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O Brasil é mesmo um país interessante. Quando Gustavo Kuerten, o Guga, começou a se destacar no tênis, ganhando Roland Garros algumas vezes, um dos torneios do chamado Grand Slams não demorou a nos tornarmos especialistas no esporte. Sabíamos os nomes dos lances, a contagem dos pontos e tudo o mais.

O caso da atleta Daiane Silva é outro exemplo. Quando ela passou a ganhar vários campeonatos mundiais de ginástica artística, logo passamos a entender tudo sobre os movimentos da modalidade em que ela competia. Éramos capazes de analisar se os duplos twist carpados foram bem executados, se a aterrissagem foi perfeita e assim por diante.

O mesmo se deu no caso de Acelino Popó Freitas. No auge de sua carreira no boxe profissional, com vários títulos mundiais, ninguém entendia mais do esporte do que todos nós, brasileiros. Nosso olhar clínico do ringue era espetacular. Analisávamos cada golpe do pugilista, sua movimentação, o aconselhávamos de casa a abaixar a guarda, a usar a direita, a esquerda e assim por diante. Mais recentemente, já com o esporte do momento sendo o UFC fazíamos o mesmo com lutadores como Anderson Silva, Belfort, Minotauro, entre outros.

Sem esses esportes não costumeiros do cotidiano dos brasileiros em baixa atualmente e a seleção brasileira de futebol não despertando mais tanta atenção assim, nos sobrou analisar a correção ou não de decisões judiciais. Tornamo-nos excelentes analistas do Código de Processo Civil, da legislação eleitoral, da que pune lavagem de dinheiro, improbidade administrativa, quebra de sigilo financeiro e telefônico e tudo o mais. Sobre a Constituição então? Nem falemos! Somos praticamente constituintes, entendedores natos dela. E nem poderia ser diferente, afinal quem aqui de nós não tem uma Constituição na cabeceira da cama? Quem não lê um artigo que seja antes de dormir?

E justamente por conta desse notório saber jurídico que adquirimos nos últimos meses, emanamos posicionamentos como se fossemos profundos conhecedores do assunto. Apontamos se cabia ou não uma condução coercitiva, se é ou não caso da divulgação disso ou daquilo porque fulano teria foro privilegiado, se cicrano poderia mesmo ser condenado com base na tese do domínio de fato e mais um monte de termos próprios do mundo jurídico, mas que, nós – num estalar de dedos – enquanto brasileiros que somos, passamos a compreender plenamente.

O grande problema desse nosso afã em querer dar pitaco em questões tão específicas como são as que sustentam o Direito é que, ao contrário do futebol, do tênis, do boxe, da ginástica, é que não estamos falando aqui de entretenimento. Estamos falando de vida real, de coisa muito séria. O momento pelo qual passa o Brasil exige dos brasileiros bem mais do que um mero emanar de pontos de vista a cada ação dos poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, exige reflexão. Muita reflexão! E com a reflexão precisa vir a mudança de atitude. Pois, do contrário, a crise do momento servirá apenas para que tenhamos aprendido um pouco de “juridiquês”. E se isso acontecer teremos perdido uma ótima chance de evoluirmos um pouco que seja enquanto pais, enquanto sociedade.

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