As histórias de indivíduos transplantados são repletas de esperança, superação e gratidão, evidenciando o impacto da doação de órgãos na existência humana. Essas histórias, sempre comoventes, demonstram a resiliência da vida e a relevância de um gesto altruísta capaz de modificar trajetórias. Doar órgãos é um ato de generosidade que pode preservar vidas e mudar a realidade de inúmeras famílias.

Muitas histórias de transplante são compartilhadas para incentivar a discussão sobre a importância da doação de órgãos e tecidos, mostrando que um único doador pode salvar várias vidas. Mostram ainda que, mesmo com os desafios do pós-transplante, muitos pacientes conseguem levar uma vida normal e ativa, praticando esportes, trabalhando e desfrutando de momentos de lazer.

Estes são os dois propósitos dessa reportagem: mostrar a importância da doação e trazer relatos de araucarienses que tiveram uma nova chance, que passaram por uma experiência transformadora, que lhes permitiu recomeçar ou ter uma perspectiva diferente sobre a vida.

O mecânico Juliano de Jesus Martins, tem 43 anos, e fez um transplante de fígado no dia 27 de dezembro de 2024, no Hospital Angelina Caron, em Curitiba. Pai de duas filhas, ele lutou durante anos com uma doença autoimune. “Apresentei problemas desde o nascimento. Meu irmão também teve o mesmo problema e foi transplantado 10 anos antes de mim. O transplante foi a única saída”, relata.

Conheça histórias comoventes de araucarienses transplantados
Foto: Divulgação. Juliano de Jesus Martins fez um transplante de fígado no dia 27 de dezembro de 2024.

Juliano ficou na fila de espera em três momentos distintos. A primeira vez ficou por cerca de dois anos, em São Paulo, onde residia. Na segunda vez, desistiu após um ano e meio de espera e optou por cuidar da saúde de outras maneiras. A última vez ficou na fila de espera por aproximadamente quatro meses, em Araucária, e foi quando recebeu o órgão. Um tempo de espera que ele considera normal.

“Durante esse período, eu estava muito debilitado, sofrendo de insônia e coceira intensa por conta do acúmulo de bilirrubina no sangue, o que causa icterícia (amarelamento da pele e olhos). A sensação que tive foi uma mistura de medo e alívio, pois vislumbrava a chance de retomar uma vida normal, livre dos problemas que me afligiam. A notícia que havia aparecido um fígado pra mim foi repentina, não tive muito tempo de pensar. Fui imediatamente encaminhado para o hospital e entrei na sala de cirurgia. Quando me dei conta já estava apagando devido à sedação, para receber um novo fígado”, conta.

A recuperação do mecânico foi considerada pelos médicos satisfatória e rápida, com apenas uma intercorrência. “Foi necessária uma segunda cirurgia para corrigir um problema em uma das veias que conduziam ao fígado, a qual havia se fechado, mas rapidamente foi contornado”.

Após seis meses do transplante, ele diz que leva uma vida normal e muito boa. “Sinto-me mais forte, ágil e resistente do que antes. Não possuo quase nenhuma restrição, a não ser evitar o consumo de carne e gordura suína por um ano, conforme orientação médica. Fora isso, minha dieta é livre. A medicação que utilizo se resume a dois medicamentos para evitar a rejeição do órgão, o que é comum em transplantados, pois existe um corpo estranho no nosso organismo”, afirma.

Por decisão da família do doador, Juliano não sabe quem lhe deu uma nova chance de vida. “A pessoa que recebe o órgão só pode ter contato com a família do doador se eles manifestarem esse desejo”, disse.

O araucariense declara que sempre foi doador de órgãos e também de sangue, inclusive foi durante uma doação que descobriu a doença no fígado. “Já deixei claro para minha mãe e meu irmão que, caso algo aconteça comigo, autorizo a doação de todos os órgãos possíveis. E ainda deixo uma mensagem de esperança para as pessoas que aguardam na lista de espera. Sei que é um momento difícil, mas mantenham a fé. Peçam a Deus com fervor e confiem no processo, pois no momento certo, Ele realizará”.

