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Terezinha Poly – A guardiã das memórias de Araucária

Foto: Raquel Kriger
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Há muitos jeitos de se conhecer a história de uma cidade, pode ser visitando museus, examinando minuciosamente os mapas ou pesquisando fotos antigas. Mas a cidade também é a memória local de seus moradores. Terezinha Poly, administradora da página do Facebook “Araucária uma Cidade uma Saudade”, e colunista do Jornal O Popular, é uma espécie de guardiã das memórias da cidade. Com sua incrível habilidade de transformar lembranças em palavras, ela eterniza momentos importantes da história, que ajudam a manter viva a identidade da cidade.

Terezinha tem 71 anos, completou no último dia 16 de janeiro, nasceu na cidade de Imbituva, interior do Paraná, porém veio para Araucária ainda bebê, quando tinha apenas três meses. “Sempre vivi aqui, desde que cheguei, só voltei à minha cidade natal como turista, pois é a Capital da Malha, mas é aqui a minha terra”, diz toda orgulhosa.

Terezinha se formou professora em 1972, na Escola Normal Estadual de Araucária, e em 1977 se formou em Contabilidade, mas não exerceu nenhuma das duas profissões. Entrou para a Prefeitura de Araucária em 1974, através de concurso público, e desde 2003 é funcionária pública aposentada. “O concurso foi na gestão do José Tadeu Saliba (in memorian), foram três dias de provas, de fazer inveja a qualquer vestibular (risos). Na época nem podíamos usar calculadora e o teste de matemática foi bastante pesado”, relembra.

Como sempre teve o dom da escrita a Tere, como é carinhosamente chamada por familiares e amigos, diz que tinha facilidade em escrever redações, também era apaixonada pela leitura. “O primeiro livro que eu li foi Robin Hood, essa paixão começou tão logo aprendi a ler. Como vê, sou apaixonada por uma verdade que se torna lenda. Na minha página no Facebook, muitos comentários são de pessoas que mesmo não tendo vivido na cidade ou no tempo falado, dizem que quando leem meus textos, conseguem viajar no tempo e viver o momento descrito. Agora, se tenho que falar para um público, começo a gaguejar, me perco no que estou falando, ou seja, fico apavorada. É bem mais fácil escrever!”, brinca.

O desejo de contar histórias

O interesse de Terezinha pela história de Araucária aconteceu de forma tão natural e espontânea que ela não sabe precisar uma data ou algum momento especial. “Nestes meus anos de vida conheci muita gente interessante, gente que sabia alguma coisa, contava alguma lenda, e mesmo as pessoas que haviam em Araucária nos anos 60/70 e 80 faziam parte de uma Araucária aldeia. Poucos moradores e mesmo os que moravam longe, eram todos conhecidos, então sempre esteve comigo essa vontade de contar histórias, mas quando ela despertou exatamente, não sei dizer”, afirma a memorialista.

É exatamente assim que Terezinha se autodescreve: uma memorialista, porque ser historiadora, segundo ela, exige muita técnica, muita ciência, requer muito estudo e uma faculdade especializada. “É algo que não possuo. Partindo de uma foto, faço uma narrativa com mais sensibilidade do que técnica. Eu já disse uma vez que os historiadores formados fazem História, eu faço as lendas, algumas vezes com poucos dados, outras vezes com alguns erros, mas com humanidade”, declara.

Terezinha criou a página no Facebook “Araucária uma Cidade uma Saudade” em 2015, no início apenas como curiosidade, para uma conversa entre amigos que viveram na mesma época. “No momento em que a página surgiu e comecei a publicar fotos antigas da cidade, imediatamente atraiu um número crescente de curtidores que também conheciam os mesmos lugares, e outros que desconheciam, e assim as conversas passaram a envolver muitas pessoas que queriam saber um pouco mais, e o objetivo de conversar, narrar e até descobrir muitas coisas foi alcançado”, explica.

Grande parte das fotos que Terezinha publica pertencem ao acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres, outras são de revistas comemorativas, jornais antigos da cidade, antigos calendários que foram confeccionados pela Secretaria da Cultura, e muitas ela recebe por mensagens enviadas diretamente à sua página. “Geralmente as fotos que recebo também vem com um pequeno histórico, mas geralmente são só dados básicos, as pessoas dizem que preferem que eu faça o texto, o que me deixa muito feliz em ver e sentir a confiança no que eu faço”, afirma.

Ao mesmo tempo em que proporciona conhecimento às pessoas através das suas publicações, a memorialista também aprende coisas novas. “Muitas vezes o que falta no texto narrado na foto é complementado por comentários de pessoas ligadas diretamente àquelas imagens ou então por alguém que conheceu de perto, ou um parente que conheceu, então eu edito o texto com tal complemento. Como há vários seguidores de outros países, acaba sempre se transformando em aprendizado, e o bom é que todos acabamos nos conhecendo através de fotos de pessoas e lugares que não existem mais, ou foram modificados, e alguns poucos que permanecem iguais”, reforça.

Desde março de 2022 Terezinha é colunista do Jornal O Popular, onde semanalmente publica textos sobre antigos moradores, suas histórias e contribuições para a sociedade. Quando questionamos se ela tem planos de algum dia escrever um livro, ela não esconde seu desejo. “Seria um sonho, mas há uma série de burocracias a serem seguidas que podem dificultar, porém não podemos perder as esperanças”, conclui.

Edição n.º 1401