Trabalhadores falam dos impactos em suas vidas após fechamento da Fafen

Fechamento da Fafen deixou milhares de trabalhadores sem emprego. Foto: Everson Santos
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Trabalhadores falam dos impactos em suas vidas após fechamento da Fafen
Fechamento da Fafen deixou milhares de trabalhadores sem emprego. Foto: Everson Santos

O fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados em Araucária – Fafen, trouxe muitos impactos negativos para a vida dos trabalhadores que atuaram na empresa durante muitos anos. Além do impacto financeiro provocado pelas demissões, muitos sofreram impactos na saúde mental. Em fevereiro completou um ano desde que a Petrobras enviou a carta de demissão aos funcionários da unidade. Aproximadamente mil trabalhadores foram demitidos, abalando psicologicamente milhares de famílias não apenas de Araucária, mas da região metropolitana de Curitiba. Operários que dedicaram 20 anos à unidade foram demitidos por carta, que foram enviadas aos poucos, tornando a situação ainda mais angustiante.

Para a psicanalista e mestre em Psicologia Clínica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Madalena Becker de Lima, que também atua pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o fechamento da Fafen traumatizou não só os funcionários, mas também os familiares dessas pessoas. “O apagar das luzes de uma fábrica cria uma desagregação do ego do trabalhador. Algumas fábricas usam a narrativa que vão dar segurança para seus funcionários. Quando essa promessa é quebrada, as pessoas acordam sem chão, não se reconhecem mais, o que gera insegurança e medo. Isso para a família inteira. Ainda mais uma demissão repentina, em tempos de pandemia, o que dificultou ainda mais a busca por uma nova vaga de emprego”, analisou a médica.

O técnico em manutenção Paulo Antunes, que trabalhou na Fafen por 12 anos, lembra que a demissão foi anunciada do dia para a noite, pegando todos de surpresa, quando inclusive, os funcionários já se adaptavam à ideia de uma possível privatização da fábrica. “Foi um, choque. Nosso ambiente de trabalho era como de qualquer empresa que tem vários trabalhadores juntos há muitos anos, um ambiente saudável e harmonioso, tínhamos uma ótima relação entre os trabalhadores chão de fábrica. A demissão me afetou muito nos seis primeiros meses, é como se tivesse perdido o chão, pois depois de tantos anos dedicados à empresa, a esperança era conseguir se aposentar e concluir uma jornada de trabalho com muita dignidade. O impacto financeiro foi grande, tínhamos uma remuneração razoável comparado ao que se pratica no mercado, trabalhávamos numa das maiores Petroquímicas do mundo e isso nos qualificava a sermos bem remunerados, pois nosso trabalho era de alta complexidade”, lamentou o araucariense.

Após um ano desempregado, Paulo conseguiu colocação no mercado de trabalho, está ingressando em uma empresa terceirizada para realizar uma parada de manutenção na Refinaria Getúlio Vargas. “A demissão e o fechamento de uma empresa como a Fafen, trouxe danos materiais e emocionais para muitos trabalhadores, eu tinha 12 anos, mas havia trabalhadores que estavam há mais de 30 anos lá dentro, trabalhadores que têm parentes (filhos) com doenças graves em tratamento permanente, e que foram demitidos sem nenhuma empatia pela da gestão da Petrobras. Tinha trabalhadores afastados por problemas de saúde, outros em tratamento, que foram demitidos. Esperamos que algum dia essa empresa seja reativada novamente, para dar oportunidade de emprego aos moradores da cidade e garantir as arrecadações para nosso município”, comentou Paulo.

Outro trabalhador, que preferiu manter sua identidade em sigilo, comentou que os últimos dias na Fafen foram angustiantes. “A demissão foi uma fase que mexeu muito com meu psicológico. Sentimento de perder o chão. Não tive forças para voltar ao mercado de trabalho, foi uma espécie de pânico. Tenho dificuldades até hoje de passar pela Rodovia do Xisto, que era o caminho do meu trabalho”, alegou.

Foi o apoio da família que deu forças para ele retomar sua vida. “Tive muita dificuldade para superar essa demissão (mais de 20 anos na empresa). Não tinha coragem para nada. Meses se passaram e estou com outros objetivos, longe da minha profissão, porque não consigo me ver trabalhando na função novamente”, pontuou.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1252 – 11/03/2021

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