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Aumento dos combustíveis desanima taxistas e motoristas de app

Foram nove aumentos registrados em 2021, e trabalhadores não sabem até quando vão conseguir manter seus veículos rodando. Foto: Marco Charneski
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Aumento dos combustíveis desanima taxistas e motoristas de app
Foram nove aumentos registrados em 2021, e trabalhadores não sabem até quando vão conseguir manter seus veículos rodando. Foto: Marco Charneski

Aumento dos combustíveis, redução dos ganhos e custo alto da manutenção do carro são as principais reclamações dos motoristas de aplicativos, taxistas, vendedores ambulantes e – na verdade – de todo mundo que tem carro. De janeiro até agora, a Petrobras anunciou nove reajustes nos combustíveis. Isso mesmo! Foi praticamente um aumento por mês, fazendo com que a média nacional do preço da gasolina chegasse a quase a R$ 6 o litro.

Em Araucária, por exemplo, em uma rápida pesquisa feita pela reportagem do Jornal O Popular, em cinco postos de combustíveis da cidade, constatou-se que o menor preço da gasolina encontrado foi de R$ 5,65, enquanto o maior foi de R$ 5,99. Já o menor preço do álcool foi de R$ 4,65 e o maior ficou em R$ 4,89.

Diante desse quadro, os combustíveis acabaram virando um dos principais vilões da inflação deste ano, afetando duramente o orçamento das famílias brasileiras. E entre as classes mais afetadas estão os taxistas e motoristas de aplicativos, que dependem exclusivamente dos combustíveis para realizar seu trabalho diário. Além do gasto para abastecer o carro ter aumentado de forma absurda, eles ainda se deparam com os serviços de manutenção em alta e as baixas taxas de retorno.

O presidente da Associação Rádio Táxi Araucária, Silvano Limas, disse que 80% da frota ainda utiliza gasolina e álcool, isso porque, segundo ele, não tem sido vantajoso usar o Gás Natural Veicular (GNV), cujo preço tem tido pouca diferença no custo final. “Além do investimento alto para fazer a conversão do veículo, o retorno acaba demorando mais em função do preço que está o GNV hoje”, explicou. Silvano comentou ainda que se não bastassem os aumentos nos combustíveis, as tarifas não são reajustadas desde março de 2016, ou seja, os taxistas estão tendo um lucro muito pequeno. “Estamos trabalhando no limite. Para não perdermos ainda mais clientes, considerando que a pandemia afetou drasticamente o movimento, estávamos dando descontos de 20% nas corridas, mas em função dos últimos aumentos nos combustíveis, vamos reduzir essa taxa para 10%. A situação está bem complicada”, pontuou o presidente da associação.

Metade fica no posto

Na profissão há 16 anos, o taxista Cirineu Barbosa da Silva confessou que ainda não desistiu porque é sua única fonte de renda. ”O movimento dos táxis já caiu bastante por conta da pandemia, e com os constantes aumentos da gasolina, tem sido difícil manter. Minha renda caiu cerca de 50%, metade do que recebo fica no posto e vai pra manutenção do carro. Tenho que trabalhar, porque só vivo do meu táxi, mas tá ficando cada dia mais complicado, não compensa nem pegar corridas distantes. Ainda não podemos mais escolher posto pra abastecer, temos que pesquisar onde a gasolina tá mais barata, pra ver se economiza um pouco”, comentou.

