Existem muitas maneiras de definir a paternidade. No dicionário, é o estado ou qualidade de ser pai, o laço sanguíneo entre pai e filho. Fora do glossário, ser pai é dar cuidado físico e emocional ao filho, é a maneira única de olhar, de falar, de cuidar da criança e guiá-la pelo melhor caminho.

O Dia dos Pais, este ano comemorado em 10 de agosto, nos faz pensar no papel fundamental que um pai exerce na vida do filho. É o momento de exaltar o pai herói, o pai presente, o pai que conduz os filhos em seu desenvolvimento, ensinando valores, limites e habilidades essenciais para a vida.

A data surgiu nos Estados Unidos, quando a filha de um veterano de guerra ouviu uma mensagem referente ao Dia das Mães e teve a ideia de homenagear o seu pai, que criou seis filhos sozinho após a esposa falecer dando à luz ao mais novo. São histórias de pais extraordinários, como a desse veterano de guerra, que o Jornal O Popular traz para você, por meio dos depoimentos a seguir.

Nelson Leiser, 53 anos, é profissional autônomo e se tornou pai solo há 12 anos. A partir daí, teve que redescobrir a vida em vários sentidos, mais especialmente para seguir adiante com a filha Letícia, que acaba de completar 18 anos. “Assumi sozinho a responsabilidade de criar minha filha, após a mãe dela tê-la abandonado. Na época Letícia era cadeirante, porém em novembro de 2013, ela teve uma parada cardiorespiratória e, desde então, vive acamada. Assumir a responsabilidade sozinho foi um baque muito grande e um momento difícil, nada te prepara para isso”, relata.

Sem uma rede sólida de apoio na criação da filha, como a ajuda de familiares ou amigos, Nelson tenta dar o máximo de si para ser um bom pai. “Hoje, sem dúvida, meu maior desafio é cuidar da Letícia em seu estado atual. Ela está completamente acamada, sem nenhuma reação. Tudo exige atenção, cuidado e uma entrega diária, tanto física quanto emocional. Minha vida se resume em cuidar da minha filha. Todos os meus horários são adaptados em função das necessidades dela. Cada dia é uma descoberta e um desafio diferente”, declara.

Nelson diz que nunca enfrentou nenhum tipo de julgamento por ter optado em ser pai solo. Pelo contrário, afirma que as pessoas respeitam muito sua história e todo o esforço que faz para cuidar da filha. “Nem tudo é tristeza na nossa vida. Tivemos momentos marcantes, que guardarei para sempre em minha memória, como a festa de 15 anos dela, que foi preparada com muito carinho no CMAEE Joelma, quando ela ainda não estava acamada e conseguia reagir. Ela estava super feliz naquele dia, e eu fiquei muito emocionado”, conta Nelson, com a voz embargada.

Pais extraordinários contam os desafios enfrentados na criação dos filhos
Nelson tenta dar o máximo de si para ser um bom pai da Letícia, que vive acamada.

Administrador de um grupo empresarial familiar e músico nas horas livres, Marcelo Plautz, 44 anos, é pai solo da Luiza, de 25 anos, e do Pedro, de 12 anos. Há 10 meses ele perdeu a esposa, ela faleceu precocemente por complicações decorrentes de uma cirurgia bariátrica. “Assumir a responsabilidade de criar os filhos sozinho foi o momento mais desafiador da minha vida. Foi difícil manter o espírito de unidade que existia em nossa família, em nossa casa, vivenciar o peso do luto e conciliar trabalho, banda (Duo Brothers), família, casa, educação e ainda me dedicar em tempo integral ao meu filho Pedro”, conta o músico.

Marcelo diz que está conseguindo segurar as pontas porque tem uma grande rede de apoio que envolve muita gente querida. “Os avós e tios têm sido fundamentais nesse processo, assim como os primos, amigos, colegas de escola. A todos, meu sincero agradecimento”, diz o músico.

Para ele, o maior desafio em ser um pai solo, sem dúvida, foi o medo de não dar conta, de não ser o suficiente, de não suprir as necessidades de afeto e carinho na ausência da mãe. “Mas com todo apoio que recebi e muita fé, não me deixei abalar e encarei dia após dia as dificuldades do luto, da situação como um todo e hoje me sinto muito seguro como pai solo. Equilibrar trabalho, vida pessoal e a criação dos filhos é realmente a sensação vivida por um equilibrista (risos). É gratificante, porém um trabalho árduo que requer muita dedicação, disciplina e comprometimento. Tudo mudou radicalmente, mas me adaptei rapidamente e da melhor forma possível. Fiz inúmeras concessões, acrescentei novas rotinas. Sigo em frente!”.

Marcelo lembra com carinho dos inúmeros momentos felizes que já viveu com os filhos, e cita dois em especial. “Difícil escolher um só, mas assistir um vídeo da minha filha Luiza aos 15 anos, tocando violão e cantando, é algo que tenho gravado nitidamente em minha memória. E meu filho Pedro me deixou muito orgulhoso quando aos 06 anos, em 2019, entrou no banho e começou a cantar em inglês, do jeito dele, é claro (risos), Under Pressure, do Queen. Vivenciar isso foi a certeza que deixei um pouco de mim neles”, comemora o músico.

Pais extraordinários contam os desafios enfrentados na criação dos filhos
Marcelo diz que assumir a criação dos filhos sozinho, foi o momento mais desafiador da sua vida

O técnico de enfermagem Silverio Strugala tem 71 anos, é casado há 39 anos e pai de três filhos: o mais velho tem 38 anos, é antropólogo e mora em Curitiba; o do meio tem 35 anos e é funcionário concursado na Prefeitura de Araucária; e o caçula tem 29 anos e é estudante. “Ser pai é uma responsabilidade muito grande, não é só criar, o maior desafio é formar o ser com boa conduta pessoal e profissional. E hoje posso dizer que sou um pai orgulhoso dos filhos que criei”, afirma.

Na vida profissional, Silverio é funcionário público concursado há 40 anos e sua longa trajetória na saúde de Araucária faz com que muitas pessoas o chamem de ‘doutor’. “Fui auxiliar de enfermagem e sou técnico há 20 anos. Fico feliz quando me chamam de doutor, provavelmente porque eu tenho os mesmos dotes (risos)”.

Quanto à vida de pai, ele se emociona ao lembrar de alguns momentos importantes vividos junto dos filhos. “Nunca vou esquecer o dia do nascimento deles, dia da formatura do mais velho, e também sua cerimônia do casamento. Enfim, ser pai é uma jornada de amor incondicional, responsabilidade e dedicação, é se emocionar o tempo todo”, declara Silverio.

Pais extraordinários contam os desafios enfrentados na criação dos filhos
Para Silverio, ser pai não é só criar, mas formar um cidadão com boa conduta pessoal e profissional

Edição n.º 1477.