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Dona Marcelina Horácio, foi professora, secretária municipal de educação, apoiou a criação da Apae e do ensino especial. Em 1990 formou-se em Direito e dedicou-se as causas sociais, ao direito da Criança e do adolescente e ajudou na implantação do Conselho Tutelar de Araucária. Na foto com a família Débora, a neta Paola e os bisnetos Luise e Thales, seu núcleo familiar que a mantem protegida durante a pandemia. Foto: Marco Charneski
Família cria uma nova rotina para garantir a saúde da matriarca em tempos de pandemia
Dona Marcelina Horácio, foi professora, secretária municipal de educação, apoiou a criação da Apae e do ensino especial. Em 1990 formou-se em Direito e dedicou-se as causas sociais, ao direito da Criança e do adolescente e ajudou na implantação do Conselho Tutelar de Araucária. Na foto com a família Débora, a neta Paola e os bisnetos Luise e Thales, seu núcleo familiar que a mantem protegida durante a pandemia. Foto: Marco Charneski

EDIÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO – 131 ANOS

Se o isolamento social no início da pandemia foi necessário para tentar conter a rápida propagação do vírus Covid-19, para os idosos esse distanciamento é ainda mais importante, pois são eles a maior parte das vítimas fatais da doença. As famílias tentam, mas nem sempre conseguem mantê-los em casas, muitos ainda trabalham, ou fazem ‘bicos’ para tirar o seu sustento.

Entretanto, uma família bem conhecida na cidade, reorganizou toda a sua rotina para blindar a matriarca, dona Marcelina Areias Horácio, viúva, de 81 anos. Ela mora com a filha Débora, 59, a neta Paola de 34 anos e os bisnetos Luise de 12 e Thales de 10 anos. Assim que as autoridades decretaram as medidas mais severas de isolamento, a família conversou e decidiu que a partir daquele momento só as pessoas que moravam com ela teriam contato direto com a idosa. E desde então, dona Marcelina não deu mais abraços em seus outros filhos, em seus netos e demais bisnetos.

Mesmo assim eles não deixaram de ter contato, o uso do telefone, do computador e dos aplicativos de conversa instantâneas foi intensificado, as visitas diminuíram, mas não cessaram. A estratégia é que todo parente mais próximo que queira visitá-la fica na varanda ou às vezes na janela lateral da sala. Dona Marcelina, confortavelmente instalada em seu sofá, fica sabendo das novidades e mata a saudade com essa pequena aproximação. Dêbora e os demais também não têm contato com o restante da família e todos usam máscara.

“Pode parecer exagero, mas se minha mãe ainda está viva, depois de dois AVCs e problemas de saúde relativos à idade, queremos que ela siga o ciclo normal da vida e não seja vencida por uma doença como essa” enfatiza Débora. “Aqui todos nós nos cuidamos, como eu tenho diabetes e sou do grupo de risco só saio de casa para o essencial e a Paola ficou responsável pelo serviço externo como ir ao banco e supermercado, quando necessário”, explica Débora. A filha Paola completa dizendo que cada vez que ela precisa sair, ao votar vai direto para a lavanderia, troca de roupa, higieniza as mãos, as compras. “Só saio de cabelo preso e tudo o que vem da rua para dentro de casa é higienizado. Para dar certo tem que ter muita disciplina”.

As crianças também precisaram se adaptar a essa nova rotina de estudos em casa e sem poder interagir com os primos e amigos. “Meus filhos tiveram o apoio da minha mãe no aprendizado e os professores das escolas municipais onde eles estudam sempre foram muito solícitos e participativos. Não é o ideal, mas eles só vão voltar para a escola quando for realmente seguro para todos, nem que isso signifique mais um ano de ensino remoto, com a ajuda da vovó” explica Paola.

Já Débora e dona Marcelina se adaptaram fácil à nova realidade, ambas aposentadas levavam uma vida mais pacata, Débora se dividia entre os cuidados com a mãe, com a casa, os netos e nas horas vagas com o bordado, seu novo hobby. Rotina que continuou na pandemia.

Já a rotina da matriarca é de pequenos cochilos ao longo do dia, uma boa conversa com o bisneto Thales, a leitura do jornal impresso – que ela ainda recebe todos os dias, assistir na TV as novelas e as partidas de futebol, tudo num volume bem elevado. “Meu marido sempre gostou de futebol e eu assistia com ele, não tenho preferência, torço pelo jogo bonito ou os times dos meus filhos”, conta dona Marcelina. Aliás, a idosa mesmo estando em casa não descuida da aparência, ela gosta de usar roupas confortáveis, o cabelo bem arrumado e sempre de batom vermelho. “Meu marido adorava que eu usasse batom carmim, dizia que realçava minha beleza e eu uso até hoje”.

Comemorações

A família, que faz questão de estar sempre reunida, principalmente nas datas especiais e aniversários, teve que se adaptar com as comemorações por teleconferência, vídeo chamadas do whatsapp, delivery de presentes. “Mas é sempre muito animado, pois mesmo distantes estamos juntos e compartilhamos de tudo”, diz Paola.

Um delivery natalino substituiu a tradicional ceia da família Horácio. “Cada um dos meus irmão trouxe uma sobremesa e um espumante e levou pra casa o pernil assado, pronto para a ceia. Teve até troca de presentes, tudo pela janela”, relembra Débora.

Solidão e Esperança

Nesse ano de pandemia dona Marcelina apresentou um leve quadro de depressão, que imediatamente foi tratado. Débora acredita que o isolamento evidenciou na sua mãe a solidão que é típica da geração dela, de já ter perdido seu companheiro, a maioria dos amigos, de conversar com quem já passou pelas mesmas experiências. “É do peso da idade, mas enquanto ela estiver conosco faremos de tudo para que ela se sinta bem, sabendo que é muito amada”.

“Eu tenho consciência que eles estão fazendo o melhor por mim, o quanto eu ainda vou viver eu não sei, mas sei que tudo isso vai passar, que todos devem ter paciência, fazer o necessário para se proteger porque com a vacina a vida logo vai voltar ao normal”, deixou seu recado dona Marcelina, ao final da entrevista que fizemos com ela e com a família pelo Skype, uma excelente ferramenta gratuita para um bate papo virtual.

Texto: Rosana Claudia Alberti

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