Quem nunca sonhou em ter superpoderes? Resgatar cidades, derrotar vilões, atravessar paredes, ser mais rápido que a luz, ter um corpo de aço, a imortalidade dos super-heróis e sobrevoar o mundo com leveza? Parece fantasia infantil, mas, infelizmente, muitos adultos ainda acreditam, inconscientemente, nessa narrativa. Querem se bancar de salvadores em suas vidas e nas dos outros, sem superpoderes, e estão fadados a fracassar miseravelmente. Espiritualmente, a vocação de super-herói vem cheia de maldições.

A caridade e o bem ao próximo foram, por muito tempo, quase que pré-requisitos religiosos para sermos vistos como pessoas boas, tanto por Deus quanto pela Espiritualidade. Hoje em dia, celebridades transformam a filantropia em eventos, campanhas na internet, demonstrando como são altruístas e desapegadas do materialismo. O gesto filantrópico é tão solene que parece merecer holofotes — ainda que venda milhões em publicidade para elas depois. A caridade midiática tem glamour.

No entanto, a questão não é deixar de ajudar o próximo, mas reconhecer seus próprios limites e não se transformar em mártir — afinal, você não é um super-homem.

“Vando, você está incitando o egoísmo?” Longe disso! Quero apenas cortar suas asas, anjo e lembrá-lo de que, para ajudar os outros, primeiro você deve estar firme em sua própria vida. O ato generoso não deve ser confundido com um sacrifício pessoal. Pense naquele momento em que você abandona suas obrigações para ajudar o familiar, o amigo, o cachorro do chefe, o desconhecido, o padre, o pastor, ou a mãe de santo…

Sempre haverá gente boa precisando de ajuda. O problema é que, se toda vez que alguém precisar de socorro você for o primeiro nome lembrado, chegará o momento em que a sobrecarga vai te levar ao adoecimento, à falência, ao divórcio…

Jesus disse: “Ame o teu próximo como a ti mesmo”. Se você não se colocar em primeiro lugar na sua vida e cuidar das suas próprias responsabilidades — pagar suas contas, trabalhar bem, construir bons relacionamentos, cuidar dos seus filhos, ter paz para dormir e acordar com a cabeça tranquila —, o seu martírio em querer ser um super-herói se tornará a sua maior maldição.

No curso básico de bombeiros, uma das primeiras lições é que, para resgatar alguém em perigo, você deve garantir sua própria segurança primeiro. Caso contrário, ao invés de um afogado, teremos dois. Nossa vida é cheia de limitações físicas, emocionais e sociais que precisam ser reconhecidas.

Liberte-se da maldição de ser super-herói. Antes de ajudar alguém, pergunte-se: esse movimento de ajuda coloca algo importante em minha vida em risco? Essa pessoa realmente não tem condições de superar seus desafios sozinha? Minha ação seria uma ajuda real ou apenas uma muleta?

Assumir seu papel de ser humano, com limitações, irá te proporcionar mais leveza e menos dores de cabeça. Quando fizer o bem ao próximo, faça-o de forma consciente — lembre-se de que seu tempo de vida é limitado e precisa ser bem aproveitado. Ao ajudar quem realmente precisa, você viverá com mais harmonia e alegria.

Desejo que sua semana seja um pouco mais “egoísta”! Sigam-me no @tarodafortuna.

Edição n.º 1438.