O influenciador e youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, viralizou nas redes sociais após publicar um vídeo sobre a ‘adultização infantil’ e apontar casos de criadores de conteúdo que, segundo ele, lucram com a exposição de menores de idade. Um deles chegou a ser acusado por Felca de produzir vídeos que colocam crianças e adolescentes em situações que podem atrair criminosos envolvidos com pornografia infantil.

O vídeo gravado por Felca alcançou grande repercussão e reacendeu o debate sobre exploração e abuso sexual infantil, e ainda sobre a adultização infantil que, segundo estudos, é a aceleração forçada do desenvolvimento da criança para comportamentos que não correspondem à sua idade. Quando expostas nas redes sociais sem supervisão adequada, as crianças podem ser induzidas a atuar de forma mais madura do que o esperado, o que prejudica o desenvolvimento emocional e social.

O caso também reacendeu o alerta urgente sobre os riscos ocultos no ambiente digital, principalmente para crianças e adolescentes, e a importância da supervisão dos pais e do diálogo aberto para garantir a segurança dos filhos no universo digital.

A conselheira tutelar de Araucária, Patrícia Soares, diz que é possível proteger crianças e adolescente, tomando algumas precauções como evitar publicações de fotos e informações pessoais das crianças, não expor rotina, endereço ou escola. “Os pais não devem até mesmo expor situações que para adultos são engraçados, mas para a criança é vexatório, como criança chorando, nervosa ou outra situação emocional alterada”, cita.

O delegado Eduardo Kruger, titular da Delegacia da Mulher e do Adolescente afirma que os pais têm a obrigação de saber o que seus filhos estão fazendo, tanto no mundo real quanto no virtual. “Os pais devem estar presentes na vida dos filhos em todos os momentos. Devem sempre saber onde eles estão e com quem estão andando. Hoje em dia, devem incluir a preocupação de onde eles estão no mundo virtual e com quem eles andam. As crianças e adolescentes não devem ter vida virtual própria, os pais têm que acessar os aparelhos eletrônicos de seus filhos e caso não entendam de informática, devem pedir ajuda a outra pessoa de confiança”, aconselha o delegado.

Patrícia também sugere que os pais utilizem configurações de privacidade, instalem aplicativos de controle e limitem o tempo de uso da internet. “O ideal seria que a criança realmente não tivesse Instagram, Facebook, ou TikTok, mas se tiver, o monitoramento dos pais deve ser constante”, recomenda. Ela diz ainda que os pais devem explicar sobre riscos, ensinar a não conversar com estranhos e a não compartilhar fotos ou dados pessoais, ou informações sobre a família e a rotina. “Sempre que vou nas escolas, converso sobre isso com os alunos, oriento sobre a importância de proteger a imagem, as informações e os dados. Essa geração é conectada, e proibir o uso pode até soar retrocesso, mas conscientizá-los e informá-los é a melhor forma de protegê-los.”

O delegado Kruger compartilha da mesma opinião ao afirmar que familiares e professores podem ajudar os pais nessa questão, através da conscientização social, conversando e expondo os casos de repercussão. “Caso pessoas desconhecidas estejam se comunicando com seu filho por meio da rede social, é certo que ele é um possível alvo de abusadores, portanto, as redes sociais para adolescentes devem ser privadas, ou a comunicação deve se dar apenas com pessoas conhecidas”, afirma.

TRABALHO CONJUNTO

Para a conselheira Patrícia, os professores têm papel importante nesses casos, observando comportamentos das crianças e adolescentes, alertando os pais sobre mudanças e reforçando as orientações. “Esse cuidado acontece em Rede, todos os órgãos devem estar atrelados para garantir essa proteção. Obviamente que em casa e na escola é onde os adolescentes passam a maior parte do tempo, mas essa responsabilidade também é dos órgãos de Garantias de Direito, como Conselho Tutelar, Delegacias, Poder Judiciário, entre outros”, declara.

Também como recomendação ela sugere que os pais fiquem atentos a mensagens de desconhecidos, mudanças de humor e tentativas de marcar encontros. “É preciso monitorar as conversas e nunca duvidar ou culpar o adolescente por determinada ação. A primeira iniciativa deve ser a de proteger, para que esse adolescente se sinta seguro em compartilhar sobre o que pode estar acontecendo”, acrescenta.

PREDADOR IDENTIFICADO

De acordo com o delegado Kruger, ao identificarem esses predadores, a primeira medida que os pais devem tomar é proibir que seus filhos tenham contatos com pessoas desconhecidas. Porém, caso uma pessoa tenha tomado alguma atitude que demonstre intenção de praticar algum abuso contra seu filho, deve-se primeiro salvar o perfil dessa pessoa, gravar as conversas ou fotos enviadas e denunciar nos seguintes canais: disque 100, disque 180, 181, ou na Delegacia de Araucária pessoalmente ou pelo fone/whatsapp 3641-6011.

“Recentemente, tivemos um caso onde a própria adolescente pediu ajuda via disque 100, após a intervenção do Conselho, e os pais prontamente registraram o boletim de ocorrência e protegeram a vítima. Esse caso é um daqueles em que os pais constantemente monitoravam o celular, mas mesmo assim o agressor conseguiu ter acesso, por isso é importante dialogar com os filhos e reforçar sobre os canais de denúncia. Todo cuidado é pouco, devemos ficar atentos”, conta Patrícia.

Edição n.º 1478.