Uma jornada repleta de memórias, de dificuldades superadas e conquistas compartilhadas. Essa é a história de vida do casal Valdetudo de Alves da Silva, 91 anos, e Ana da Silva, 90 anos, moradores do Jardim Dalla Torre. Eles construíram uma relação sólida, de muito amor e cumplicidade.

Até a chegada da aposentadoria, os dois sempre foram muito batalhadores. Seu Valdetudo trabalhou em uma lavoura de café, depois em uma metalúrgica onde ficou por 14 anos. A dona Ana, quando chegou em Araucária, fazia pão caseiro, salgados, bolos e marmitas para vender em casa mesmo. A filha Eliana (mais nova) ajudava, ao mesmo tempo em que trabalhava fora. Em determinado momento, a produção teve que parar porque elas não conseguiam mais dar conta das entregas.

O casal está junto há 65 anos, se casaram em 26 de dezembro de 1959, na cidade paranaense de Jandaia do Sul. As comemorações dos aniversários de casamento sempre foram ao lado da família, marcadas pela simplicidade. No entanto, quando completaram 50 e 60 anos, respectivamente, a festa foi maior.
A filha Eliana conta que o aniversário de casamento (26/12) é sempre comemorado separadamente do Natal (25/12). “São dois dias de festa para nossa família. O aniversário de 50 anos foi comemorado na Igreja Perpétuo Socorro, com mais de 100 convidados, incluindo familiares do norte do Paraná. Nos 65 anos, a festa foi um pouco mais restrita”, diz ela.

Casados há 65 anos, seu Valdetudo e dona Ana se orgulham de nunca terem brigado
Foto: Divulgação. O aniversário de 65 anos de casamento foi comemorado junto com a família.

A união de Valdetudo e Ana gerou três filhos, sendo duas mulheres e um homem (Maria Aparecida é a mais velha, Claudinei é o filho do meio e Eliana é a mais nova), três netos (dois homens e uma mulher) e uma bisneta.

AMOR À PRIMEIRA VISTA

Seu Valdetudo trabalhava para a madrinha da dona Ana e conhecia os irmãos da futura esposa. Ele é de Pernambuco, da cidade de Bom Conselho, e veio sozinho para o Paraná quando tinha 23 anos. Começou a trabalhar na lavoura de café e morava na casa dos patrões. Primeiramente, ele morou na cidade de Lobato, próximo de Maringá, e depois voltou para Pernambuco. Passado um tempo, retornou para o Paraná e foi para Jandaia do Sul, onde conheceu dona Ana, casou e teve os filhos. “Nessa segunda viagem que fez ao Paraná, meu pai sobreviveu a um acidente de trem que matou várias pessoas”, relembra a filha. Dona Ana veio de São Paulo.

Depois da chegada dos filhos, eles moraram por um tempo no Mato Grosso, onde passaram por muitas dificuldades. “Meus pais foram enganados para comprar um terreno em uma localidade ruim, e ficaram muito doentes, pois na época havia um surto de malária na região. Depois eles voltaram para Jandaia do Sul, trabalharam na fazenda e no alambique. Vieram para Araucária em 1978, porque em 1975 houve uma geada muito grande e matou a lavoura e as condições de trabalho ficaram bem ruins”, relata a filha mais nova.

O CASAMENTO

O pai da dona Ana era contra o casamento e não deixava a filha namorar. O casal se encontrava na casa da madrinha da Ana, patroa do Valdetudo. Em menos de um ano eles se casaram, nem chegaram a namorar. “Eles lembram que no dia do casamento foram comprados 8 sacos de pão e fizeram um churrasco no espeto. Minha mãe sempre nos conta que naquele dia, um pouco antes do casamento, ela tomou banho de rio enquanto lavava as roupas”.

Segundo a filha, os conflitos no casamento foram inevitáveis, mas sempre foram resolvidos pelos pais, de maneira saudável e construtiva. “Em todos esses anos de casamento, nunca vimos eles discutirem e até hoje eles seguem nesse clima de paz. Para os meus pais, essa união sólida vem de compreender um ao outro. Não é um querer ser melhor do que o outro, é ambos quererem ser iguais e se tratarem com respeito e tolerância”.

Nas poucas palavras que disseram durante a entrevista ao Popular, seu Valdetudo disse que se inspirou no exemplo dos seus pais, enquanto dona Ana contou que seu pai era muito rígido e sistemático, e a mãe era muito brava, e por isso não seguiu o exemplo, fez questão de agir diferente com sua família.

“Queremos deixar aos nossos filhos, netos e bisneta, um relacionamento baseado na união, companheirismo, respeito. Sempre os orientamos a sentarem à mesa para conversar, e que jamais um deles queira ser melhor do que o outro”, declara o casal.

Atualmente, as filhas são que cuidam dos pais. Dona Ana precisou fazer uma cirurgia na cabeça, no nervo trigêmeo, entre 1997 e 1998 e hoje em dia tem problemas auditivos, e parte do rosto paralisado. Seu Valdetudo fez uma cirurgia recente e também necessita de cuidados. As filhas se revezam entre a produção de bolos (dom que herdaram da mãe) e a atenção aos pais.

Edição n.º 1480.