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Preparo de pirohe na Festa da Assunção de Nossa Senhora da colônia ucraniana Ipiranga, 2012 Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres
Quem construiu Araucária?

No dia 11 de fevereiro Araucária completou 130 anos, ou seja, em 1890 se tornou um município independente. Engana-se quem imagina que foi dali em diante que começou a sua história, pois ela já havia se iniciado havia muito tempo, construída por notáveis personagens e também muitos braços anônimos, que, juntos, contribuíram cada um com um pedacinho dela.

Pra início de conversa, os primeiros habitantes dessas terras, os indígenas, aqui se estabeleceram desde tempos imemoriais e deixaram seus vestígios em forma de objetos arqueológicos, como ferramentas de pedra e moradias subterrâneas. Viviam por aqui principalmente os tinguis, o que levou essa terra a ser conhecida como Tindiquera.

Ainda no período colonial chegaram por aqui luso-brasileiros, africanos e seus descendentes, que dedicaram-se a pequenas lavouras de milho e feijão, pecuária em pequena escala (a base da alimentação na época era feijão com farinha de milho e toucinho), cultivo de erva-mate e fumo, além de atividades urbanas, como comércio e prestação de serviço, até mesmo para atender aos tropeiros que por aqui passavam circulando entre Curitiba e Lapa.

Em 1855 Tindiquera se tornou Freguesia do Iguassu, e foi nessa segunda metade do século XIX, por conta do processo que culminaria com a abolição da escravidão, que o governo brasileiro iniciou o incentivo da vinda de europeus e asiáticos visando substituir o trabalho braçal no país. Na região sul os imigrantes foram assentados em terras demarcadas, dentro de colônias criadas de acordo com as etnias, com vistas ao cultivo dos mais diversos gêneros alimentícos. Dessa forma, formou-se um cinturão verde de colônias em torno de Curitiba. Em Araucária foram criadas as colônias polonesas de Thomaz Coelho, Santa Christina (hoje conhecida como Colônia Cristina) e Barão de Taunay (mista com italianos e hoje conhecida como Costeira), e, com o passar dos anos, imigrantes e seus descendentes vindos de outras colônias chegaram de forma espontânea, estabelecendo-se em novas localidades de Araucária.

Assim, além de poloneses, que trouxeram novidades nas técnicas agrícolas como a carroça e o arado, e o costume de comer broa, por exemplo, nessa mesma época chegaram também os italianos, que nos trouxeram a produção de vinho, a fabricação de massa de tomate, e a primeira empresa de transporte coletivo. Também vieram os ucranianos, que se dedicaram à agricultura e trouxeram a pessanki e o pirohe (semelhantes à pessanka e ao pierogi dos poloneses), e os alemães, que se dedicaram mais às atividades urbanas e contribuíram com a industrialização e produção cultural local com suas serrarias, olarias e cinema. Outro grupo de imigrantes que chegou com maior intensidade nessa época foram os árabes e sírio-libaneses, destacando-se no ramo do comércio, que desempenhavam com maestria desde a época dos seus ancestrais fenícios.

Foi somente na década de 1950 que os primeiros japoneses se instalaram no já município de Araucária, vindos de São Paulo e norte do Paraná, e trouxeram consigo a fruticultura e a criação de aves, sendo os responsáveis pela primeira festa do pêssego e também do ovo. Em menor número também aqui se estabeleceram algumas famílias francesas, inglesas, russas e tchecas, que contribuíram com sua formação intelectual para o crescimento de Araucária. E a partir da década de 1960, com a intensificação da atividade industrial em Curitiba e região, brasileiros das mais variadas regiões chegaram para trabalhar e agregar valor a essa terra.

Todos esses povos, com toda a sua bagagem cultural, formaram o que somos hoje, o que é a cultura de Araucária – uma tapeçaria de várias cores. Araucarienses nascidos e adotados, nós temos vários sotaques e muitas fisionomias, pois somos filhos dessa terra e netos de muitas outras.

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Texto: Luciane Czelusniak Obrzut Ono

Publicado na edição 1199 – 13/02/2020

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