Diante das exigências do seguimento a Jesus, os discípulos se dirigem a ele pedindo para que aumente a sua fé. E o Mestre usa imagens do cotidiano para fazer crer neles a possibilidade de fazer coisas maravilhosas. Compara a fé com um grão de mostarda, mas, que depois de crescido, abriga os pássaros debaixo de seus ramos. Assim também o discípulo que mantiver a sua fé, será capaz de transpor uma amoreira até a beira do mar. Ou seja, movido pela fé, será capaz de realizar obras extraordinárias.

A verdadeira fé se manifesta através de atos concretos, que movem o discípulo a seguir o Mestre e fazer em tudo a sua vontade. Poderíamos dizer que a fé se amplia e aumenta, na medida em que o discípulo for fiel ao Mestre, através das suas atitudes de amor, de entrega, de doação e de compromisso com a missão. Nesse sentido, a fé não é algo puramente abstrato, mas uma ação como a de Abraão, que sai da sua terra, agindo movido pela certeza de que Deus está com ele e o acompanha em sua caminhada. Ele acreditou contra tudo e contra todos, e se colocou a caminho. Quem diz que crê, mas, não se move, fica fechado em seu casulo e em seus medos, não compreendeu o que significa viver a fé no cotidiano.

Aquele que crê, coloca em movimento todos os dons que Deus lhe deu na gratuidade, a serviço do próximo. A fé é uma ação que se manifesta na luta diária, no amor ao irmão, na superação das dificuldades e das exigências do dia a dia. A pessoa movida pela fé, aos poucos percebe que tudo é dom de Deus e não mérito próprio. Por isso que Jesus vai afirmar que, depois de termos feito tudo, só nos resta dizer: ‘fomos servos inúteis. Fizemos apenas o que deveríamos ter feito’. Inúteis no sentido de que não é mérito nosso o bem que fizemos ao outro, contrário à ‘religião dos merecimentos’. Não podemos nos considerar maiores e melhores e mais merecedores da salvação por aquilo que fizemos, pois tudo é dom e graça de Deus.

A nossa passagem nesta terra é breve, é curta, é um sopro e tudo que fizermos de bom, é mais do que nossa obrigação. Se nos acharmos merecedores da salvação pelo bem que realizamos, isso no fundo é um ato egoísta, no sentido de nos julgarmos melhores do que os outros. Pelo contrário, somos chamados a continuarmos humildes e sempre mais abertos à graça e ao amor de Deus. Na verdade, só somos felizes plenamente, na medida em que nos colocamos com o coração disponível a ajudar a quem precisa.

A fé nos move em direção ao outro, como instrumentos que se dispõem a ajudar a quem surgir em nosso caminho.

Quando pedimos para aumentar a nossa fé, a exemplo dos discípulos, desejamos na verdade ser fiéis no amor aos irmãos, até as ultimas consequências, se necessário for. A não desanimar diante das adversidades, diante das frustrações e decepções que eventualmente possam ocorrer durante a caminhada. Mas, a permanecermos firmes na fé, acreditando sempre na força e na graça que nos é concedida do alto. Sozinhos nós somos frágeis, mas, na medida em que acreditamos e nos deixamos guiar pela força que vem de Deus, nos mantemos sólidos e fortes como a rocha. É Ele o nosso amparo e fortaleza e, exatamente por isso, somos servos inúteis, cuja única razão de ser é servir.

Edição n.º 1485.