Em dezembro de 2019, o mundo começava a falar em um tal de coronavírus. Em janeiro e fevereiro de 2020, já se comentava a respeito de um vírus mortal que se espalhava rapidamente. Mas foi no dia 11 de março de 2020 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia da Covid-19. Com os primeiros casos confirmados e as primeiras mortes anunciadas, o mundo se deu conta da gravidade da doença.
No Brasil, o primeiro caso foi confirmado em 26 de fevereiro de 2020 e a primeira morte em 12 de março. No Paraná, o primeiro caso confirmado foi registrado em 12 de março e a primeira morte ocorreu em 6 de abril. Trazendo o panorama da doença para uma realidade mais próxima, em Araucária, tivemos o primeiro caso de Covid 19 confirmado em 1º de abril e a primeira morte ocorreu em 8 de junho.
Um ano já se passou, com muitas pessoas, hospitais superlotados, colapso na saúde e a economia sofreu fortes impactos.
Mas como será que os araucarienses conviveram com essa nova realidade? O Jornal O Popular conversou com psicóloga, comerciantes, associação comercial, pais de alunos e outros setores, para ouvir deles quais foram as principais dificuldades que enfrentaram nesse ano em que a pandemia transformou suas vidas.
Texto: Maurenn Bernardo
Comércio foi um dos setores mais afetados
Em um ano de pandemia, o comércio de Araucária foi um dos segmentos que mais sofreu. Com portas fechadas, alguns comerciantes precisaram encerrar suas atividades e do dia pra noite, muitos foram obrigados a se adaptar ao novo modelo de negócio, apostando em entregas por delivery, vendas pela internet, e outros modelos de atendimento aos clientes, que não fosse o presencial.
O presidente da Associação Comercial, Juscelino Katuragi, lembra que entre os comércios mais afetados estão as lojas de vestuários e calçados, enquanto comércios que trabalham com produtos alimentícios, ainda tiveram mais condições de investir em outros modelos de venda e entrega. “O pequeno comerciante reclamou muito porque enquanto estava fechado, redes de supermercados vendiam roupas e calçados em seus lugares. Mas dentro de uma perspectiva otimista, nosso município ficou em condições mais favoráveis que tantos outros, pois somente agora que tivemos um decreto mais rígido, os anteriores foram mais flexíveis com o comércio”, comentou.
Katuragi salientou ainda que a força de vontade e a criatividade de muitos comerciantes foram fundamentais para que se mantivessem firmes, mesmo durante a pandemia e a crise financeira. “Comércios de alimentos investiram forte no delivery, take away, lojas de outros artigos também se reinventaram com vendas pelo whatsapp, e outros meios. Isso foi muito importante porque diante de tantas incertezas na economia, não dava pra ficar parado”, ponderou o presidente da ACIAA.
Ele mencionou ainda que é contra o fechamento das lojas, já que na sua opinião, o vírus não circula no comércio, mas nas confraternizações, eventos, happy hours, e outros pontos de aglomerações. “O comerciante se cuida, segue as regras de higienização. Infelizmente vivemos em uma sociedade onde a visão de muitos acaba sendo pequena diante dos problemas, o que falta é uma fiscalização bem mais rigorosa, aplicação de multas severas, enfim, uma lei que valha para todos, sem favorecimentos, e sem prejudicar apenas os mais fracos”, pontuou. “A ACIAA está à disposição dos comerciantes para ajudá-los no que for possível. Precisamos trabalhar juntos nesse momento difícil, para que possamos nos fortalecer”.
Restaurantes se reinventaram
Outro setor duramente afetado, os serviços de alimentação também sofreram os impactos da crise instaurada pela Covid 19. Para não fecharem suas portas pelo acúmulo de contas que, mesmo com o isolamento social, não pararam de chegar, eles se reinventaram. Conseguiram se adequar ao sistema de delivery e até mesmo aumentaram o faturamento, uma vez que com mais pessoas em casa, o número de pedidos aumentou expressivamente.
