A notícia de que a Prefeitura Municipal desapropriou o campo do Jardim Jatobá, foi recebida com muita alegria pela comunidade. Por muitos anos os moradores vinham lutando para manter o uso do campo, sob ameaça de perderem o único espaço que possuem para o esporte e lazer, e agora estão comemorando essa grande conquista. O Decreto Municipal nº 38.612 foi assinado no dia 7 de novembro, pelo prefeito Hissam Hussein Dehaini, e concede a administração o direito de desapropriar o imóvel de um particular diante de uma situação de utilidade pública e interesse social.
“Esse campo é muito importante pra nós, a história dele se confunde com o início do time do Jatobá. Lembro que por volta de 1990/91 com a construção das primeiras casas, alguns moradores iniciaram também a construção do campo, à base de enxadas, para se tornar uma área de lazer. Com muito suor, o campinho virou nosso grande campo. Na época tinha o Jatobá principal e o segundão. Tempos depois também foi criado o time veterano do Jatobá”, relembra Luiz Tavares, um dos fundadores do time e atual membro da diretoria.
Segundo ele, na sequência da criação da equipe veterana veio a necessidade de um projeto para atender as crianças. “As crianças começaram a jogar futebol com o Seu Didio que depois, por motivos de saúde, se afastou e os treinos pararam por um bom tempo. Então eu, Tavares, assumi e senti a necessidade não apenas de ensinar futebol para as crianças, mas também de organizar toda documentação, com ajuda de voluntários, e foi aí que se criou o projeto De Olho no Futuro, em 2004. Não demorou muito e já estávamos atendendo 130 crianças do bairro”, conta Tavares.
Ele relembra que tudo ia bem, até que em 2007, a empresa que era proprietária do terreno onde aconteciam os treinos, manifestou interesse em construir imóveis no local. “Como eu estava à frente do Jatobá na época, comecei o movimento para que a comunidade não perdesse aquele espaço. Fizemos um grande abaixo-assinado em prol da permanência do uso do campo e ainda entramos com uma ação de usucapião. Isso nos fez ganhar tempo, porque devido ao processo, a empresa não conseguiu construir as casas que pretendia. As audiências foram acontecendo, algumas vencemos, outras perdemos, mas sempre existia o risco de não ganharmos esta ação. Então, paralelamente ao usucapião, começamos uma mobilização para a desapropriação do terreno. Muitos prefeitos passaram e ficaram de nos ajudar, porém nada foi feito. Continuamos resistindo até que, felizmente, essa atual gestão pública olhou para nós. Conseguimos a desapropriação e foi uma vitória merecida para a nossa comunidade, que tanto lutou por isso”, comemorou.
Tavares disse ainda que nesse meio tempo, o Jatobá, já possuidor da utilidade pública municipal, conseguiu ainda o título de utilidade pública estadual. “Também obtivemos o título de Embaixador da Paz, pela Câmara de Curitiba. Com orientação da Prefeitura, agilizamos toda a documentação, comprovando que havia interesse em manter aquele campo de futebol e ali construir um centro esportivo, para dar continuidade ao projeto com as crianças e também atender a comunidade, com atividades de esporte e lazer”, explica Tavares.
Conquistas
O Jatobá Futebol Clube foi crescendo cada vez mais, se destacando e conquistando títulos em campeonatos importantes. “Fomos campeões adulto por quatro vezes e duas vezes campeões com o Sub17. O Jatobá merecia tudo isso porque sempre fez um lindo trabalho e esteve em destaque. Foi campeão com o Veterano duas vezes em 2022 e com o Sub 17 participou da Taça das Favelas 2018/19, uma competição de projeção nacional. Também ganhamos vaga para a Taça Paraná, fomos vice-campeões do Viradão Esportivo em Curitiba 2019, campeões da Liga Desportiva de Araucária 2019 com o juvenil e adulto e estávamos classificados para a Taça Paraná de futebol amador e também para a próxima Taça das Favelas. Com a categoria Sub 11/13 fizemos vários jogos amistosos para incentivar os treinamentos das crianças. Além disso, ainda temos o projeto do óleo usado que vira bola. Nosso trabalho sempre foi feito com muito carinho e dedicação, visando dar oportunidades para as crianças e jovens não apenas do jardim jatobá, mas de comunidades vizinhas como o Arvoredo, Israelense, Industrial e outras. Agradecemos o apoio do poder público, que nos ajudou e também o comércio em geral, que sempre nos apoiaram e patrocinaram os uniformes, lanches e as festas que organizamos para as crianças que praticam futebol o ano todo, nas categorias sub9, sub11, sub13, sub15 e sub17. Muito obrigado a todos!”, finalizou Tavares…
Projetos sociais serão mantidos
A Prefeitura de Araucária justificou que a desapropriação é necessária porque a região onde fica o campo é densamente povoada e necessita de especial atenção por parte do poder público municipal. No bairro existem vários projetos sociais voltados para a comunidade, como o projeto de Olho no Futuro, o projeto do time Veteranos Jatobá Futebol Clube, entre outros.
“É de extrema importância a manutenção deste espaço de lazer, pois ao oportunizar atividades no contraturno escolar para praticar um esporte, os jovens tem a chance de um futuro promissor. A manutenção do espaço também gera reflexos em outras áreas de interesse público, como por exemplo a saúde e segurança da comunidade”, disse o secretário municipal de Políticas Públicas, Geraldo Carvalho.
Ele explicou ainda que o terreno que abriga as atividades dos projetos sociais é particular e a desapropriação para se tornar um espaço público é uma antiga reivindicação dos moradores daquela região. “O Plano Diretor do Município estabelece que a área no imóvel em questão está sujeita a aplicação de direito de compra antecipada, para o esporte e lazer, ou seja, a lei já estabelece que aquela área tem potencial para se tornar um espaço público, por isso a Prefeitura solicitou a desapropriação do imóvel”, explicou Geraldo.
Ainda de acordo com o secretário, por enquanto, o campo continuará a ser utilizado pela comunidade, mas a Prefeitura já estuda a possibilidade de elaborar um projeto para a construção de um centro esportivo naquela área, que atenderá outras necessidades dos moradores. “A ideia é criar um espaço coberto, para incentivar a prática de outras modalidades esportivas, além do futebol”, complementou Geraldo.