Jennifer Chiamulera Stanczyk, 37 anos, é empreendedora, casada e não tem filhos. Sua história é ainda mais comovente do que as demais, pois a doadora é sua própria mãe. Isso mesmo! Jhennifer teve os rins atrofiados e paralisados, ficou dependente de hemodiálise por um bom tempo, até descobrir que a mãe era compatível.

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Foto: Divulgação. Jhenifer ganhou um rim novo da própria mãe.

“Fiz o transplante em 2022, no Hospital Cajuru, em Curitiba, onde até hoje faço o acompanhamento. Aguardei um ano por um novo rim, fiz muitos exames, e sou grata à minha mãe por ter doado um rim pra mim. É claro que a gente sempre esperava que o órgão viesse de um doador falecido, para que minha mãe não precisasse conviver com apenas um rim, mas os médicos tranquilizaram dizendo que ela teria uma vida normal”, comenta.

A cirurgia de transplante sempre tem seus riscos, mas Jhennifer se sente privilegiada por tudo ter dado certo e por ela e a mãe estarem vivendo bem. “Por termos o mesmo sangue, facilitou um pouco, não tive complicações e nenhum sinal de rejeição do organismo. Hoje tenho a liberdade de poder viajar novamente, sem a preocupação de ficar sem a diálise”, comemora.

Suas únicas restrições são evitar álcool e tomar os remédios corretamente pro resto da vida, além do acompanhamento médico, pro resto da vida também. “Para quem hoje está na fila do transplante, não deixe que a espera afete seu dia a dia. A ansiedade existe, mas saiba que o transplante vai te livrar de um sofrimento”.

A dona de casa Nilce Gonçalves dos Santos, 59 anos, já trabalhou fora, vendia lanches. Nasceu em Chopinzinho (PR), mas está morando em Araucária há mais de 20 anos. É casada há 43 anos, tem um casal de filhos e quatro netos. Seria a história perfeita de uma família feliz, não fosse o grave problema de saúde que ela enfrentou durante muitos anos. Em 2016, recebeu o diagnóstico de uma hipersensibilidade pulmonar. Ficou cerca de 11 anos em tratamento, até o transplante.

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Foto: Divulgação. Nilce ficou cerca de 12 anos em tratamento até receber um novo pulmão.

“No início fiz um tratamento como se fosse uma gripe, no Hospital Evangélico de Curitiba, por cerca de um ano. Depois me encaminharam para o Hospital de Clínicas para fazer uma biópsia do pulmão. Continuei o tratamento lá até verem que não tinha resultado. Então perguntaram se eu queria ir para São Paulo ou Porto Alegre, porque aqui não faziam transplante de pulmão. Escolhi São Paulo, porque tenho parentes e lá moramos lá por quase 10 anos, onde fiz o transplante, no Instituto do Coração -InCor”, relata.

Nilce ficou 8 anos e meio na fila, tanto que em 2015 os médicos falaram para ela voltar para casa, pois já desacreditavam no transplante. “Não voltei e disse para o médico que queria continuar esperando e que só Deus sabia quando seria a hora. Eu já estava com 25% do pulmão funcionando e usava oxigênio 24 horas por dia. Às vezes até para escovar o dente era difícil, pois eu estava totalmente dependente do oxigênio. Só saia pra ir ao hospital ou dar uma voltinha na rua, porque mesmo usando oxigênio eu sofria bastante. Mas nunca perdi a fé”, conta emocionada.

