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Uso de celular em sala de aula está prestes a ser proibido pelo governo

Uso de celular em sala de aula está prestes a ser proibido pelo governo
Foto: Divulgação

O uso dos celulares em salas de aula está com os dias contados. O Ministério da Educação está preparando um projeto de lei que prevê banir esses aparelhos nas instituições escolares, medida que deverá valer para todas as instituições do país, sejam elas públicas ou particulares. Segundo o MEC, baseado em estudos científicos, o uso desse equipamento de forma livre para os alunos nas escolas, poderá acarretar sérios prejuízos para o aprendizado. A proibição faz parte de um pacote de ações para reduzir o excesso de uso de telas por crianças e jovens e melhorar a atenção dos alunos em sala de aula.

Para a doutora em Educação, pós-doutora em Diretos Humanos e proprietária do Instituto de Aprendizagem e Desenvolvimento – IAD, Monaliza Ehlke Ozorio Haddad, ocorreram diversas mudanças na concepção da criança e no papel que ela ocupa dentro da sociedade, e isso é resultado da interação entre os fatores biológicos e culturais, que evoluíram nos anos da história humana.

“Nesta evolução temos tecnologia, que pode auxiliar no processo da educação nas escolas, porém quando seu uso é direcionado para a pesquisa e informação. A tecnologia não deve ser utilizada para a busca de conteúdos que não agregam ao aprendizado dos alunos. Infelizmente sabemos que o uso excessivo do celular já vem apresentando consequências negativas, pois atualmente temos crianças e adolescentes mais imediatistas e ansiosos, fato que vem interferindo de forma significativa na qualidade de sono e de vida”, ilustra.

Monaliza diz que é possível equilibrar o uso do celular entre crianças e adolescentes e torná-lo uma ferramenta útil para o aprendizado. “Temos um poderoso instrumento em nossas mãos, quando utilizado de forma correta. A tecnologia pode ser agregada ao entretenimento, ao trabalho, à comunicação e a organização pessoal, sendo que estes aspectos contribuem na organização da rotina escolar”, explica.

Papel dos pais

Os pais tem papel fundamental na vida dos seus filhos quanto à importância do uso responsável e equilibrado do celular. De acordo com Monaliza, eles devem acompanhar o que as crianças estão pesquisando, e posteriormente monitorar o tempo em que as crianças ficam nos celulares.

“Pesquisas orientam que as crianças menores de dois anos não devem usar os dispositivos eletrônicos, crianças de 2 a 5 anos podem usar apenas uma hora diária e crianças de 5 a 10 anos podem usar cerca de duas horas diárias, mas com o acompanhamento dos pais. Eles devem estar cientes do que seus filhos estão vendo e seguindo como referência nas redes sociais”, afirma a psicopedagoga.

“Os Estados Unidos, a Austrália e o Canadá são consistentes em recomendar que crianças de 2 a 5 anos de idade não ocupem mais de uma hora diária de tempo de tela. A Austrália esboça proibir o uso de redes sociais por crianças e adolescentes, onde o governo planeja criar uma lei ainda neste ano para proibir o uso e o primeiro ministro indica que quer as crianças longe dos dispositivos, frequentando campos de futebol, piscinas e quadras de tênis, para que elas possam ter experiências reais”.

Conversa aberta

A Doutora em Educação também acredita ser importante que pais e educadores conversem abertamente com seus filhos/alunos sobre os benefícios e riscos do uso do celular em sala de aula, estabelecendo regras e horários específicos para seu uso. “Essa é uma conversa fundamental para mostrar a real situação sobre o uso e as normas impostas, pois sempre que existe um acordo sobre o que a criança e o jovem podem ou não, conseguimos fazer com que todos possam compreender o que esperamos uns dos outros. Muitos pais parecem estar um pouco perdidos em relação a especificar o que os filhos podem fazer. Parece que essa relação que temos atualmente, de a família tentar agir de forma mais democrática com os filhos, acaba muitas vezes deixando os pais sem direção, pelo medo de se sentirem autoritários”, pontua.

Cada vez mais alunos apresentam dificuldades para escrever à mão. Há casos, inclusive, onde a criança se acostumou desde pequena a manipular o tablet e controles de videogames, e isso acabou afetando sua coordenação motora. “Os pais devem indicar a utilização inadequada e advertir sobre os altos riscos de prejuízos no desenvolvimento das crianças e adolescentes. Estudos mostram que as brincadeiras tradicionais foram esquecidas, como por exemplo, tablets e celulares substituíram o andar de bicicleta, computadores assumiram o lugar do pega-pega e da amarelinha, e a televisão fez as crianças deixarem de lado o pique-esconde e outras diversões”, exemplifica.

Existem estudos comparativos sobre o desenvolvimento das habilidades motoras finas entre crianças que usavam tablets com aquelas que faziam atividades motoras finas no contexto real. Os pesquisadores afirmam que a precisão motora fina e a destreza manual melhoraram em crianças que não usaram o tablet, quando comparadas com aquelas que utilizarem a ferramenta. “Os autores usaram como justificativa o fato de que ações na vida real (como agarrar objetos, desenhar e manusear) envolvem maior força muscular, coordenação e destreza em relação às atividades motoras finas no tablet”.

Indo além em relação ao avanço da tecnologia e a grande facilidade em que se observam crianças tendo acesso a essas ferramentas tecnológicas, Monaliza observa algumas preocupações, como atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor, dificuldade de linguagem, deficiência na interação social, dependência à tecnologia, obesidade. A dependência da internet é um fenômeno global, que está presente em todas as faixas etárias e níveis socioeconômicos”, lamenta.

Na vivência como educadora, Monaliza acredita na importância de os professores resgatarem o recurso dos livros físicos, da leitura, do exercício da escrita e da importância dessas atividades. “Os professores estão fazendo isso constantemente nas instituições escolares, mas a maior preocupação ainda é a necessidade de orientarmos os pais, pois na escola os conteúdos acadêmicos favorecem a pesquisa e a busca por informações, mas em casa muitas vezes as crianças e adolescentes ficam mais ociosos e não tem um acompanhamento pontual ao que estão consumindo nas redes sociais. Muitos alunos preferem a conversa online do que no formato presencial. Além da preocupação sobre o que seus pares estão fazendo, o que pensam e aonde vão, um mundo virtual diferente, muitas vezes distante de um mundo real. As repercussões do uso excessivo de aparelhos eletrônicos no crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes nos preocupa em relação as consequências a longo prazo”, acentua.

Experiência

Monaliza Ehlke Ozorio Haddad é Pós-Doutora em Diretos Humanos pela Universidade de Salamanca – Espanha; Doutora da Universidade de Évora – Portugal; possui Mestrado em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná; Especialização em Psicopedagogia e Didática do Ensino Superior na PUC-PR, Educação Especial UFPR, MBA em Gestão Escolar – OPET. Também é professora de pós-graduação e de Educação Especial, Analista Comportamental e autora de artigos científicos na área educacional na China, França, Espanha e Portugal; além de ser palestrante.

Também é autora de vários livros sobre Educação, Inclusão, Transtorno do Espectro Autista, Desenvolvimento da criança na primeira infância, Educação Ambiental nas Escolas, entre outros temas, e escreveu artigos em revistas sobre Direitos Humanos, Inclusão Escolar, Como Educar os filhos e A importância do Diagnóstico Correto da infância a idade Adulta. Contatos com a autora podem ser feitos pelos Instagram ou Facebook Monaliza Haddad.

Edição n.º 1436.

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