A história do homem rico e do pobre Lazaro, narrada por Jesus, tem muito a nos ensinar sobre as relações humanas. O homem rico fazia festa praticamente todos os dias, vestindo roupas de púrpura, numa tremenda ostentação. O pobre Lázaro, para não morrer de fome, cheia de feridas, procurava alimentar-se das migalhas que caiam da mesa do rico. Aconteceu que os dois morreram e, lá no alto, se encontraram em lugares totalmente diferentes. Lázaro estava cercado por Abraão, vivendo na glória, enquanto que o rico se encontrava numa situação deprimente, no meio de chamas. Pediu então a Abraão que enviasse Lázaro a fim de molhar a ponta do dedo para refrescar sua língua. E Abraão então lhe disse que isso era impossível, pois os do lado de lá não podiam vir para o lado de cá, e nem os de cá podiam ir ao lado de lá. Suplicou então que enviasse Lázaro para a terra a fim de alertar seus 5 irmãos para mudarem de vida, a fim de não virem também eles para esse lugar aterrorizador. Mas Abraão lhe respondeu dizendo que na terra eles têm Moises e os profetas, e, se não escutam a esses, não acreditarão mesmo que alguém ressuscite dos mortos.

Observemos que o homem rico não tem nome, enquanto o pobre se chama Lázaro. E qual foi o pecado desse homem, para sofrer a condenação eterna? Em nenhum momento se fala que ele tenha roubado de alguém, de ter sido corrupto para conseguir toda a riqueza. Certamente, ele conseguiu tudo com o seu esforço, com o seu trabalho e tinha méritos próprios na aquisição da abundância dos seus bens. O problema desse homem rico foi outro: a indiferença com o sofrimento do pobre Lázaro. Ele, em nenhum momento demonstrou alguma compaixão com o seu sofrimento ou com a preocupação em curar as suas feridas. Ele pensava simplesmente nele próprio, em curtir a vida, em esbanjar tudo o que ele tinha, com festas praticamente todos os dias. Esse foi o grande pecado desse homem, pois, a riqueza em si mesmo não é algo mau ou detestável. O problema é aquilo que ela causou naquele homem rico: indiferença total diante do sofrimento e da pobreza do pobre Lázaro.

O Papa Francisco diversas vezes em suas belíssimas pregações, alertou para o grave problema da indiferença com o sofrimento alheio. Esse é na verdade o grande pecado da humanidade, daqueles ávidos pelos bens materiais, incapazes de partilhar com os mais necessitados. Existem, sim, ricos prestativos, solidários, abertos à questão social e prontos a ajudar a quem precisa. Assim como encontramos pobres que estão carregados de uma grande ganância, fechados em seu próprio mundo. A grande lição que Jesus quer nos passar, quer nos transmitir, é a capacidade de sermos empáticos, cheios de compaixão e ternura com os mais frágeis e sofredores. Vemos, infelizmente, pessoas mais abastadas, ricas, que além da indiferença, demonstram um desprezo e uma espécie de deboche com os mais humildes e sofredores.

Jesus quer tocar no coração de cada um de nós, a fim de que sejamos capazes de sairmos de nossa indiferença, do nosso mundo egoísta, abertos a partilhar com os mais sofredores e necessitados. Quando partilhamos com alegria, fazemos a experiência da gratuidade e da nossa transformação interior. Existe muito mais alegria em dar do que em receber, nos alerta Jesus. Afinal, a vida só tem sentido, quando partilhada.

Edição n.º 1484.