O araucariense Gilberto de Paula, 35 anos, é um dos muitos artistas que sofreram com os impactos da pandemia. Músico profissional, tocou na noite, em bares de Araucária e região, por 20 anos. Com o cachê que recebia, conseguia manter tranquilamente a família – Gilberto tem dois filhos, um de quatro e outro de 14 anos. Mas o vírus chegou e minou todas as suas esperanças. Lhe trouxe o desemprego e no embalo dele, uma depressão. Com os bares fechados e com as bandeiras cada vez mais restritivas, Gilberto se viu obrigado a parar de fazer o que ele mais gostava: tocar seu violão e cantar. “Fiquei confinado em casa. Sem emprego e sem a música, que era uma fonte de renda que eu tinha, comecei a ficar deprimido”, conta.
Ele lembra que os noticiários na época mostravam pessoas perdendo seus empregos, sem poder sair de casa, entrando em depressão. Recorda do anúncio do auxílio emergencial, que levou milhares de pessoas à Caixa Econômica, amargando horas na fila, para pegar o dinheiro. “Naquele momento, falei com a minha mãe (morava com ela) que precisava fazer alguma coisa para tentar melhorar, sair dessa depressão e ajudar as pessoas. Ela perguntou o que eu ia fazer, então eu disse: vou lá na frente da agência da Caixa do CSU, vou levar café em copos de plástico para as pessoas e tocar minha música. Pelo menos enquanto elas esperam, terão algum tipo de entretenimento. Porque aquele clima de fila é difícil, ninguém fala nada, e às vezes a pessoa fica ali por 2 ou 3h até ser atendida. Criei coragem e fui até lá”, disse Gilberto.
Ele contou que chegava por volta das 7h30 ou 8h, levava o cafezinho, ia oferecendo para as pessoas e depois abria o violão e começava a cantar. “As pessoas achavam aquilo diferente e foi bacana, tanto pra mim quanto para elas, porque pelo menos tinham um entretenimento e o tempo passava mais rápido. Aquilo também ajudava a melhorar meu quadro de depressão. Eu ia todos os dias e após cerca de duas semanas, como eu tenho um case no violão, uma senhora passou e jogou R$2, depois passou outra e jogou mais R$1. Então eu decidi unir o útil ao agradável. Afinal, eu estava desempregado e aquilo poderia ser uma forma de alegrar as pessoas e, de quebra, ganhar um dinheiro. Eu não pedia nada, elas davam voluntariamente, e aquilo começou a movimentar a minha vida financeira, porque também tenho contas para pagar, precisava capitalizar de uma forma mais rápida. Como as filas já estavam menores, porque passou um período de três meses, vi uma pessoa no sinaleiro, entregando balinhas, e decidi ir até também, fazer um teste. Não ia pedir, ficaria ali tocando e quem quisesse poderia ajudar. Comecei a cantar, algumas pessoas baixavam o vidro para ouvir a música, algumas colaboravam, outras não. Por dia dava para uma boa grana”, disse Gilberto.
O fato é que o tempo passou e o músico conseguiu um novo emprego, mesmo porque, não tinha parado de enviar currículos. Mesmo empregado, ele não queria mais abandonar aquela atividade, que lhe dava prazer e alegrava as pessoas. “Comecei a ir lá no sinaleiro nos finais de semana e eventualmente nos finais de tarde. Mas eu só queria cantar, sem pedir nada, porque agora estava estabilizado financeiramente, graças a Deus. E hoje ainda estou lá, levando cultura e música às pessoas. E pode ter certeza que eu já ajudei muita gente, vi pessoas que estavam chorando e abaixaram o vidro para agradecer a canção. Consegui levar mensagens de esperança, cantar para as crianças, porque eu procuro variar o repertório. Se tem mais crianças na rua eu canto pra elas, geralmente cantigas infantis. Para as pessoas mais velhas canto um sertanejo das antigas, música caipira, e para as pessoas mais novas, mando um pop rock, um sertanejo universitário”, comenta.
Gilberto diz que agora canta para as pessoas, sem nenhuma pretensão financeira, porque afirma que o artista nem sempre precisa de dinheiro, às vezes ele só precisa de um incentivo. “A gente só quer levar uma mensagem artística, mostrar nosso trabalho e que a música está na vida de todo mundo e sempre vai estar”.
Serviço
O músico Gilberto de Paula faz shows em festas, aniversários e outros eventos. Para contratá-lo, o telefone de contato é o (41) 99706-8862.
Texto: Maurenn Bernardo
Publicado na edição 1271 – 22/07/2021