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Padre André Marmilicz: Ezequiel — Um exilado entre os exilados
Foto: Divulgação

Este é o mês da Bíblia e, nós estamos conhecendo um pouco da história do profeta Ezequiel. Ele é um judeu exilado, que vive entre os exilados, sendo um instrumento de Deus no meio deles. É para renovar o convite à esperança que Ezequiel vive a sua vocação. Inicialmente ele foi chamado para experimentar aqueles sentimentos próprios do exílio: a desesperança, o abandono, o medo, a confusão e a angústia. Ezequiel vai perceber que o profeta é sempre aquele que conhece as mais intensas realidades e emoções de seu povo, mas vive também um processo real de conhecimento de Deus. Os profetas são pessoas totalmente abandonadas à fé, e profundamente comprometidos com o chão de seu povo, conhecedoras de suas mais profundas angústias e limitações. Diante de Deus, o profeta também compreende a si mesmo como apenas o filho do homem. A Palavra que ele diz não é dele, mas é a Palavra de Deus que, por ele, chega ao povo.

O essencial do anúncio profético de Ezequiel consiste em refazer o caminho que liga seu povo a seu Deus, e o primeiro passo é sempre o reconhecimento de quando e de que forma o povo rompeu esse caminho seguro em suas práticas infiéis. É também graça divina, é o Senhor quem concede a conversão como dádiva. É o próprio Deus quem, pela boca do profeta, promete: ‘infundirei em vós o meu espírito e vivereis’. Pelo reconhecimento de sua culpa, o povo se torna aberto ao coração novo dado por Deus, que permite reconhecer na companhia sempre certa da glória de Deus. O Espírito que o põe de pé é o Espírito de Deus, aquele que capacita Ezequiel a ouvir a voz do Senhor e a responder com prontidão. É o Espírito que garante a Ezequiel corresponder ao que o Senhor pede e deseja. Ele se põe de pé como quem está disposto a sair e anunciar.

Diante da prontidão de Ezequiel, portanto, o Senhor anunciará sua missão. A missão de Ezequiel é testemunhar o coração misericordioso de Deus. Doce para o profeta, é reconhecer a fidelidade e o amor de Deus por seu povo rebelde. A profecia começa quando o profeta é capaz de introjetar a Palavra de Deus. É alimento feito espírito que o nutre e que o põe em movimento, e a palavra agora está dentro dele, inscrita em seu coração e em sua voz. Quando o profeta come o livro, ele, na verdade, manifesta a disposição de conformar-se à Palavra. Ele a internaliza de tal forma que não consegue mais desvincular suas escolhas e suas atitudes da Palavra que está em seu íntimo. Por isso, o Livro que Ezequiel ingere é ‘doce come mel’.

Se trata de um processo verdadeiro de conversão, pessoal e eclesial, que nos convida a reencontrar a fonte da Palavra como primeira e principal fonte da vida. Ter a Sagrada Escritura como alma evangelizadora da Igreja, a alma, a fonte, a seiva que nutre a vida das comunidades eclesiais missionárias. Ezequiel devora a Palavra e todo o seu conteúdo está interiorizado. A Palavra interiorizada propicia a ação do espírito. A Pastoral Bíblica deve ajudar a conhecer a Palavra, de comunhão com Jesus ou oração e de proclamação da Palavra. A missão do Profeta é guardar e proteger o povo, segundo a ordem do Senhor. O profeta se torna responsável pela segurança e integridade de seu povo. Em uma Igreja sinodal, trilhamos o mesmo caminho, que é Jesus. Por isso, somos responsáveis uns pelos outros, nos tornamos sentinelas do nosso tempo.

Edição n.º 1433.

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