Uma notícia que certamente será recebida com tristeza por muitos araucarienses: a Cantina da Lídia, um dos restaurantes mais tradicionais e frequentados da cidade, vai fechar após 35 anos e 4 meses de atividades. O motivo: o casal Glaucio e Lídia Karas decidiu parar de trabalhar para aproveitar a vida. Isso mesmo! Ambos estão aposentados e de agora em diante querem se dedicar às viagens, passeios, pescarias e ficar mais perto da família.
É chegada a hora! O restaurante aconchegante, com ar pitoresco e uma comida com sabor caseiro de lamber os beiços, que se tornou parada obrigatória ali na Avenida Victor do Amaral, nº66, na subidinha da Praça da Matriz, bem no coração da cidade, vai fechar suas portas. Foram três décadas, sempre atendendo com carinho os clientes, tanta importância no dia a dia dos araucarienses que a história da Cantina da Lídia passou a ser confundida com a história de Araucária.
Um passo de cada vez
Glaucio e Lídia recordam como tudo começou, eles ainda eram noivos quando tiveram a ideia de abrir o restaurante. “Fomos para Curitiba comprar janelas para nossa casa e almoçamos em um restaurante bem simples, então falei para o Glaucio: ‘Por que a gente não monta um restaurante pequeno, assim teremos um lugar para almoçar e ainda gerar uma renda extra?’ Na época eu era funcionária pública e o Glaucio empresário do ramo de lojas, ficávamos o dia todo trabalhando e na cidade quase não existiam lugares que servissem uma boa comida caseira. Foi quando decidimos unir o útil ao agradável. Começamos em um imóvel fundo de quintal, localizado em frente à Prefeitura Municipal, o proprietário era o seu Pedrinho Basso. Esse imóvel ficava na rua Pedro Druszcz, 112. Era o dia 1º de agosto de 1988, e nasceu a Cantina da Lídia”, conta a empresária.
Glaucio complementa que a ideia era de que nos horários de almoço, a Lídia, além de ter um lugar pra comer, ajudasse a atender os clientes. “Naquela época tínhamos apenas uma cozinheira e uma atendente. E pasmem, no primeiro dia de funcionamento o movimento surpreendeu, servimos 40 almoços, tinha fila de clientes e quase faltou comida, por sorte o seu Pedrinho nos socorreu, fornecendo um pouco de arroz e feijão da sua casa, na época servíamos pratos comerciais e conseguimos atender todo mundo (risos)”, conta o casal.
Com uma história temperada por muito amor, a Cantina da Lídia foi cenário de muitos encontros, amizades e alegrias. Percalços também fizeram parte dessa trajetória, todos superados com muita perseverança. “Lembro do dia em que a nossa única cozinheira ficou doente e precisou faltar. Eu tive que assumir o comando do fogão e aconteceu um acidente na cozinha, mas a gente tinha garra e sempre dava um jeito pra tudo. No final acabou dando certo”, relata Lidia.
Mudanças
A Cantina funcionou durante um ano no seu primeiro endereço, mas o movimento aumentou tanto que foi necessário mudar para um espaço maior. Veio a mudança para a Avenida Victor do Amaral, nº 768. “Em apenas um ano, passamos de um espaço de 30 metros quadrados para um de 70 metros quadrados e ali ficamos ali por mais um ano até que o local também começou a ficar pequeno. Fomos para o nosso terceiro endereço, na Avenida Victor do Amaral, em frente ao Posto Ipiranga, em uma casa de madeira. Ali ficamos por cerca de 2 anos, até nos mudarmos para o endereço onde estamos até hoje, na Avenida Victor do Amaral, nº66”, cita o casal.
Casinha charmosa
A casa que abriga a Cantina da Lídia tem um estilo arquitetônico antigo, possui um charme inigualável. “Procuramos manter a estrutura da construção, que remete a um aconchego da casa dos nossos avós. O espaço é amplo e, ao mesmo tempo, aconchegante e na decoração usamos peças e objetos antigos, que remetem a história da cidade, do povo polonês e também de outras etnias, tudo para que os clientes se sintam muito bem acolhidos”, ressalta Glaucio.
Toda a engrenagem que faz da Cantina da Lídia um sucesso entre os clientes não funcionaria sem uma equipe eficiente nos bastidores. “Na nossa equipe há funcionários que nos acompanham durante muitos anos e eles terão nosso apoio e reconhecimento nesse momento de encerramento das atividades. Nossa cozinheira Marlene, por exemplo, está conosco há 33 anos e temos a outra cozinheira Luciana com 14 anos de casa, a atendente Franciele com 8 anos e a saladeira venezuelana Eliseida”, dizem os empresários.
Eles afirmam que vão se despedir dos clientes com a certeza de dever cumprido. “Acolhemos bem todos que aqui vieram, porque nosso lema não era só servir, era tratar todos com maior carinho e respeito, por isso que é tão difícil encerrar este ciclo, mas estamos felizes. Essa ideia de parar de trabalhar veio ainda na pandemia, quando enfrentamos a pior de todas as crises, então percebemos que poderíamos sobreviver sem a Cantina e começamos a amadurecer a ideia de que era a hora certa de parar. O Glaucio se aposentou recentemente e eu vou fazer 60 anos, e confesso que sempre tive o sonho de que quando completasse essa idade queria parar de trabalhar para que pudéssemos aproveitar a vida enquanto ainda temos saúde. Queremos viajar muito, pescar, morar um tempo no litoral, curtir a família, enfim, tirar um tempo só pra nós. Hoje podemos dizer com toda certeza que a cantina está se aposentando junto com a gente”, finalizam.
Foto: WALDICLEI BARBOZA
Edição n.º 1394