Somos todos peregrinos nesta terra, sabendo que estamos por aqui só de passagem. Sabemos que mais cedo ou mais tarde, todos nós voltaremos para a casa do Pai. Por vezes não gostamos de refletir sobre essa realidade, porque, de certo modo, causa medo e muitas dúvidas sobre o que nos espera na eternidade. Por mais que queiramos desvendar esse mistério, ele é simplesmente inalcançável. A nossa mente não consegue perscrutar esse mistério, pois é limitada demais, diante da grandiosidade que envolve a outra vida. Os homens de todos os tempos se perguntaram sobre o que será que existe do outro lado de lá. E, em escala maior ou menor, sempre se preocuparam em buscar o melhor modo de se preparar para a eternidade.

Diante da pergunta de alguém da multidão, provavelmente temeroso de um castigo eterno, se é verdade que são poucos os que vão se salvar, Jesus não responde dizendo ‘sim’, ou ‘não’. Ele simplesmente pede para que cada um busque passar pela porta estreita. Estranha essa resposta do Mestre, mas, com um grande fundo de verdade. Para passar pela porta estreita é preciso ser pequeno, ou seja, alguém que não se coloca nesse mundo numa atitude de arrogância e de prepotência. Os grandes, os que julgam maiores e melhores do que os outros, não conseguirão passar por essa porta.

A porta larga nos remete a tantas coisas neste mundo, como a busca desenfreada dos prazeres e das satisfações momentâneas. É a porta das facilidades, longe do compromisso e do empenho em prol do outro. As pessoas egoístas, fechadas no seu próprio mundo, indiferentes às realidades dolorosas do próximo, são aqueles que passam por essa porta. É a porta pautada por uma vida desregrada, geralmente preocupada em satisfazer somente seus desejos carnais e materiais. É a porta da busca do poder, do domínio sobre os outros, de se achar superior porque tem mais ou pode mais. Ela pode até trazer um bem-estar momentâneo, mas não preenche aquele vazio existencial, que se instaura naqueles que só pensam em si mesmos.

A porta estreita, que é a porta da salvação, é muito mais exigente e marcada por lutas e sacrifícios em prol do outro. É a porta de quem está sempre pronto a ajudar, a servir, e a partilhar. É a porta que conduz o fiel que olha para o alto, sem se apegar às coisas desse mundo, ciente de que tudo isso é ilusório e passageiro. Os bens deste mundo são necessários, mas, são passageiros. A porta estreita é o símbolo do coração generoso, bondoso, que sai de si e sempre vai ao encontro daquele que mais necessita. Um coração cheio de amor e de misericórdia com o sofredor, incapaz de julgar ou de condenar. Quem passa pela porta estreita, está no caminho da salvação.

Pedro então pergunta: ‘e nós que deixamos tudo para te seguir, o que receberemos em troca?’ Jesus então lhe afirma que receberão o cêntuplo neste mundo, em amigos, famílias e mais a eternidade. Que maravilha saber que o bem nos conduz a Deus e nos leva à salvação. A resposta de Jesus é muito clara, ou seja, fazer-se pequeno, e isso significa, ser servidor dos outros. Passar pela vida servindo, ajudando, fazendo o bem, atento às necessidades dos outros, sobretudo, dos mais sofredores, é a garantia de uma vida plena, da vida eterna. Este é, segundo Jesus, o caminho da salvação.

Edição n.º 1479.