Ao realizar o milagre da multiplicação dos pães, Jesus demonstra que somente a partilha é capaz de matar a fome e sede de todas as pessoas do mundo. Onde existe o acúmulo, vai faltar para muitas pessoas o básico para viver com dignidade. Depois de realizar esse sinal, como elemento fundamental do Reino de Deus, Jesus se retira e sobe ao monte. Talvez para rezar ou, então, para se distanciar do povo que queria proclamá-lo rei. E o Mestre tem plena consciência de que o seu Reino não é deste mundo. No entanto, a multidão não o deixa em paz e vai novamente ao seu encontro, não porque tenham compreendido o sinal por ele realizado, mas, porque querem que ele repita o que tinha acabado de fazer. E aí vem o grande ensinamento, e, que continua ecoando nos tempos atuais em nossa sociedade e em nossas comunidades. Qual será?
Jesus se apresenta como o verdadeiro pão, ou seja, a sua palavra é essencial para construir um mundo novo e mais irmão. Mais importante do que o pão material, que mata a fome naquele momento, mas, volta em seguida, é ele, que alimenta a nossa vida de um significado mais profundo e perene. A sua palavra tem caráter de vida eterna, enquanto o pão material é momentâneo, é passageiro e a sua falta, volta a criar um vazio no ser humano. As coisas materiais são necessárias para que o ser humano tenha uma vida digna, mas, o acúmulo delas e, a obsessão por elas, vai gerando um vazio que nunca é preenchido. Mas, a vivência da palavra de Jesus, os valores por ele pregados e defendidos, tem uma conotação muito mais profunda, que sacia profundamente aquelas necessidades essenciais da raça humana.
A palavra de Jesus é transformadora, pois, tem como fundamento o amor aos irmãos. Na medida em que nós nos abrimos ao outro, em que dedicamos a nossa vida em prol do irmão, descobrimos a beleza de viver e sermos peregrinos nesta terra. Existe muito mais alegria em dar do em receber. O amor partilhado gera uma alegria profunda, uma razão para viver. Quem se acha melhor do que o outro só porque possui mais coisas, tem mais conhecimento ou mais poder, na verdade está se iludindo, pois, tudo isso é passageiro e efêmero aos olhos de Deus. Mas, quem descobre a alegria de ajudar, de fazer o bem, de ser solidário, de partilhar, sem esperar nenhuma troca material ou emocional pelo bem realizado, encontrou o verdadeiro sentido da existência.
Estamos neste mundo de passagem, e, levaremos para a eternidade somente o amor vivido e partilhado com os outros. Os bens materiais são passageiros e ilusórios, quando colocamos no centro da vida. São Paulo vai falar em olhar para as coisas do alto, pois, é para lá que todos nós caminhamos. Estamos ‘cansados’ de saber que um dia deixaremos esse mundo material e faremos parte de uma realidade imaterial. E, nada do que temos, levaremos para a outra existência. Mas, na prática é tão difícil acreditar nessa verdade. Temos muita dificuldade para partilhar, para ajudar a quem precisa e, buscar em Jesus o único alimento que realmente sacia plenamente a nossa fome. A fome de amor, de paz, de partilha, de justiça, de solidariedade, de compaixão, de misericórdia, enfim, daquilo que dá um verdadeiro sentido ao nosso peregrinar por esse mundo. Em Jesus, palavra e vida, pão que mata a nossa fome de um mundo melhor, encontramos aquilo pelo qual vale a pena lutar e viver. Ele, sim, é o pão desta vida e da vida eterna.
Edição n.º 1426.