Somos aquilo que sentimos!

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Pode parecer mais um discurso de autoajuda, uma tentativa de puxar o foco para a subjetividade do ‘sentir’ em tempos que a superficialidade parece ser mais atraente, mas vai além disso, a ideia nessa ligeira reflexão é arriscar uma leitura sobre a sociedade: Doente, reclamona, insatisfeita e infeliz.

Se visitarmos um posto de saúde uma vez por semana ao longo de poucos meses, possivelmente encontraremos lá pacientes casuais, com problemas clínicos, patologias severas, mas também, aqueles que eu chamo de ‘doentes sociais’. A sociedade atual é tão insalubre, tão pouco prazerosa que vamos nos tornando pacientes, desmotivados, frustrados em busca de um remédio que devolva o prazer de existir. Vulneráveis, vemos a autoestima desidratar junto com a imunidade e logo concluímos que estamos doentes.

Há alguns anos encontrei no balcão de uma unidade de saúde um panfleto motivacional, com foco em prevenção, a frase principal dizia: Cuide da sua saúde! Logo abaixo ilustrações reforçadas por frases como “leia um livro”, “vá ao teatro”, “escute música”, “ande de bicicleta”, eram as indicações de como efetivar esse cuidado. Achei o panfleto fantástico pois me parecia que ele sim indicava caminhos de como promover a saúde ao invés da equivocada fórmula de focar apenas nas doença. Mas havia mais provocação contida no material, quando se gasta dinheiro público para incentivar a população a ter mais qualidade de vida, a ter mais lazer, mais prazer em atividades culturais e familiares é possível concluir também, que antes disso o gestor perguntou a sua equipe: “O que é que o poder público oferece à população no que tange ao Esporte, a Cultura, a espaços de lazer? Que nível de democratização e acessibilidade está o fazer artístico, o fomento cultural, as práticas desportivas e recreativas, a inclusão social?

Lembro que peguei um dos exemplares do panfleto, que infelizmente se perdeu no tempo, e levei comigo. A visão de quem criou aquele material, embora aparentemente óbvia, era extremamente ousada, cheguei a pensar que aquele panfleto não havia sido feito para se comunicar com o usuário e sim com o gestor, era uma provocação sobre a engrenagem da máquina pública, como se a Saúde gritasse: Eu não dou conta sozinha, cadê as outras pastas, cadê as secretarias responsáveis por promover a saúde, o bem-estar? Porque nunca haverá médico, remédio e muito menos orçamento suficiente para tratar e curar uma sociedade que adoece pela ausência do prazer, da satisfação e da alegria.

A partir daí concluo que realmente somos o que sentimos e, infelizmente as sensações dos últimos tempos são as piores. Percebam que até nosso “sentir” está relacionado a políticas públicas, a busca pela “sensação de segurança” é prova disso. A insatisfação vai continuar, as reclamações tendem a aumentar pelo simples fato de que poucos estão se dedicando a criar sensações positivas, que dialoguem com a humanidade das pessoas e não com sua objetificação.

E aí, qual é a sua sensação?

Publicado na edição 1163 – 16/05/2019

Somos aquilo que sentimos!

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