O empreendedor araucariense Peterson Alves da Silva, mais conhecido como Taco, proprietário de uma borracharia de mesmo nome, está atuando como voluntário desde o início das enchentes no Rio Grande do Sul. Nesse momento ele está na capital Porto Alegre, mas já ajudou em Canoas, ambas entre as cidades mais atingidas. Taco diz que não tem parentes gaúchos e nem conhece ninguém daquele estado, decidiu se voluntariar movido pelo desejo de ajudar. “Estou em Porto Alegre agora, fiquei dois dias em Canoas, ajudando no descarregamento e triagem dos donativos. Quero ir para Pelotas também, lá estão precisando muito, mas tenho receio de ficar ilhado, porque a cidade fica numa região mais baixa. Antes de vir, fiz uma campanha em Araucária para arrecadar donativos, que trouxe para cá. Agora eu estou aqui para dar o melhor de mim”, afirma.
Tako conta que entre os grupos de voluntários já encontrou pessoas do Brasil todo e de outros países como Uruguai, Argentina, entre outros. “Quando eu viva tragédia pela TV, o desejo de vir pra cá ajudar falou mais alto. No ano passado, durante a última enchente, eu já tinha arrecadado algumas doações e enviado ao RS, mas não tive a oportunidade de vir ajudar pessoalmente. Comentei com minha esposa que se houvesse outra situação onde pessoas estivessem precisando de ajuda, eu iria. Esse dia chegou e eu queria fazer parte dessa rede de solidariedade, porque só trabalhamos e vivemos para nós mesmos, geralmente não fizemos nada para somar com outras pessoas. Arrecadei os donativos entre vizinhos e amigos e pessoas que eu nem conheço, lotei minha caminhonete e então chamei um amigo pra pegar a dele e trazermos os donativos para cá e ele topou. Já voltou embora, e eu fiquei aqui sozinho. A situação aqui é muito triste, a gente vê muita coisa feia, vê pessoas desesperadas procurando por familiares que desapareceram, que provavelmente estão mortos. Aqui a gente ouve a todo instante que estão esperando as águas baixarem para resgatar as pessoas mortas. Também estivemos na ilha de Eldorado, lá tem cadáveres boiando dentro das casas, animais também. É algo que nunca imaginamos presenciar um dia, uma tristeza que machuca o coração da gente”, diz o voluntário, com a voz embargada.
O araucariense relata que o drama dos gaúchos está longe de acabar, porque o nível do rio Guaíba continua subindo e existe a ameaça de rompimento de duas barragens. É um caos que nem existem palavras suficientes para descrever”, lamenta.
O empresário Renato Zanoni, proprietário do Hotel San Gabriel, também atuou na linha de frente como voluntário no RS durante vários dias. Ele retornou para Araucária nesta terça-feira (14), porque a parte psicológica, principal desafio para os voluntários, foi duramente afetada. “A gente muita coisa triste lá, a situação está muito feia, aquilo me afetou. Meus filhos estavam com saudade de mim, ligando e chorando pra eu voltar, então não aguentei e voltei para ficar em casa uns dias aqui, depois quero ir pra lá de novo”, comentou.
Zanoni foi para o Rio Grande do Sul juntamente com o grupo Legendários da Primeiro Igreja Batista – PIB Curitiba, que tem como missão o desafio extremo de caráter. “Levamos mais de 300 toneladas de roupas e alimentos, lotamos 4 carretas e ajudamos a carregar tudo, uma equipe ficou no resgate, outra na logística, de noite fazíamos a segurança em três abrigos. Ajudamos de todas as formas. Auxiliamos ainda nos resgates de animais, de todos as espécies, não apenas cães e gatos. É um trabalho incansável e muito doloroso, porque a gente se depara com cenas dramáticas, impossível ficar alheia a tanto sofrimento”, lamentou Zanoni.