Kamila Knapik, do Campestre Grill, disse que a perda de clientes foi inevitável nesse tempo de crise. “Foi um ano bem desafiador. Perdemos em média 50% da clientela devido à pandemia, também tivemos um grande aumento no preço dos insumos, isto tudo acarretou uma queda enorme na nossa receita, nos obrigando a reduzir o quadro de colaboradores e enxugar ao máximo todas as despesas possíveis”, lamentou.
Após 20 anos de fundação, esta foi a maior crise enfrentada pelo restaurante. “Acredito que agora estamos passando pelo momento mais difícil, após 12 meses sobrevivendo e com esperança de uma melhora, vemos a situação da pandemia se agravar. Com isto, infelizmente temos que tomar novas medidas durante estes dias mais críticos. Estamos com nosso salão fechado para consumo no local e atendendo apenas na modalidade take away. Nos resta agora a esperança de dias melhores para que possamos retomar com nosso buffet e voltar a ver nosso salão lotado”, confia a empresária.
O desafio do ensino remoto para os pais
Desde que as escolas tiveram suas aulas presenciais suspensas, em março de 2020, por conta da pandemia de coronavírus, as famílias tiveram que se adaptar à uma nova rotina. Crianças em casa o tempo todo, com o desafio de participar das aulas de modo remoto. Muitos tiveram que conciliar trabalho e a educação dos filhos, quase que em tempo integral.
A manicure Jeissy Anne Batista Teixeira, mãe da pequena Bianca, de cinco anos, que está na turma do Infantil 5, conta que o ensino à distância tem sido um desafio enorme. “Eu como mãe me vi se desdobrando em mil para poder auxiliar minha filha nas tarefas. O ambiente escolar faz parte do desenvolvimento de nossos filhos, e infelizmente com a pandemia que estamos vivendo, isso se tornou inviável”, lamentou.
Jeissy confessa que tem muita dificuldade em passar o ensino para a filha, que nem sempre tem disposição em realizar as tarefas, já que em casa existem inúmeras outras distrações. “Eu espero em breve poder ver ela vestida com o uniforme e pronta para encontrar os coleguinhas de classe, porque a socialização também faz parte do crescimento e desenvolvimento, e dentro de casa é uma realidade distante do ideal”, comentou a manicure.
Publicado na edição 1253 – 18/03/2021
Nossa saúde mental está em perigo
Um estudo feito em dezenas de países no segundo semestre de 2020, relatou níveis significativos de propensão à ansiedade e depressão associadas aos impactos da pandemia. Profissionais da Psicologia passaram a atender pacientes num cenário muito diferente do que estavam acostumados. Atendimentos em uma modalidade até então não experimentada, através de telas de computador e celulares. Era o começo de um contexto até então desconhecido para todos.
Para a psicóloga Fabíola Karas, a Covid 19 é uma doença terrível, que desencadeou uma crise jamais vista de Saúde Mental, em função das perdas de vidas de pessoas próximas, familiares, amigos. “Pessoas estão vivendo momentos de angústia, desespero, medo do desconhecido. Sintomas desencadeados por situações que também se referem à crise econômica, gerando dificuldade em manter as necessidades mais básicas, conflitos foram desencadeados nos ambientes familiares, enfim, tudo mudou. O que sabemos com certeza, é que as pessoas foram afetadas, em todas as áreas de suas vidas. Entendemos com bastante exatidão que será necessária uma reorganização dos Serviços de Saúde Mental, tendo em vista que a maioria da população não tem acesso ao Atendimento Psicológico em Consultório Privado”, esclarece.
Dra Fabíola cita Dévora Kestel, diretora do Departamento de Saúde Mental e Uso de Substâncias da OMS, a qual observa que “a ampliação e reorganização dos serviços de saúde mental, em escala global, é uma oportunidade para construir um sistema de Saúde Mental adequado para o futuro. Isso significa garantir acesso a saúde mental e assistencial social de qualidade para as pessoas”. Nesse contexto, ela ressalta a importância do acompanhamento psicológico em situações que forem identificadas de crise, angústia, medo, que caracterizem sofrimento para a pessoa.
