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Padre André Marmilicz: Há mais alegria em dar do que receber

Na história de Marta e Maria, encontramos uma realidade fundamental para aqueles que realmente querem seguir a Jesus: o trabalho e a vida contemplativa. Quando Jesus chegou na casa delas, Marta não parou de trabalhar para escutar Jesus. Maria, pelo contrário, deixou todos os seus afazeres e se colocou aos pés do Mestre para estar atenta às suas palavras. Houve, da parte de Marta, um certo descontentamento, porque ficou sozinha trabalhando e, reclama então ao Senhor o fato de que Maria abandonou o trabalho. Jesus responde então, de forma firme e convicta, chamando a atenção de Marta, que estava se preocupando demais com as coisas deste mundo, não encontrando tempo para estar com Ele. Naturalmente, Jesus não está dizendo que o trabalho não seja importante, mas, está claramente mostrando que devem existir momentos para deixar as atividades e se recolher para estar com o Mestre. Jesus é contra o ativismo que impede momentos de silêncio, de recolhimento, de escuta atenciosa daquilo que o Senhor tem para dizer.
Essa passagem bíblica por muitas vezes recriminou Marta, enaltecendo Maria e a sua atitude contemplativa. Em hipótese nenhuma Jesus está querendo dizer que o trabalho é menos importante do que a oração, mas, que existe tempo para rezar e tempo para trabalhar. Os monges aprenderam no deserto a máxima, ‘ora et labora’, ou seja, reza e trabalha. Existe, sim, a necessidade de trabalhar, até porque sem trabalho ninguém vive. O trabalho dignifica o homem e lhe concede uma vida digna, dignificando também toda a família. No entanto, quando alguém se torna escravo do trabalho, num ativismo exagerado, pode gerar nele um vazio enorme e um distanciamento das coisas de Deus. O contrário também é válido, pois a mera contemplação sem a ação, pode ser algo totalmente irreal e contrário aos planos de Deus, que, desde o início se manifestou como Criador, colocando tudo em movimento.
Talvez hoje, o homem pós moderno necessita muito mais da contemplação do que a ação. Vive sempre correndo, sem tempo para parar e estar com o Mestre. Deveríamos diariamente encontrar um tempo para silenciar, ler a palavra de Deus, ler a Bíblia, fazer uma meditação e sentir a presença do alto presente em sua vida. Encontro seguidamente pessoas que reclamam de si mesmas, que estão insatisfeitas, que sentem um vazio e, geralmente, chegam à conclusão que estão muito agitadas e não encontram tempo para Deus. Para os católicos, domingo, o dia do Senhor, deveria ser um dia por excelência de subir a montanha, participar da celebração eucarística e encontrar ali o alimento para a semana que está iniciando.
Nem muita oração, mas, nem muito trabalho. Deve existir o tempo para o trabalho e ele é com certeza bem maior do que o tempo de oração. Mas, também podemos fazer do trabalho uma oração, ou seja, trabalhar com amor, pensando no seu próprio bem e sua realização e, na dignidade da família. E, enquanto se trabalha, também se pode rezar. Mas, existem aqueles momentos onde somos chamados a nos distanciarmos da vida corrida, dos ativismos e nos colocarmos em silêncio, numa atitude de oração, para renovarmos e resgatarmos as nossas energias. Como bem dizia são Vicente de Paulo: ‘dai-me um homem de oração e ele será capaz de tudo’.

O equilíbrio entre oração e ação

Publicado na edição 1320 – 14/07/2022

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