Entre os dias 13 e 30 de março foram sepultadas em Araucária oito pessoas em que a causa da morte trazida na certidão de óbito constou como sendo “causas respiratórias”. Destas, duas foram detalhadas como insuficiência respiratória aguda, quatro como pneumonia e outras duas como transtornos respiratórios.
Neste mesmo período também foram registradas na cidade outras seis mortes em que a causa anotada no assento de óbito foi simplesmente “indeterminado”.
Em tempos de coronavírus, o registro da causa da morte como indeterminado ou ligado a síndromes respiratórias acaba gerando medo na comunidade como um todo. Por exemplo, dificilmente saberemos se uma das mortes citadas acima foi causada pelo Covid-19. Isto porque nem todos os pacientes têm sido testados, já que não há exame para todo mundo. Além disso, como a doença em voga é o coronavírus, mesmo que alguns deles tenham sido testados como negativo, haverá quem duvidará do resultado e insistirá com “teorias da conspiração” de a causa foi o Covid-19.
Essas reações individuais, aliás, talvez seja um dos principais desafios que a comunidade local precisará enfrentar em tempos que a convivência com o Covid-19 será praticamente diária. Precisaremos então lidar com o medo, com o desejo de personalizar a vítima da doença, com a necessidade de conter o ímpeto de buscar identificar a todo custo quem foi alcançado pelo Covid-19 ou eventualmente quem acabará falecendo em virtude de complicações geradas por ele.
Nesta quarta-feira, 1º de abril, por exemplo, a Prefeitura de Araucária também informou que uma moradora da cidade testou positivo para o coronavírus. Do sexo feminino, a positivo um da cidade teria contraído a doença em Curitiba, quando participava de uma reunião de trabalho. Na sala também estariam moradores de outras partes do Brasil, alguma delas muito possivelmente já contaminada pela Covid-19.
Ainda conforme a Secretaria Municipal de Saúde, ela começou a sentir sintomas de gripe, procurou o médico, realizou o teste para Covid e se recolheu domiciliarmente, mesmo sem ter sido recebido o resultado do exame.
Enquanto aguardava o resultado, a paciente teve seu quadro agravado e chegou a ficar internada. Melhorou, retornou a Araucária e segue em isolamento, sendo acompanhada por uma equipe de saúde local. Ou seja, boa parte do tratamento ela fez sem a confirmação do Covid, que só saiu na manhã de ontem. Justamente por conta desse “delay” é primordial que as pessoas cumpram a “quarentena” à risca, mesmo estando classificada apenas como suspeita.
Paralelamente, a informação de que a cidade tem um positivo para Covid, também esta semana veio à tona o caso de um morador de Araucária que passou mal durante uma visita aos pais, que moram na cidade de Verê, no sudoeste do Estado. Lá, ele acabou procurando uma UPA no município vizinho, em Francisco Beltrão, e colheu material para Covid. O resultado positivo saiu no dia 30 de março. O grande problema é que, enquanto cumpria o isolamento domiciliar, a pessoa em questão decidiu voltar para casa. Ou seja, quebrou a “quarentena”.
Conforme informações da Secretaria de Saúde, investigação feita por técnicos da Vigilância em Saúde na manhã de ontem com o paciente em questão mostrou que epidemiologicamente as chances dele ter contaminado alguém não existem. Isto, claro, com base nas informações que ele passou.
Porém, como ele teoricamente não cumpriu a orientação de isolamento e tendo em vista que o país está na vigência de uma emergência em saúde, o caso será comunicado à Delegacia de Polícia, a quem caberá analisar se ele cometeu ou não crime.
Texto: Waldiclei Barboza
Publicado na edição 1206 – 02/04/2020