Clínica de estética apostou no atendimento online
As clínicas de estética entraram para o time dos que foram prejudicados pela Covid 19. Muitas vezes com os atendimentos temporariamente suspensos, algumas dessas empresas tiveram que investir nos serviços remotos, dentro do que era possível. A Clínica Lenise Sokulski, que oferece tratamentos de emagrecimento e estética, descreve o ano de 2020 como desafiador. “Costumo chamar de desafio, para não falar palavras que clamam para o lado negativo, como reclamar, onde você clama o problema duas vezes. Fomos todos pegos de surpresa, pois jamais poderíamos imaginar que essa crise sanitária se estenderia tanto e muito menos que sofreríamos de tal forma com a crise financeira. Infelizmente faltou consciência de muitas pessoas com relação aos períodos que passamos em lockdown. Nossa empresa passou cerca de 100 dias de portas fechadas, quando não foi pelo lockdown, foi pelo medo por parte dos pacientes”, relembrou a empreendedora Lenise.
Mesmo diante de todos esses desafios, ela afirma que nunca passou pela sua cabeça a ideia de desistir. “Eu, Lenise Sokulski, tenho um propósito de vida que é servir pessoas e quando você serve pessoas, você não está servindo as pessoas em si, você está servindo a Deus e quando você serve a Ele, as coisas fluem. Graças a Deus tenho um gestor que é meu marido Denis, que mesmo diante de todas as dificuldades, sempre me passa segurança e de maneira positiva afirmava que o momento de crise ia passar e de fato, dia após dia, vai passando”, disse emocionada.
Para se manter firme durante a pandemia, a Clínica Lenise Sokulski também tem aperfeiçoado suas redes sociais e está sempre procurando fazer o melhor, para atender seus pacientes com segurança. “Disponibilizamos um link de consulta on-line, onde os pacientes relatam suas queixas e dessa forma conseguimos montar protocolos à distância, sendo possível realizar o tratamento em casa. Também procuro seguir um estilo de vida saudável e posto nas redes sociais (Instagram e Facebook), com o objetivo de ajudar a todos, inclusive aquelas pessoas que não possuem condições de estar conosco fazendo tratamento no momento”.
Professora se reinventou para superar a crise
Se para as empresas constituídas está sendo difícil enfrentar a crise financeira, que veio na esteira da pandemia, para os profissionais autônomos, a situação é ainda mais tensa. A professora de Geografia, Ana Sandrine Souza, 41 anos, se viu diante desse dilema. Mas como ela sempre foi apaixonada pela arte do churrasco, decidiu unir o útil ao agradável, para compor sua renda. E agora ela se prepara para inaugurar um carrinho de lanches, onde vai vender churrasco no pão. “Minha história começou há alguns anos, quando comecei a fazer churrasco em casa. Comecei por paixão e há um ano atrás, bem no início da pandemia, me veio a ideia de agregar as duas paixões do brasileiro, que são o pão e o churrasco, só que eu não tinha tempo, por ter uma demanda de aulas muito grande. Mas esse ano, em especial, devido a todas as situações de mudança no sistema de ensino, teve uma diminuição na grade e perdi as aulas que eu sempre costumava pegar. Peguei uma quantia que não foi suficiente para me manter. Então, eu e minha amiga Patrícia Soares decidimos colocar essas ideias em prática. Ela me incentivou muito”, contou Ana.
Após muitas pesquisas, ela decidiu que abriria um carrinho ambulante, para vender o churrasco no pão. “Os primeiros testes deram certo, e no sábado, dia 20, vou inaugurar oficialmente meu carrinho, só que estarei em frente à minha casa, apenas para vendas delivery e retirada no local, em função dos últimos decretos. Espero que essa iniciativa dê certo e que eu consiga me mantar nessa pandemia”, disse a professora.
