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A gratuidade evangélica

A boa nova do evangelho, pregada por Jesus durante seus anos de ministério às margens do mar da Galiléia tinha como centro, a gratuidade. Todas as suas orientações, todos os seus gestos e ações, eram totalmente gratuitos, sem esperar absolutamente nada em troca. E era isso que ele também tentava passar para os seus apóstolos, que, com certeza, a princípio seguiram Jesus pensando em alguns privilégios. A passagem da mãe dos filhos de Zebedeu evidencia isso, quando pede a Jesus que coloque seus filhos um a sua direita e outro a sua esquerda no Reino dos Céus. A reação dos demais foi de indignação, provavelmente porque se sentiram desprezados e cada um buscava ser o primeiro. Assim também Pedro, certo dia chegou a perguntar a Jesus o que eles receberiam em troca, por terem abandonado tudo para segui-lo. E ele responde dizendo que não receberiam nenhum benefício econômico ou emocional, mas o cêntuplo (amigos, famílias) aqui na terra e mais a eternidade.

Toda a pregação de Jesus era feita de modo espontâneo, sem nenhum interesse pessoal, sem pensar em vantagens individualistas. Tudo o que ele fazia, visava o bem do próximo, a sua plena realização, a cura dos males, enfim, uma vida plena. Sua alegria não consistia em receber alguma devolução, mas em perceber que o outro estava melhor e curado. Nada ficaria sem recompensa, disse o Mestre, e isso não significava algo material, mas um coração livre e plenamente realizado, por ter feito um gesto concreto de amor em prol dos pequenos e mais necessitados. São Paulo, como fiel seguidor de Jesus vai dizer que ‘existe muito mais alegria em dar do que em receber’. Com certeza, aprendeu essa verdade na escola do Mestre e sua vida também foi uma doação em prol do bem do próximo.

Como seguidores de Jesus, somos convidados a aprender na sua escola, a grande arte da gratuidade. Num mundo cheio de interesses pessoais, de vantagens, pautado pelo egoísmo materialista, seja no campo político, empresarial e até no campo religioso, a mensagem do Salvador soa como um grande desafio. Parece que fazer algo de modo totalmente gratuito e desinteressado sem qualquer devolução, tornou-se quase que impensável e impossível. Surge quase que de modo imediato a pergunta: ‘e o que eu ganho com isso?’ Ou então: ‘por este preço, eu prefiro ficar em casa’. Não estou com isso dizendo que as pessoas deveriam fazer tudo gratuitamente, pois cada um precisa ganhar para a sua sobrevivência pensando no bem da sua família. O trabalho remunerado dignifica o ser humano e toda a sua prole.

Um coração capaz de amar na gratuidade, nunca cobra ações realizadas em prol do outro. Como diz Jesus no evangelho: ‘que a mão esquerda não saiba o que a direita fez’. A falta de gestos gratuitos se manifesta na cobrança ao outro pelo bem realizado. Frases como esta: ‘depois de tudo o que fiz por você, é isso que você me dá em troca?’ manifestam claramente que por trás daquela ação, havia um interesse pessoal. O verdadeiro amor é sempre gratuito e incondicional, a exemplo de Jesus. A alegria não consiste na recompensa material ou emocional, mas no bem realizado e que ajudou o outro a ser melhor. E um coração amoroso é livre de todas as amarras, sem a busca de elogios pelo que faz. Quando descobrimos a beleza das ações gratuitas, dos gestos voluntários, sentimo-nos leves e felizes. Uma felicidade que brota de dentro, do interior e nos deixa com uma sensação de paz consigo mesmo e com os outros. Neste tempo de pandemia, vemos tantos gestos de caridade em prol do necessitado e de solidariedade, feitos na gratuidade. Esse é o legado que Jesus nos deixou.

Publicado na edição 1218 – 25/06/2020

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