que não nos permite que isso aconteça. Então o que significa perdoar? Entre tantas definições que eu encontrei através da leitura de livros, uma me marcou profundamente, ou seja: perdoar é não dar poder aos pensamentos e aos sentimentos do outro. Quando eu perdoo, eu elimino o poder que o outro possa ter sobre a minha vida. Dissolvo toda possibilidade de mandar em mim e de me fazer um refém emocional.

Jesus, no momento mais doloroso da sua vida, quando pregado na cruz, foi capaz de expressar o seu imenso amor pela humanidade, apesar de todo sofrimento, dizendo: ‘Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem’. Quando alguém pensa, reflete a respeito de uma ofensa recebida, de uma ação destruidora advinda do próximo, a exemplo de Jesus, ele só pode concluir que aquela pessoa não sabe o que está fazendo. Uma atitude madura, consciente, sempre leva a pessoa a perdoar, a não dar poder ao outro. O mundo seria muito melhor e diferente, se o ser humano fosse capaz de perdoar. A falta de perdão provoca tantas mortes, violências, separações, brigas entre famílias, na comunidade e na sociedade. O perdão, pelo contrário, gera proximidade, união, e, transforma as pessoas em irmãos e não em adversários uns dos outros. Perdoar sempre, como nos pede Jesus, é o grande remédio para uma vida humana livre e saudável.

Edição n.º 1380