Quadras esportivas paradas e prejuízo para os donos
As quadras esportivas dependem exclusivamente de atividades coletivas (treinos e jogos) e como a junção de várias pessoas em um mesmo espaço está entre as principais causas do aumento nos casos de Covid 19, o setor foi um dos mais afetados pela pandemia. Os proprietários desses espaços se viram diante de um dilema, manter as portas fechadas e se virar pra pagar as despesas, ou fechar. Pady Felipe Galize Miguel, proprietário da Quadra de Futsal do Pady, disse que enfrentou sérias dificuldades durante os seis meses em que ficou fechado no ano passado. “Eu tive muito azar, comprei aqui em março do ano passado, lembro que efetuei o pagamento em uma quinta-feira, e na sexta-feira a pandemia fechou tudo. Aquela euforia do início foi se transformando em frustração”, recorda.
Ainda assim, Pady acredita que as medidas foram necessárias para evitar o contágio da doença, diante do aumento no número de mortes. “Eu ainda consegui me virar por um tempo, dando alguns treinamentos funcionais na quadra, todos individualizados e com os cuidados necessários. Mas estamos em uma situação cada vez mais difícil, um período que ninguém gostaria de estar passando. Hoje eu peço a Deus que cuide da minha família primeiramente”, pontua.
A essencialidade das academias
As academias, mesmo sendo essenciais para manter a saúde e a qualidade de vida e aumentar a imunidade das pessoas, principalmente durante a pandemia da Covid 19, foram duramente prejudicadas pela instabilidade imposta pelos decretos, uma hora liberando a atividade, outra hora proibindo. Para o casal Cesar Furtuoso e Glória Maria Strugala Furtuoso, proprietários da Furfit Academia, localizada na área rural de Capinzal, o ano foi complicado. “Acreditávamos ser uma situação de momento, mas estamos há aproximadamente um ano de pandemia, vivendo dia após dia no nosso setor. Muitas academias fecharam nesse período, e quando achávamos que estava melhorando, veio uma onda ainda maior”, destacou Glória.
Segundo ela, entre abre e fecha, a academia tentou manter seus alunos ativos, gravando aulas, mas apenas 5% dos alunos aderiram a ideia e em relatos deles, o desejo era sair de casa para ir até a academia ou outro espaço para fazer atividade física. “Mais difícil que isso foi a reabertura da academia, os alunos com medo ainda, o aprender a fazer atividade física usando a máscara, as mensalidades em haver, contas atrasadas, a passos de formiga as coisas foram se ajeitando, os alunos retornando e vendo toda segurança, cuidados e protocolos seguidos pela academia para enfrentar a pandemia. Somos um dos locais mais seguros devido a esses protocolos. E agora esse pesadelo novamente, esse abre e fecha, o pior de tudo é que sabemos que poucas pessoas cumprem o decreto, tornando o loock down ineficiente. Também estamos com o projeto da Escolinha de Futebol Furfit, mas devido aos decretos, não conseguimos colocar em ação ainda, esperamos que tudo isso passe logo e possamos dar continuidade ao nosso trabalho”, lamentou Glória.
Setor de eventos vive a maior crise da sua história
Desde o início da pandemia, a suspensão de atividades como festas de casamento, festas de aniversário, confraternizações de empresas, congressos, entre outros, levaram o setor de eventos a perdas irreparáveis no seu faturamento, além da demissão de funcionários, e da necessidade de vender alguns equipamentos e materiais para conseguir bancar as contas. Os empresários Carlos Antonio Gerszewski e Sueli Terezinha de Oliveira Gerszewski, proprietários do Elegância Espaço de Eventos, localizado no Campo Redondo, abriram o local em setembro de 2019, e poucos meses depois já se viram diante de uma pandemia mundial. No caso deles, a situação financeira só não provocou o fechamento das portas porque o espaço foi construído em um local próprio. “Deixamos de realizar muitos eventos e de gerar renda com isso, mas graças a Deus não temos que pagar aluguel, por isso não foi necessário se reinventar para pagar as contas”, afirmam.
Os empreendedores entendem que a situação não está difícil apenas para eles. “No nosso setor, para realizar um evento, contamos com muitos profissionais de nossa confiança, os quais também estão parados. No entanto, o momento é crítico e precisamos pensar principalmente na saúde de todos para que em breve possamos voltar a promover grandes eventos e realizar muitos sonhos, com total segurança”.
Publicado na edição 1253 – 18/03/2021