A dona de casa lembra como se fosse hoje o dia em que recebeu a notícia de que havia surgido um doador. “Foi numa sexta-feira à noite. Tinha ido ao mercado do outro lado da rua, por insistência do meu marido. Após 20 minutos que estávamos lá, o Dr Eduardo ligou e falou com o meu marido, que havia possibilidade de sair o meu transplante. Ele começou a chorar e eu fiquei apavorada na hora, porque pensei na minha mãe. Ele falou: ‘Vamos largar todas essas compras e voltar pra casa. Me catou pela mão e saímos. Então me contou sobre a ligação do médico. Nem acreditei, fiquei super feliz”, recorda.

Eu tinha que estar no hospital às 21h, fui pra casa e tomei um banho rápido, e saímos na maior felicidade, me imaginava o que viria pela frente. Após fazer todos os exames necessário, fui para a sala de cirurgia eram 5h da manhã”.

Nilce teve algumas intercorrências depois do transplante. No primeiro ano correu tudo bem, mas do segundo ano em diante teve rejeições. “Graças a Deus deu tudo certo e agora faz três anos que eu estou tranquila. Faço consultas e exames de rotina a cada dois meses, lá em São Paulo. Hoje tenho liberdade pra fazer tudo que quero, sem ficar presa a um cilindro de oxigênio. Apenas quando vou a um lugar de muito movimento, tenho que usar máscara. Tomo as medicações certinhas e hoje levo uma vida normal, graças a Deus”, festeja.

A dona de casa sabe que a doadora do pulmão foi uma mulher de 34 anos, que teve morte cerebral após sofrer um acidente. “A família decidiu doar seus órgãos e eu tive uma nova chance. Acredito que a doação de órgão é uma bênção na vida das pessoas, porque o doador pode salvar muitas vidas. Se não fosse a doação, eu não estaria aqui contando minha história”.

Pela experiência que viveu, Nilce aconselha os filhos a serem doadores de órgãos. “Também falo que a hora que eu partir para outra vida, eles podem doar todos os meus órgãos que forem possíveis.

Três meses após ter realizado seu maior sonho: ser pai, W.S., que preferiu ficar no anonimato, foi diagnosticado com LMC (Leucemia Mieloide Crônica). Era o ano de 2015. “Ao receber a notícia, meu mundo desabou e tudo parecia perdido, pois sem conhecer nada sobre a doença, só pensava que não teria muito tempo de vida e não teria a oportunidade de ver minha filha crescer”, relembra.

Após o diagnóstico, W.S. iniciou o tratamento via oral no Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba. Tentou todas as alternativas possíveis, porém sem sucesso, e o único medicamento que era eficiente, o governo não fornecia devido ao alto custo. Sendo assim, seguia lutando contra a doença, sentindo muitas dores diariamente, as quais só amenizavam com o uso de morfina. “Eu estava enfraquecendo e a situação vinha piorando, até que meu corpo já não estava mais aguentando tantos medicamentos e internações”.

Foi então que os médicos lhe disseram que a única alternativa seria o transplante de medula óssea. Era o começo de uma nova luta, na tentativa de encontrar um doador compatível. Poderia demorar muito tempo, e tempo era o que ele não tinha naquele momento.

Após vários exames e um período de espera, descobriu-se que os irmãos de W.O. eram 100% compatíveis. “Logo iniciei meu preparo para o transplante, com quimioterapias e radioterapias, entre outros medicamentos, 24 horas por dia, durante minha internação, até o dia do transplante. Fiz o primeiro transplante e a medula pegou, porém três meses depois a doença voltou ainda mais forte. Fui internado novamente para fazer tudo de novo, para o segundo transplante, e felizmente a medula pegou”.

Após dois anos transplantado, o araucariense ainda luta contra algumas complicações, mas afirma que vive para ver a filha crescer, ver a família bem, e poder trabalhar e ter uma vida normal. “A doação da medula salvou minha vida. Eu e meus irmãos somos doadores de órgãos, e através de nós, poderemos dar a oportunidade de viver para aqueles que esperam uma única chance, uma doação”.

Edição n.º 1474.