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Imagem de destaque - Professor Rafael Jesus: A Guerra Cultural e as altas taxas de juros
Foto: Divulgação

É praticamente unânime entre os brasileiros que vivemos uma Guerra Cultural.

Essa Guerra não é novidade entre nós, embora ela só tenha ficado plenamente evidente nos últimos 11 anos.

A expressão tem suas raízes no termo alemão Kulturkampf, que traduzindo significa algo do tipo “luta cultural”. Foi na década de 1870 que o grande chanceler da unificação alemã, Otto von Bismarck, entrou em confronto com alguns religiosos por conta dos seus planos de implantar um Estado laico no recém unificado II Reich.

Porém, o significado de Guerra Cultural mais próximo do atual, começou a ser moldado apenas em 1991 por James Davison Hunter, que compreendeu a profunda polarização da política americana, marcada pela dicotomia entre conservadores e progressistas. Não demorou muito para que tal expressão chegasse às terras tupiniquins.

Trata-se de uma luta sem tréguas entre duas pautas de costumes que parecem caminhar para extremos irreconciliáveis, onde uns não reconhecem a humanidade nos outros, e vice versa.

E aqui cabe uma importante reflexão. Ninguém nasce corinthiano, flamenguista, capitalista, comunista, republicano, monarquista, brasileiro, francês, conservador, progressista, católico ou umbandista. Tudo isso são fabricações, ficções que nos são incutidas pela sociedade, por meio de instituições fundamentais como famílias, igrejas, escolas, empresas e outras.

É por isso que matamos mais em nome de fantasmas do que por questões concretas. Vejamos os exemplos das duas Guerras Mundiais, ou, as recentes lutas entre Ucrânia vs Rússia e Hamas vs Estado de Israel. A terra sempre foi suficiente para todos, mas o nacionalismo exacerbado e o fundamentalismo religioso jogou bons humanos contra bons humanos em nome dos interesses inconfessáveis de velhos ricos travestidos dos mais altos princípios identitários.

Acontece que, no Brasil, tal luta fratricida interessa, e muito, aos nossos agentes do rentismo, que assim mantém a todos distraídos, alienados das suas verdadeiras mazelas. Dito de outra forma, enquanto os juros altos mantêm as altas taxas de lucros de meia dúzia de famílias, o povo pena, ocupado demais em debater questões bizantinas como linguagem neutra ou banheiro unissex.

É importante percebermos que grandes grupos de comunicação se deleitam com a guerra cultural, e que os mesmos são financiados, em grande parte, pelos barões do mercado financeiro, sendo que até mesmo o capital produtivo sofre diante do rentismo canibalista.

É por essas e outras que os brasileiros enfrentam o maior processo de desindustrialização da história humana, afinal aqui o dinheiro é caro, o que torna inviável o desenvolvimento do setor produtivo. Pagamos duas vezes a conta, com a alta taxa Selic os valores dos juros e amortizações da dívida pública crescem, tornando ainda mais escassos os poucos recursos públicos destinados aos investimentos em infraestrutura e, como a Selic reverbera sobre os juros praticados no mercado como um todo, mesmo dentro da iniciativa privada acabamos castrados de todo nosso potencial empreendedor.

Trata-se de uma cortina de fumaça. Ocupados demais em definir as cores adequadas das roupas dos filhos dos outros, esquecemos de nos preocuparmos com os juros imorais do nosso cartão de crédito, do nosso cheque especial ou mesmo do nosso financiamento imobiliário.

Ao final, como boas marionetes, tiramos comida da boca dos nossos próprios filhos.

Edição n.º 1421

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