Douglas Rodrigues da Silva, proprietário da Center Óleo, mobilizou seu grupo de amigos, mas dessa vez com um propósito bastante desafiador e não para andar de jet ski, como costumam fazer. O grupo tem 160 amigos e de imediato, 20 deles se prontificaram em levar suas máquinas para ajudar nos resgates no Rio Grande do Sul. “Antes de ir conversamos com familiares do RS, que nos relataram a dimensão do problema. Nesse momento meus amigos estão ajudando na capital Porto Alegre e na cidade de Eldorado. Infelizmente não consegui acompanhá-los porque minha esposa está nos últimos dias de gestação”, conta Douglas.
Além de disponibilizar seus jet skis e alguns barcos, o grupo fez uma campanha de arrecadação e as doações surpreenderam. “Enchemos várias carretas de alimentos, água, roupas. Minha vontade era de estar lá também. Mas nossa galera é muito unida e está de parabéns por esta ação. Com certeza fará a diferença em meio a tanto sofrimento”, declara.
Douglas conta que tem recebido relatos chocantes de familiares e amigos que vivem naquele estado. “Um familiar disse que abrigou várias pessoas em sua casa, que os mercados não tem mais comida, eles não têm água potável, que lá está o caos, é muita tristeza”, conclui.
De Araucária também partiu rumo ao Rio Grande do Sul um grupo formado por familiares e amigos do Gilliard. Eles fizeram uma campanha para arrecadar donativos, lotaram duas vans pertencentes à família e seguiram para o estado gaúcho. “Uma delas descarregamos em Canoas e a outra em São Leopoldo, que estão entre as cidades mais atingidas. Vamos continuar com essa campanha e daqui 10 a 15 dias iremos descer pra lá novamente. A ideia é levar mais suprimentos, produtos de limpeza e roupas masculinas, itens que nos informaram estar entre os de maior necessidade nesse momento. O cenário lá é desesperador, difícil descrever com palavras”, falou o araucariense.
O soldador Eduardo Pedro de Almeida, que já fez parte da equipe do Jornal O Popular, saiu de Araucária há cerca de três anos para morar na cidade de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Em três anos em que está lá, já presenciou duas granes enchentes, a primeira em outubro do ano passado, com intensidade bem menor que a atual.
“Aqui a situação está muito difícil, pessoas perderam tudo que tinham. Ainda tem vítimas soterradas, desaparecidas, que só serão localizadas quando as águas baixarem. Durante os serviços de resgate encontraram pessoas há cerca de 40 kms longe de suas casas, o que dá a dimensão da força com que as águas chegaram de forma repentina. É triste dizer isso, mas não consigo ter esperanças positivas para os próximos 30 dias, pois o nível dos rios continua a subir. Minha casa não alagou, mas estou ajudando familiares e amigos que foram durante afetados. É de cortar o coração. A chuva torrencial começou no dia 26 de abril, era dia e noite chovendo sem parar, então as desgraças começaram. Foram muitos deslizamentos de terra aqui na região da serra, os rios começaram a subir, barragens explodiram e toda essa água foi descendo para as partes baixas do estado, deixando o cenário triste que vemos hoje”, lamentou Eduardo.
Eduardo conta o município onde mora ficou isolado de todos os demais e para se locomover dentro do próprio estado, é preciso optar por rotas alternativas. “Com isso, uma viagem que levaria pouco mais de duas horas, acaba levando mais de seis horas. É preocupante, porque vendo a lentidão com que o nível do rio baixa e por vezes volta a subir, não tem como prever que a situação possa melhorar nos próximos 30 dias”, disse.
Ele menciona que apesar de todo sofrimento, é lindo ver o povo se abraçando em torno de uma mesma causa. “Aqui todo mundo está dando as mãos, está se abraçando na causa, porque sem esse gesto, a situação ficaria ainda pior. E sabemos que isso é só o começo, que o rio vai demorar pra baixar, depois é vai começar a reconstrução. Vão vir problemas de saúde do pessoal que ficou exposto às águas sujas, muitos vetores, não dá nem pra imaginar”, afirma.
Eduardo também realiza uma campanha para ajudar as famílias atingidas. Ele está solicitando ajuda via PIX para comprar produtos de limpeza e de higiene pessoal e kits de primeiros socorros. A chave é o celular 54999824737, em nome de Eduardo Pedro de Almeida.