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Terezinha Poly: A Oficina do Vergílio

Imagem de destaque - Terezinha Poly: A Oficina do Vergílio
Foto: Divulgação
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O ano era 1930. Araucária, uma cidade calma e pacata, ainda tinha a produção agrícola como meio principal de progresso e trabalho. Ainda era raro encontrar veículos automotores na cidade, o primeiro veículo chegou em nossa cidade em 1904 e pertencia ao saudoso Sr. João Sperandio, cidadão de grande influência que residia na localidade de Rio Abaixinho. Foi somente no final dos anos 30 que a Família Franceschi trouxe os primeiros veículos de transporte coletivo, os primeiros ônibus faziam um curto trecho que compreendia Centro/Estação e vice-versa. Chamados de “Jardineiras” a frota ainda era pequena compreendendo apenas três veículos. Mas, ainda assim, o Sr. Vergílio Alves Pinto era proprietário de uma Oficina Mecânica na Rua Dr. Victor do Amaral que para a época poderia ser chamada de grande.

A oficina era localizada em amplo terreno que hoje abriga o Posto Fialla e diversos estabelecimentos comerciais, mas nos anos 30 e até o final da década de 60, era essa oficina que ocupava parte do terreno, e, o restante era apenas mato e nos fundos já de frente para a Rua Major Sezino havia um grande pé de roseira em cacho que enfeitava o local. O terreno era geralmente limpo quando ali se instalavam circos ou parques de diversões. Ainda assim, com todo esse ar de cidade do interior, a Oficina do Sr. Vergílio atendia diversos veículos, sendo que a maioria deles eram motocicletas, lambretas, bicicletas e naturalmente os Velhos, ou melhor, agora chamados de clássicos veículos Ford, também conhecidos como o famoso Calhambeque.

E por ser uma cidade de poucos veículos, muitos se admiravam do número de funcionários que havia na oficina. O Sr. Vergílio empregava meninos adolescentes e homens adultos, os mais jovens tinham um horário menor, pois seu empregador fazia questão que não abandonassem a escola. Defendia a necessidade de uma boa educação escolar, que ia além de ler e escrever, mas progredir e respeitar o trabalho. Na foto pode ser visto que a maioria dos empregados era menor de idade que trabalhavam com autorização dos pais, poucos adultos são vistos junto a esses meninos, o senhor alto de cabelos escuros e bigode, na fila de trás é o Sr. Vergílio Alves Pinto, ao seu lado de boné é o Sr. Otavio Galize, infelizmente não temos a identificação das outras pessoas ali presentes, mas pela idade que tinham na época e já passados 94 anos, acreditamos que já sejam de saudosas memórias.

Araucária na época possuía poucos veículos, mas havia também um grande problema que acompanhou nossa cidade por décadas, e em alguns lugares ainda há quem enfrente, que eram as péssimas condições de nossas estradas. Se chovesse o barro virava um atoleiro até para carroças, se o tempo estava seco, o poeirão era sufocante, sem contar com os inúmeros buracos que só desapareciam depois que a Patrola passava, portanto, mesmo com uma quantidade pequena de veículos sempre havia serviços de recuperação.

A Oficina Mecânica do Sr. Vergílio Alves Pinto, esteve em funcionamento até o final da década de 60, no ano de 1969 a Rua Dr. Victor do Amaral recebeu o seu primeiro calçamento. A rua ficou fechada por muito tempo, para que as máquinas, caminhões e pessoas pudessem trabalhar. Nesta época, já com outras oficinas mecânicas se instalando no Município, a oficina fechada sem data para reabrir e em frente e o terreno sendo utilizado para depósito de materiais, seus trabalhos encerraram. O Sr. Vergílio, experiente mecânico, político respeitado e patriarca de uma família admirável, já sentia o peso de uma vida de muito trabalho, também se aposentou e era visto sempre em seu Ford vermelho pela cidade, enfim podia aproveitar o seu clássico calhambeque. Ao reabrir a Rua Dr. Victor do Amaral, a oficina já com  suas atividades encerradas, foi demolida, o terreno loteado e como ocupava a quadra compreendendo desde a Rua Dr. Victor do Amaral esquina com a Rua Dr. Guilherme da Motta Correia e aos fundos Rua Major Sezino atualmente está repleto das mais diversas instalações comerciais entre posto de gasolina, farmácia, pastelaria, imobiliária, lojas diversas, laboratórios de análises, dentistas, agência da Copel, agência dos Correios e edifício residencial, só não há uma oficina mecânica.

Esses foram os mecânicos de uma das melhores Oficinas Mecânicas da Cidade de Araucária, provavelmente todos sejam saudosas memórias, era um tempo que os adolescentes trabalhavam desde cedo e eram respeitados, aprendiam uma profissão e não deixavam de ser crianças. Um tempo mais simples e fez parte da história de nossa Araucária.