O caso recente de maus-tratos na “escolhinha da tortura”, em Araucária, onde um menino autista de quatro anos foi encontrado amarrado a uma cadeira no banheiro, reacendeu o alerta para a importância do cuidado na escolha e no acompanhamento da vida escolar das crianças, especialmente das atípicas. O episódio, que chocou a cidade, mostrou que práticas abusivas podem ser mais comuns e sistemáticas do que muitos imaginam, e destacou o papel fundamental das famílias na proteção e no monitoramento do ambiente educacional em que seus filhos estão inseridos.

Pensando nisso, a nossa equipe de reportagem conversou com a psicopedagoga Naymin Adami, para destacar as principais orientações para os pais atípicos na hora de escolher e monitorar a vida escolar dos filhos. “Escolher a escola para os filhos pode ser mais simples do que imaginamos. Alguns aspectos tornam-se fundamentais quando falamos de instituições de ensino. É importante buscar uma escola com metodologias assertivas e que estejam dentro das perspectivas da família, que garantam através dos documentos pedagógicos e da legislação que os alunos terão, além de uma boa infraestrutura, seus direitos garantidos, bem como suas especificações, no caso de alunos atípicos. Conhecer a estrutura pedagógica e inclusiva da escola com base em documentos e práticas já realizadas é fundamental”, orienta a psicopedagoga.

Naymin também orienta que os responsáveis questionem abertamente quais métodos, abordagens e práticas inclusivas a escola adota. Escolas preparadas para receber alunos com necessidades específicas não apenas devem garantir a inclusão verdadeira, mas precisam ter mecanismos para monitorar e documentar o desenvolvimento e as vivências desses estudantes, além de investir continuamente na formação dos professores e demais colaboradores. Quando essas ações são bem fundamentadas teoricamente, refletem um compromisso que vai além do discurso e se traduz em atitudes concretas no dia a dia.

Ela ainda reforça que o comportamento da criança costuma ser o principal indicativo de como ela se sente no ambiente escolar. “Mudanças abruptas, como isolamento social, descontrole emocional, choro excessivo, agressividade, apatia ou qualquer alteração significativa sem causa aparente, são sinais de alerta que não devem ser ignorados, principalmente quando o aluno não consegue verbalizar o que está vivendo”, adverte.

Ao mesmo tempo, Naymin afirma que generalizar fatalidades como se todas as escolas representassem riscos não é saudável. “Vale ressaltar que o extremismo também não é saudável, a fatalidade de uma escola não pode ser generalizada, tornando todas as outras uma zona de risco. Por isso a importância de uma presença significativa da família na vida escolar de seus filhos”, finaliza.

RELEMBRE O CASO

Um garotinho de 4 anos, autista e não verbal, foi encontrado amarrado em uma cadeira, pelos pulsos e pela cintura, dentro do banheiro da escolinha Shanduca, pelas equipes da Guarda Municipal e do Conselho Tutelar após uma denúncia de maus-tratos. O caso aconteceu no dia 7 de julho.

No dia seguinte (08), mais uma denúncia contra a escolinha, dessa vez envolvendo uma menininha de apenas 3 anos, veio à tona. Bruno Incott, pai da criança, recebeu a foto da filha presa pelas mãos com fita adesiva. Na imagem, ela aparece dormindo amarrada na cadeira e com a cabeça encostada na parede.

No dia 10 de julho, o Conselho Municipal de Educação (CME) decidiu, por unanimidade, cassar em definitivo a autorização de funcionamento do Centro de Educação Infantojuvenil Shanduca.

Edição n.º 1474. Maria Antônia.