Tomar partido, não significa filiar-se a um partido político. Mas assumir consciente ou inconscientemente uma posição. Para um grupo de políticos brasileiros que defendem o projeto Escola Sem Partido, discutir feminismo e homofobia é doutrinação ideológica e imposição da ideologia de gênero nas escolas, é assumir uma posição “de esquerda” e que por isso, deve ser combatido ou criminalizado.
O estupro coletivo da jovem de 16 anos no Rio de Janeiro tomou conta dos noticiários e as opiniões mais marcantes dão conta de transformar a vítima em culpada. Inocentando 30 homens que doparam, violentaram e expuseram os órgãos sexuais sem consentimento da garota em redes sociais. E a escola? Deve fingir que nada aconteceu?
Como reflexo da sociedade, as escolas são espaços também de reprodução de preconceito, racismo e homofobia. Silenciar ou punir as ocorrências deste tipo na escola é a solução? A realidade e as estatísticas recentes mostram que não.
O Brasil possui 1 estupro notificado a cada 11 minutos. Como apenas de 30% a 35% dos casos são registrados, é possível que a relação seja de um estupro a cada minuto. Será que ensinar as meninas a temer é o caminho? Homens e meninos precisam entender que o consentimento é fundamental nas relações humanas.
O projeto Escola Sem Partido ignora a realidade ao silenciar vozes e busca o conformismo social. Discutir as desigualdades sociais, o feminismo, a discriminação sexual, entre outros assuntos, é provocar instabilidades nesse sistema de histórias e pensamentos únicos.
Ensinar não é meramente e mecanicamente repassar conteúdos impressos em manuais. Educar é olhar para a realidade e para a sociedade, selecionar aquilo que é urgente e necessário para ser conhecido, discutido e problematizado. Negar o pensamento crítico, manter e reproduzir a lógica perversa que queremos superar também é uma escolha.