Certa vez estive numa sessão de psicografia na Casa Espírita João Ghignone, em Campo Largo (PR), e jamais esquecerei a cena: centenas de pessoas se aglomeravam ali, vindas de vários estados do país, na esperança de receber uma cartinha de um ente querido já falecido, redigida pelo médium da ocasião.

Nunca havia participado de uma reunião espírita desse tipo, e confesso que achei fascinante. Havia ali um oceano de emoções — pessoas enlutadas, abraçadas pela dor, pela saudade e, acima de tudo, pelo amor.

Na fila, conheci uma senhora de Santa Catarina que havia perdido o filho, um jovem esportista, de maneira súbita. Ela estava esperançosa de que, naquela noite, alguma mensagem chegasse dele.

O grupo espírita explicou que o processo é completamente imprevisível: por mais que muitas pessoas desejem receber uma carta, são os espíritos que escolhem quando e para quem ela será enviada. “O telefone toca de lá para cá”, disseram, e não o contrário.

E para minha surpresa, aquela mãe que conheci na fila foi uma das contempladas. O médium, após escrever diversas mensagens, iniciou a leitura das cartas. Quando pronunciou o nome do filho dela, todos se emocionaram. A mensagem era de uma intimidade comovente — parecia uma conversa de dentro de casa.

Entre as frases, o filho dizia:

“Mãe, vejo que você ainda guarda o meu uniforme do time naquele lugar. Cuida dele como se eu fosse usá-lo de novo. Mãe, doe-o. Basta para mim o seu amor. Não precisa mais me honrar através desse objeto.”

Foi impossível conter as lágrimas. A força daquele reencontro, ainda que entre mundos diferentes, tocou a todos que estavam presentes.

Naquele dia compreendi que a psicografia é a faculdade mediúnica pela qual o espírito utiliza a mão do médium como instrumento para ditar uma mensagem. É como se o médium se tornasse uma impressora da alma — transmitindo, pela escrita, o que vem do plano espiritual.

Lembro que fiquei tão impressionado que, ao chegar em casa, segurei uma caneta por horas, olhando para os lados e chamando, entusiasmado:

“Ei, alguém aí quer escrever alguma coisa? Eu empresto minha mãozinha…”

A página, claro, permaneceu em branco. Descobri que não era médium psicógrafo — e aprendi, com os estudos das obras de Allan Kardec, que cada ser humano possui faculdades específicas de mediunidade.

Alguns são sensitivos, outros empáticos, videntes, intuitivos, psicógrafos, telepáticos… Não basta apenas querer: cada existência traz seus próprios canais espirituais, que podem aflorar em diferentes fases da vida.

Alguns descobrem suas faculdades mediúnicas ainda na infância; outros, após os 40; e há aqueles que só as percebem na maturidade, lá na terceira idade. Tudo acontece conforme o tempo da alma e a necessidade evolutiva de cada um.

Espero que você tenha vislumbrado um pouco da beleza e da profundidade da psicografia. Nos próximos textos, quero conversar sobre outros tipos de mediunidade que encontrei ao longo dos meus dez anos mergulhado no Espiritualismo — inclusive sobre algumas que descobri em mim.

Edição n.º 1488.