Sem saída

Bruno Silva trabalha como Uber e há dois anos converteu seu carro pra GNV. No início diz que percebeu vantagens, porém nos últimos tempos, tem sentido uma diferença mínima, já que o preço do litro do GNV também teve aumento. “A situação é crítica, além do aumento na gasolina, álcool, GNV, do gás de cozinha e dos serviços essenciais como luz, água, sem contar a alimentação, nossa renda como Uber tem ficado muito abaixo do esperado. Pra gente conseguir um valor razoável no aplicativo hoje, o ideal não é fazer muitas horas, mas aumentar os quilômetros rodados. Só que fazendo isso, gastamos mais combustível, o carro precisa de mais manutenção e acaba dando elas por elas. É uma situação sem saída. Daí a gente vê que o dinheiro que a gente ganha não vale mais nada. Ainda não desisti porque acredito em uma atitude governamental ou dos gestores das plataformas de locomoção, seja o reajuste de valores repassados aos motoristas do aplicativo ou a baixa nos combustíveis”, pontuou.

Cenário crítico

Também atuando como motorista do Uber e do 99, Danilo Nascimento optou por um carro Flex, o que lhe dá a possibilidade de escolher entre gasolina e álcool. Ainda assim ele também tem sentido o impacto no bolso toda vez que vai abastecer. “Tivemos nove aumentos esse ano, em janeiro a gasolina custava R$ 4,49, hoje está custando R$ 5,69 em média. Meu custo mensal com combustível em janeiro era de R$ 1.200,00 por mês, este mês gastei R$ 1.600,00. O custo aumenta, os repasses da Uber e da 99 para os motoristas não, então não é o cenário ideal. Sabemos que cerca de 30% dos motoristas de aplicativo cadastrados em Curitiba e região já abandonaram a atividade por causa do custo. Nem todos conseguem se manter na profissão”, avaliou Danilo.

Segundo ele, os aplicativos baratearam durante a pandemia, com preços reduzidos para os passageiros. “Mas pelo que percebi conversando com passageiros, os valores subiram e ao mesmo tempo as taxas que eles cobram aumentaram. Eles estão cobrando de 35 a 40% de taxa em determinadas corridas”, explicou. “Contudo, eu não reclamo. Estou fora do mercado de trabalho há 4 anos e é o Uber e o 99 que garantem o pagamento das minhas contas. Não adianta ter um diploma universitário, um currículo com cargos em boas empresas se ninguém te contrata, ou quer pagar um salário muito inferior ao que eu ganho como motorista de app”, lamentou.

Compensando com vantagens

A reportagem do Jornal O Popular entrou em contato com a central do aplicativo Uber para saber quais as medidas estão sendo adotadas para amenizar os prejuízos causados aos motoristas em função dos últimos reajustes. A empresa informou que está acompanhando os aumentos de preços dos combustíveis nos últimos meses e entende a insatisfação causada pelos seus impactos em todo o setor produtivo. Disse que por isso, tem intensificado esforços para ajudar os motoristas parceiros a reduzirem seus gastos.

Por meio do programa de vantagens Uber Pro, a empresa lançou em 2021, diversas iniciativas e promoções para aumentar os ganhos em todos os tipos de viagem, de curta ou longa distância. Entre as demais vantagens estão o ganho de pontos ao abastecer o carro em determinados postos de combustíveis, preços especiais ao contratar serviços de telefonia, isenção de mensalidades em Vale Saúde, redução de até 50% em mensalidades de academias, entre outros.

“Gasolina consome meu dinheiro”

Irlene Ribeiro Lemos trabalha há 10 anos com vendas de enxovais e faz trabalhos sociais, recolhendo e entregando doações. Ela depende do carro todos os dias para exercer essas duas funções. “Antes eu gastava em média R$ 600 de gasolina por mês, agora gasto R$ 1.000. Eu rodo bastante, preciso levar as encomendas nas casas das clientes, que ficam em bairros distantes da minha casa. Também cuido de muitas famílias, ganho doações como cestas básicas, remédios, e preciso ir buscar nas residências das pessoas e depois tenho que entregar para as famílias que ajudo e que moram em comunidades distantes. Ultimamente tenho tido um gasto grande com isso, porque o carro consome bastante gasolina, e a gasolina consome nosso dinheiro. “não sei onde vamos parar com essa crise”, comentou Irlene.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1277 – 02/09/2021