Araucária é uma cidade abençoada, pois é repleta de espíritos passeando por suas estradas, felizmente asfaltadas! E se não fossem esses espíritos, encarnados e desencarnados (isto é: vivos e mortos), nossa cidade não teria história para se contar, ou psicografar (mensagens dos mortos escritas por médiuns), afinal de contas uma cidade é um retrato fidedigno da trajetória de sua gente e é por meio do povo que esse livro de histórias da cidade se torna tão belo e infinito, repleto de rostos e de “gentes”, de religiões, culturas e tradições diferentes. E no capítulo de hoje falaremos um pouco sobre o percurso dos Espíritas Kardecistas em nossa terra.
Os parágrafos a seguir são provenientes dos relatos do Espírita Pedro Basso, 81 anos, natural de Araucária, que tive o prazer imenso de conhecer num café em sua casa, agendado para a escrita desta Riqueza da Alma, diga-se de passagem, um delicioso café, adoçado com muito amor e relatos espíritas instigantes, que vocês terão a oportunidade inédita de conhecer, aconselho o leitor a, durante o texto, tomar um golinho de café também, para sentir ainda mais o sabor do fruto desse bate-papo. Relatos a partir das vistas do seu Pedro, que por sinal, estão melhores que as minhas, ele não usa óculos.
Há muitos anos atrás, dona Tereza Basso (falecida) e seu filho Pedro Basso estavam ansiosos para tomar benzimentos (benção com orações e ervas). Lá do bairro Tupy onde moravam na época, eles saíam como entusiastas pela cidade em busca dos benzedores (pessoas que atuavam nos benzimentos) como forma de atenuar ou curar as dores do corpo e da alma. Nesse tempo, segundo Pedro, era o jeito de se conectar com a espiritualidade, não existiam casas espíritas estruturadas em Araucária e ele nem sabia direito o que era o espiritismo.
Curiosidade que ele veio matar quando teve a sorte ou o “destino” de conhecer um kardecista mineiro, Floriano, que chegava na cidade para trabalhar na Petrobrás. Com este novo (ou velho) amigo, seu Pedro conheceu as obras de Allan Kardec, em especial o Evangelho Segundo o Espiritismo que na sua opinião e em suas palavras foi quando definitivamente ele “conheceu Jesus”. E então os dois começaram um movimento espírita denominado “Caminho Verdade e Vida” (CVV) em meados de 1980, acompanhados pela casa espírita Luz Eterna de Curitiba.
Mas naquele tempo Araucária ainda não estava preparada para chacoalhar lápides e permitir o ensino da imortalidade da alma! A consequência disso foi a manifestação da intolerância religiosa por meio político, na negativa do Registro de Utilidade Pública ao CVV por meio das decisões dos vereadores da época, fato que levou ao encerramento do movimento.
Mas seu Pedro com o grupo da época foram teimosos e destemidos, então começaram em 2003 reuniões espíritas na garagem de sua casa, espaço que serviu de barriga sem aluguel para nascer o “Grupo Espírita Caminho da Fé” (GECAFE). Entidade que foi oficialmente registrada no dia 13/05/2006, com diversos membros e estatuto.
O GECAFE então ficou grande demais para uma garagem e se estabeleceu na Av. Archelau de Almeida Torres, 950, no bairro Iguaçu, onde funciona até os dias de hoje. A casa espírita dispõe atualmente de: palestras ao público; grupos de estudos espíritas; evangelização infantil; passes e ainda Assistência Social aos necessitados da cidade, sendo vinculada à Federação de Espíritas do Paraná. Centenas de pessoas transitam pela casa mensalmente.
Seu Pedro expressa profunda felicidade por hoje avistar liberdade religiosa para os espíritas em nossa cidade, ele relata com muito carinho que os benefícios de aprender mais sobre a imortalidade da alma e sobre os propósitos das reencarnações para ele estão ligados à frase de Jesus para Nicodemos “para ver o reino de Deus é preciso nascer de novo”.
E é claro, a lei do retorno se aplicou ao seu Pedro, em um evento da mesma câmara que lhe deu uma invertida no passado, posteriormente ele recebeu Moção de Aplausos em outro contexto. Seu Pedro certamente não é o único rosto do espiritismo em Araucária, ele nem busca essa vaidade para si, mas certamente sua teimosia e destemor foram importantes para ampliar em Araucária as possibilidades de se reconectar com a Espiritualidade e entender mais sobre o Além Túmulo. Para essa semana desejo Teimosia no Bem. Sigam-me no @tarodafortuna.