Pesquisar
Close this search box.

Invasão em Igreja de Curitiba na visão de dois professores araucarienses

Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Invasão em Igreja de Curitiba na visão de dois professores araucarienses
Foto: divulgação

A invasão da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito, em Curitiba, repercutiu em todos os segmentos da sociedade e causou grande polêmica no decorrer desta semana. O caso ocorreu no último sábado, 5 de fevereiro, quando o vereador Renato Freitas (PT), com um grupo de manifestantes, invadiu a Igreja, no centro histórico da capital, interrompendo uma celebração para um ato de manifesto que reivindicava a apuração da morte do congolês Moïse Kabahambe, que ocorreu no Rio de Janeiro (RJ).

O ato gerou em todo o país, uma onda de opiniões que divergem. A reportagem do Jornal O Popular conversou com os professores Rafael de Jesus de Andrade de Almeida e Jester Furtado, que também opinaram a respeito do ocorrido. “Ficou evidente para todos aqueles que realmente acreditam nos princípios democráticos, que se tratou de um ataque à liberdade religiosa, tanto dos devotos que estavam ali presentes, como dos demais devotos que não estavam na celebração naquele momento. Quando você agride um negro por ser negro, você agride a todos os negros. Quando você agride um cristão por ser cristão, você agride a todos os cristãos”, comparou.

O professor lembrou ainda que o vereador Renato Freitas tem um projeto claro de atingir o próprio partido, o PT, que caminha numa direção de maior diálogo com setores mais conservadores da sociedade, tanto é que, em nota, a Comissão Executiva Estadual do partido, afirmou não ter participado da organização do ato. “Faltou uma postura mais dura da Executiva Estadual e até mesmo Federal do PT em relação ao vereador Renato Freitas, que não acredita nos mesmos princípios defendidos pelo estatuto do partido. É caso de expulsão”, argumentou.

Rafael disse ainda que todos que assistiram a invasão puderam perceber a atitude conciliadora do sacerdote e demais colaboradores em total dissonância à atitude afrontosa daqueles que participavam do ato. “Se eu não sou muçulmano e resolvo fazer um protesto contra o Talibã, e para isso escolho invadir uma mesquita durante uma celebração, eu não estou protestando contra o Talibã, eu estou protestando contra o Islã, que não tem nada a ver com as coisas horríveis praticadas pelos talibãs”, comparou.

Já o professor Jester disse que para analisar o fato ocorrido na Igreja do Rosário dos Pretos, é importante lembrar de um certo galileu que não só gritou nas escadarias do templo, mas também bateu e expulsou os que estavam por lá. “Esse mesmo homem, tido como subversivo, foi condenado e espancado até a morte, tudo pelas mãos sujas do Estado e com o aval da massa hipócrita e influenciável. Só por isso surgiu a chamada Igreja de Cristo”, ilustrou.

Feito esse resgate, Jester destacou também que o Largo da Ordem, local onde aconteceu o ato que culminou com a ocupação, é um lugar que guarda a memória da presença negra em Curitiba, inclusive quando os negros eram proibidos de entrar nas igrejas da capital, mãos pretas construíram a Igreja dos Pretos para que esses fossem acolhidos. “Sobre o fato atual, se tratava de um ato realizado em protesto a morte de um jovem morto a pauladas, em protesto as diversas mortes de pessoas que, em tese, tinham a mesma cor de Cristo. Corpos fustigados, linchados, mortos na porta de casa. O padre errou! Viciado ao rito engessado não soube acolher aqueles que, a exemplo de Cristo, que não se calavam diante de injustiças, fizeram gritaria nas escadarias do templo. Houve exagero por parte dos manifestantes? Quem é tão insensível a ponto de reparar os exageros de quem chora e reclama pela morte de seus iguais? O que é o exagero diante de vidas ceifadas? Como dizia Chico Buarque ‘morreu na contramão atrapalhando o trafego’. Nos desculpem por morrer antes do amém! Mas não nos peçam para esperar a missa acabar. A bestialidade humana anda a soltas e há lideres despertando o pior de seus liderados na intenção de reavivar um ideário pautado no ódio e na intolerância. Esses não passarão! Concluo dizendo que um suposto vilipêndio ao templo de pedras jamais será mais grave que o vilipêndio ao templo humano”, lamentou o professor.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1298 – 10/02/2022