Considerado um dos maiores eventos cênicos do Brasil, o Festival de Teatro de Curitiba entra na sua 33ª edição em 2025, e acontece entre os dias 24 de março a 06 de abril. O evento recebe artistas de todo o país e do exterior, e ao longo de mais de três décadas, muitos talentos da cultura de Araucária também abrilhantaram os palcos.
A participação dos artistas araucarienses nesse evento de renome nacional e internacional, foi responsável por fortalecer a cena artística local e levar o nome da cidade para o país e o mundo. Mais do que isso, a relação dos artistas com o festival, especialmente os atores, é sempre muito marcante e um marco nas suas carreiras.
O primeiro contato dos araucarienses com o Festival de Teatro de Curitiba foi por volta dos anos 2001 e 2002, quando Eliseu Voronkoff (in memorian) assumiu a direção do Teatro da Praça e, juntamente com Ana Paula Frazão, decidiram trazer alguns espetáculos para a cidade. “Não me recordo da data com exatidão, mas a gente foi até Curitiba em um desses anos para conversar com o pessoal do festival e tentar trazer algum espetáculo para Araucária. Lembro que eu, o Eliseu e a Claudinha (Jankoski) fomos até a Calvin Entretenimentos, uma das promotoras do evento na época, apresentamos nossa proposta a eles, e deu certo de trazermos três espetáculos para a cidade. Ali entramos na programação do Festival, do Fringe”, recorda Ana Frazão.
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Araucária pode ter sido a precursora dessa expansão, pois, coincidência ou não, foi a partir de então que o FTC passou a levar espetáculos para outras cidades da região metropolitana. “Abrimos a Casa em 2018 e em 2019 convidamos muitos artistas e amigos para a 1ª Mostra da Casa Eliseu Voronkoff, com 9 dias de programação. Hoje as mostras têm no máximo 5 ou 6 dias. Em 2020 não teve o Festival por conta da pandemia da Covid-19. Em 2021 o FTC voltou, e retomamos a Mostra, mas com um novo formato e um novo nome, ainda por conta da pandemia: Fest na Rua, com uma semana de programação na Praça da Bíblia, ao ar livre”, relata Ana.
Em 2022, a Casa realizou novamente a Mostra, contando com diversas parcerias e uma grande novidade: os espetáculos foram levados para o Centro de Artes e Esportes Unificado (CEU), no bairro Capela Velha. “Essa expansão deu um ‘up’ muito legal ao nosso projeto, nos aproximamos e criamos um laço com aquela comunidade periférica. Ministrei para os moradores uma oficina de teatro e o Fernando Vidal uma oficina de dança moderna. Ainda trouxemos pessoas de fora do Estado para ministrar outras oficinas para as crianças do CEU. Uma delas foi de teatro contemporâneo, que parecia uma coisa muito estranha para as crianças, mas acabou sendo uma experiência maravilhosa”, diz Ana.
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Em 2023 a Mostra da Casa Eliseu Voronkoff trouxe mais espetáculos, com apresentações estendidas para o CEU do bairro Capela Velha novamente, e as oficinas foram ministradas por oficineiros de fora. “Agora em 2025 entramos na nossa 4ª Mostra, com muitas atrações para o público. Teremos os espetáculos de encerramento dos cursos de teatro e de dança, e dessa vez nosso foco está muito voltado à formação, com os oficineiros que traremos de São Paulo. Vamos ocupar vários espaços, como a Casa Eliseu, o CEU, o Teatro da Praça e o Parque Cachoeira. No parque, por exemplo, vamos levar as caixinhas do teatro lambe-lambe, que são espetáculos onde uma pessoa de cada vez pode assistir, um trabalho bem bacana”, prevê Ana.
MAIS DE 10 ANOS DE PARTICIPAÇÕES
Outra participação araucariense no Festival de Teatro de Curitiba foi do produtor cultural Jester Furtado. “Participei do FTC pela primeira vez em 2003, pela Ethos Cia de Teatro, dirigida pelo ator e comediante Marco Zenni. Nessa ocasião, participei na qualidade de ator, integrando o elenco de dois espetáculos”, relata.
