Três milhões, duzentos e quarenta mil litros de água foram necessários para combater as chamas

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Três milhões, duzentos e quarenta mil litros de água foram necessários para combater as chamas
Foto: Marco Charneski

O incêndio na Gerdau já entrou para a história de Araucária: foi o maior em termos de duração, com 26 horas e 49 minutos de trabalho intenso do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil. O maior incêndio registrado até então foi em 8 de dezembro de 1988, quando um trem com três vagões de combustível da RFFSA descarrilou, tombou e explodiu, ferindo pessoas, levando duas a óbito e também incendiando a área central da localidade rural de Guajuvira. O cartório, a hospedaria, a agência dos Correios, o açougue e a fábrica de cerâmica foram destruídos. Da fábrica de cerâmica restou somente a chaminé, que até hoje faz lembrar a altura que chegaram as chamas. Foram muitas horas de trabalho para conter totalmente o fogo, mas não se compara ao tempo de duração do incêndio no pátio de sucatas da Gerdau.

Segundo o Corpo de Bombeiros de Araucária, para controlar o sinistro, foram necessários 3.240.000 (três milhões, duzentos e quarenta mil litros de água) durante as 27 horas de combate + rescaldo. “O consumo durante o combate direto chegou a mais de 120mil litros de água por hora. Devido à alta carga de incêndio era necessário usar uma grande vazão. Água em sua maioria disponibilizada pela própria empresa. O bombeiro fez o uso do recurso próprio de 45 mil litros de água, além do consumo de 300 litros de Líquido Gerador de Espuma”, explicou o tenente Eduardo Hunzicker, comandante do 2º Subgrupamento de Bombeiros de Araucária.

Três milhões, duzentos e quarenta mil litros de água foram necessários para combater as chamas
O incêndio dos vagões em Guajuvira entrou para a história como uma das maiores tragédias já registradas em Araucária. Foto: divulgação

Ele destacou que foram necessários o trabalho de três caminhões de combate a incêndios e uma Plataforma Mecânica de 50m de altura, que dava apoio ao combate aéreo, com canhão de alta vazão e que ainda auxiliava a dar uma visão 360º do incêndio, ajudando na estratégia de combate. “Utilizamos dois caminhões de Araucária, um do Bairro Novo e a Plataforma que veio do Portão, além de três camionetes de busca e salvamento. Quinze bombeiros atuaram no combate”, disse.

O comandante lembrou ainda que o bombeiro chegou ao local 10 minutos após ter sido acionado, porém o incêndio já era de grandes proporções. “Acionamos o PAM (Plano de Auxílio Mútuo) por meio da Defesa Civil de Araucária, para que emprestasse à operação, 40 mangueiras, pois o local onde pegou fogo não estava coberto por hidrantes. “Foi necessária a armação de duas linhas de aproximadamente 400 metros de mangueira, para suprir a vazão de água necessária para o combate. Devido à grande quantidade de material estocado com uma carga de incêndio, falta de isolamento entre as pilhas de material, o combate acabou sendo muito difícil e demorado. Exigindo o trabalho constante das equipes para combater as chamas, resfriar o material para que as máquinas pudessem trabalhar na retirada do que ainda não havia sido queimado”, relatou.

De acordo com o relatório dos bombeiros, a área total do material estocado era de 22.300m2 (133.800 m³ de material) e a área total queimada foi de 8.030m2 (48.180 m3). A área que conseguiu ser preservada da queima por conta do combate foi de 14.270 m2.

Consultor destaca importância do Plano de Emergência nas empresas

O incêndio ocorrido no depósito de sucatas da Gerdau traz à tona uma questão que precisa ser discutida pelas empresas: a importância do Plano de Atendimento a Emergência. Isso considerando que uma parcela considerável delas não está verdadeiramente preparada para atuar em casos emergenciais. O Consultor Especialista em Respostas à Emergências, Gabriel Prado, afirma que muitas empresas apresentam o Plano como um documento genérico. “É essencial que seja realizada efetivamente uma análise preliminar de riscos, com as hipóteses acidentais e a antecipação dos cenários levantados, em conjunto com as medidas que necessariamente deverão ser tomadas na eventualidade de uma emergência”, esclarece.

Ele lembra que hoje existem várias legislações que cobram essa questão das empresas, mas muitas não levam em conta a importância do Plano. “A elaboração do plano de emergência está diretamente envolvida com a proteção da saúde e integridade física das pessoas, com a minimização dos danos causados ao patrimônio, meio ambiente e ao processo produtivo, bem como viabilizar a continuidade dos negócios. Quando bem elaborado e conduzido, é capaz de minimizar os danos causados por um sinistro como, por exemplo, a ocorrência de um incêndio, um derramamento de determinado produto químico, enfim, o plano tem por objetivo principal definir os cenários de emergências e apresentar diretrizes de atuação da equipe da Brigada de Emergência”, pontuou Gabriel, que é especialista em formação de bombeiros industriais, brigadistas e socorristas e atua há mais de 10 anos nesta área.

No caso da Gerdau e de outras empresas que já registraram acidentes, a pergunta que se faz é se realmente elas estavam preparadas para reagir e responder a estes tipos de eventos e se estão organizadas estrategicamente para a tomada de decisões perante crises deste tipo. “Mas para responder a estas perguntas, é necessário que tenham implementado e interiorizado um plano de Prevenção, Preparação e Resposta Rápida as Emergências. É necessário levantar as hipóteses de acidentes, identificar os potenciais riscos, analisar os riscos, avaliar os riscos, dimensionar as tratativas, definir plano de resposta e capacitar equipes, visando otimizar as ações próprias e os socorros públicos ou de terceiros”, explica.

Ainda no caso da Gerdau, com os dados preliminares da ocorrência, as causas do incêndio não estão claras, então podemos citar vários elementos que em conjunto podem nos dar uma prévia das possíveis hipóteses (indeterminadas). Considerando que a empresa de aço disse que no local onde houve o incêndio era guardada sucata usada para a fabricação de aço, as hipóteses podem ser de que algum tambor ou recipiente com produto inflamável pode ter levado a ignição dos materiais; de que a utilização de um maçarico ou similar para corte das peças para ir para o processo de picotador; de que algum material descartado de forma inadequada pode ter ocasionado a combustão; e ainda a reação de algum produto químico, corrosivo, que pode ter iniciado a ignição. A causa raiz deve ser designada pela perícia de incêndio”, analisou o consultor.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1257 – 15/04/2021

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