A Dona Irene Francisca Nunes Chaves é uma pessoa incrível: todo segundo domingo de cada mês ela prepara marmitas, para garantir o almoço de pessoas em situação de vulnerabilidade social. Esse trabalho voluntário ela executa junto com o esposo Vilson. Moradores do Jardim Itaipu, bairro Capela Velha, eles são casados há 43 anos e ao longo de suas vidas, sempre estiveram envolvidos em trabalhos sociais. “Nas marmitas mesmo a gente passou a se dedicar pra valer há cerca de 10 anos, quando nos aposentamos. Começamos com 150 marmitas, hoje estamos em torno de 500 a 700, mas já chegamos a preparar 1.500, foi um esforço tremendo”, conta.

Ela confessa que seu sonho era entregar marmitas todos os finais da semana, porém faltam doadores de alimentos e voluntários para ajudar na expansão do projeto. “Nossa motivação é o amor, a vontade de ajudar ao próximo, sem qualquer interesse financeiro. Quem sabe, no futuro, possamos preparar 3 mil marmitas para ajudar ainda mais pessoas”, confia.

As marmitas que o casal prepara atendem casas de recuperação de dependentes químicos, igrejas e comunidades locais. “Nas comunidades, repassamos os alimentos às associações que, por sua vez, se encarregam da distribuição. Eles nos enviam fotos para comprovação. Prefiro essa forma de entrega, pois as associações conhecem as necessidades de cada morador”, relata.

Para Dona Irene e o esposo, o voluntariado pode ser explicado de diversas formas, mas eles preferem seguir a orientação bíblica, que os incentiva a estender a mão e sempre ajudar ao próximo. “Acredito que, neste país, neste planeta, neste mundo, se cada um fizer a sua parte, ajudar um pouco, as coisas fluirão melhor. Mas, infelizmente, muitos pensam de forma diferente, com a ideia de que não dá pra fazer, e essa mentalidade atrapalha o crescimento do trabalho social. As pessoas precisam entender que, ao cumprir o seu papel, as coisas podem melhorar”, comenta a voluntária.

TRABALHO INCANSÁVEL

Além das marmitas, o casal ajuda as pessoas necessitadas com alimentos, disponibilizam itens como camas hospitalares, cadeiras de rodas, cadeiras de banho, muletas, andadores e aparelhos de oxigênio. “Tentamos ajudar da forma que está ao nosso alcance, pois sabemos das dificuldades encontradas em outros meios. O caminho é desafiador. Diante disso, nos esforçamos ao máximo para cumprir nossa missão. A nossa decisão não se baseia em uma simples consideração pelo próximo, pois acreditamos que, sem uma base espiritual, a ação voluntária não faz sentido. A verdadeira motivação reside em Deus e em seu propósito, é a obra de Deus que realizamos”, declara o casal.

Dona Irene ainda confessa que ela e o marido, na realidade, nunca tiveram a sensação de estarem totalmente certos em suas ações. “Acredito que, conforme a Bíblia, mesmo o que faço, ainda não é suficiente. Em diversas ocasiões, as pessoas buscam reconhecimento e mérito, eu não busco essas coisas. Prefiro agir discretamente, ajudando como posso. Por exemplo, toda quarta-feira vou a um açougue na cidade, que sempre nos doa carne picada. Essa doação eu entrego em uma comunidade e uma igreja, as quais preparam sopas”, relata.

Apesar de todo esforço que dedica ao trabalho voluntário, Dona Irene teme que suas ações não sejam vistas como corretas, isso porque já houve pessoas que a acusaram de estar ajudando aqueles que consideram não merecer. “Algumas pessoas me parabenizam, dizendo que sou abençoada por minhas ações, enquanto outras me criticam. O que posso dizer é que nem Jesus agradou a todos. Já cogitei interromper este trabalho devido aos julgamentos e críticas recebidas. Fui acusada de ajudar vagabundos, e a responsabilidade por isso recaía sobre mim. Contudo, um dia quando cheguei em uma comunidade para entregar as refeições, fui abordada por duas crianças de aproximadamente quatro anos, que me abraçaram e disseram: ‘Tia, que Deus abençoe muito a sua vida por trazer esta comida para nós, pois estamos há dias sem nos alimentar. Não temos nada para comer. Que Deus a abençoe e que a senhora nunca pare com isso’. Era tudo que eu precisava ouvir para seguir adiante”.

A colaboração dos membros da família e de outros voluntários, segundo Dona Irene, é essencial, seja através de doações ou colocando a mão na massa. “Eu e meu esposo, nosso filho, nossa nora e nossos netos, assim como os voluntários que estão conosco nesse projeto, desempenhamos papéis importantes. Agradecemos a todos eles, principalmente ao nosso cozinheiro, que está em processo de recuperação de uma cirurgia, mas já conseguiu retornar para ajudar. Ele tem contribuído nos sábados, auxiliando no preparo dos alimentos”, relata a aposentada.

Por fim, a araucariense acredita que para se tornar um voluntário é fundamental, em primeiro lugar, buscar uma conexão espiritual e, em seguida, avaliar se essa vocação corresponde aos seus anseios. “A atuação de um voluntário pode se manifestar de diversas maneiras: alguns se dedicam ao trabalho braçal, outros contribuem com doações de alimentos, e há aqueles que auxiliam na administração dos recursos, que por sua vez envolve a compra de itens como gás e produtos de limpeza. A atuação voluntária engloba, portanto, diversas formas de contribuição, incluindo aqueles que oferecem suas orações pelo sucesso do projeto. Para mim, todos esses esforços representam o trabalho de uma equipe”, conclui.

Se ao ler esta reportagem você sentiu no coração o desejo de contribuir com o trabalho voluntário da Dona Irene e da sua família, e quer fazer uma doação, entre em contato pelo telefone (41) 99813-2437 (falar com Vilson).

Edição n.º 1479.