Depois disso, Jester retornou ao festival em 2007, dessa vez dirigindo sua própria companhia de teatro, a então CIARTE – Cia Araucária de Teatro. “O primeiro espetáculo foi a montagem ‘Falando de Nós’, que tinha no elenco pessoas como as irmãs Ana e Raquel Kriger, Rick de Souza, Day Loyola e outros. Alguns, inclusive, que estavam sendo iniciados na arte teatral. Depois desse ano, passamos 10 anos consecutivos compondo a programação do Festival”, relembra.
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O produtor teatral conta que espetáculos infantis como Heróis Naturais, Formiga Zinha, Se tem Mamãe eu vou, Trato é Trato não Maltrate os Animais, foram compondo o repertório, entre espetáculos apresentados na rua, em espaços alternativos como a Casa Vermelha, espaços particulares como o Teatro Regina Vogue, Barracão em Cena e Teatro Fernanda Montenegro, além dos teatros da Fundação Guaíra, como o Guairinha, Teatro Londrina, Cleon Jacks e Teatro Zé Maria Santos.
“No início eu tinha a expectativa de que o festival fosse uma vitrine para nós, depois entendi que em uma vitrine o produto importado tem muito mais saída do que o local. Percebi então que, na realidade, o festival era uma oportunidade para seguir respirando teatro, e mais do que isso, um espaço para compartilhar o mesmo ar com outros apaixonados, por isso seguimos participando durante anos. O festival me possibilitou iniciar teatralmente muita gente e dirigir outras que vinham de outras vertentes, tais como Glaucio Karas, Thiago Plana, Arlieta Mansur que, naquela ocasião, abrilhantou nosso Casarão da Rua Malinowa. Pude também contribuir com o desenvolvimento de grandes artistas como Cida Rolim, Artur Costa, Stefani Wrubel (que hoje tem carreira em São Paulo). Foram anos de dedicação e empenho para que Araucária sempre fosse bem representada na cena teatral paranaense”, diz Jester.
A última participação de Jester no FTC foi em 2023, com a Cia Senhores Furtados e o espetáculo “14 de Maio, O dia que Nunca Acaba”, aplaudido por minutos seguidos, por uma numerosa plateia que lotou as escadarias da Igreja Nossa Senhora dos Homens Pretos, enfrentando o sol para prestigiar seu trabalho. “Nos anos que se antecederam, além das montagens já citadas, levamos ao festival espetáculos como: Dolores Pós Parto, Oração, O Casarão da Rua Malinowa e A Paixão segundo Messias”, cita.
STAND UP DO POLACO
O stand up solo Semo Polaco Non Semo Fraco, de Glaucio Karas, que começou em 2008 com apresentações na Cantina da Lídia, foi transformado em peça de teatro pelas mãos do diretor Jester Furtado. Em 2009, já estreava em uma apresentação piloto no Teatro São João, na cidade da Lapa, e neste mesmo ano participou da mostra Fringe do Festival de Teatro de Curitiba.
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“Nossas apresentações foram no auditório da Faculdade Uninter, no Largo da Ordem. Tivemos a felicidade de esgotar os ingressos em todas as sessões. Para mim foi o início da caminhada como dramaturgo e ator teatral, interpretando o irreverente polaco Isidório Duppa”, orgulha-se Glaucio.
Jester montou o roteiro e o elenco da peça, que contou também com a participação da atriz Cida Rolim como Flortcha Duppa, personagem que arrancava risos dos mais “turrões” com seu excepcional talento. “Tenho somente que agradecer a Ciarte, que era a companhia liderada pelo Jester, e ao elenco que me acompanhou nas demais apresentações no início das temporadas em Curitiba. Depois disso ficamos por 10 anos em cartaz, em temporadas no Teatro Barracão Encena, e pude escrever e atuar em mais duas peças: Semo Polaco Non Semo Tanso e Desgracéra Mésmo!!”.
Edição Especial – Aniversário de Araucária: 135 anos.